O sanjoanense está de saco cheio!
Esdras
Apesar da grande onda de progresso que aporta em São João da Barra, o município ainda conserva muita coisa inusitada, mas também figuras populares e profundamente conhecedoras da sua realidade. Como o radialista Emilson do Amaral, seguramente o maior formador de opinião daquele município. Em entrevista à revista Somos, edição atual nas bancas, o comunicador fala sobre a política local, a sistemática invasão dos microfones do seu programa na Rádio Barra FM, pelos vereadores de oposição, e faz uma detalhada análise do que está acontecendo em São João da Barra e traça um perfil de cada vereador da oposição. Trechos da entrevista  de Emilson Amaral, Barra FM, à Revista Somos desse domingo Somos: Como você avalia o serviço que estes quatro vereadores estão prestando a São João da Barra? Emilson: Eu posso assegurar uma coisa que, talvez, vá surpreendê-los. Eu acho que eles buscam, cada qual, servir a sua comunidade, seus colégios eleitorais, como aquela pessoa que presta serviço à comunidade no interior para conseguir voto. Eu não duvido que o Gersinho faça atendimento médico, como ele disse que faz, à pessoa que precisa de emergência. Eu não duvido que o Camarão tenha um trabalho assistencial, de ver o que as pessoas precisam... Entretanto, na questão macro, que é a questão hoje de São João da Barra... Camarão Somos: Mas isso que você falou não é função de vereador, é função eleitoral. A função do vereador é legislar, na Câmara, em prol do município. Vamos fazer um “apanhado” dos quatro. Como você avalia a atuação de Camarão? Por que ele está tão nervoso? Emilson: Eu acho que o Camarão tem problemas que ele, só ele, pode dizer. Somos: Da atuação como político, não pessoal. Emilson: Da atuação dele como político, o cidadão foi candidato ao lado da prefeita, não ganhou a eleição. Ele tinha do lado dele o time do Kaká, vieram todos juntos pra cá. O Camarão é daqui, mas viveu muitos anos no Rio. Veio pra cá e o time do Kaká veio junto. Trabalharam juntos. O Camarão ficou chefe de gabinete da prefeita há muitos anos, por muito tempo, no primeiro mandato. E quando chegou a época da reeleição, houve alguns problemas, problemas estes... um eu sei bem, que foi a questão do time de futebol profissional... Somos: Ele diz que foi lá na secretaria de Esporte, onde era sub... Emilson: Se ele era sub, ele tinha poderes, também, lá, mas ele assinava como chefe de gabinete. Era a função oficial que ele tinha. E tinha pessoas dele, lá, cuidando da questão do esporte. Então, houve problemas com esse time, na questão da prestação de contas do recurso que a prefeitura disponibilizou para que o time pudesse se movimentar. Somos: A prestação de contas de verbas começou a azedar? Emilson: Talvez tenha sido esta a razão, eu não sei se foi. Mas você sabe política como é que é... Você sabe que Câmara, com o poder executivo, há uma necessidade de ter uma afinidade muito grande. Essa afinidade, a interpretação vai de cada um, até onde pode ir essa afinidade... Somos: Afinidade com quem? Emilson: Entre prefeitos e vereadores. Entre o Poder Executivo e o Poder Legislativo. Aqui, a coisa ficou “azeda” durante muito tempo. Mas teve um período bom que não azedou. E eu sempre perguntei por que este período não azedou. Foi aprovada a lei considerando a região do 5º distrito de utilidade pública, que foi feita no dia trinta e um de dezembro. No ano seguinte, essa lei começou a ser questionada. E aí, o que eles fizeram? Somos: Fizeram uma lei transformando em áreas de interesse ambiental? Emilson:E derrubando a outra lei. A prefeita foi lá, no direito dela, e vetou. Eles poderiam derrubar o veto, como foi feito no orçamento no final do ano. Não. Acataram o voto da prefeita, referendaram. Aí eu deixo uma pergunta no ar: Por quê? Por que, se, naquele dia, tinha tudo isto para poder atender aos cinco... Eles poderiam, simplesmente, vetar, e eles referendaram o voto da prefeita. Ou seja, confirmaram, apoiaram o voto da prefeita naquela oportunidade. É uma coisa que eles dizem que foi a pedido dos produtores. Então, os produtores é que meteram os pés pelas mãos, que erraram? distrito “...Hoje em dia tem muita gente que já era para estar morando em São João da Barra e está morando em Campos. Muito simples. Campos tem, hoje, uma espinha dorsal de estrutura muito melhor do que a nossa. Só não enxerga quem não quer. Então, o cidadão vai ficar daqui a Campos em vinte minutos de automóvel, buscando um imóvel aqui custando os olhos da cara? Você vai a Campos, hoje, e acha aluguel infinitamente mais barato do que aqui. Com escolas variadas, de opção, com hospitais particulares e públicos, para você ter muito mais condições. E São João da Barra brigando por quê? Você sai daqui hoje, a gente pega a estrada, vamos até ao Açu, vou te mostrar as áreas que já estão desapropriadas, as áreas que podem ser desapropriadas, e te mostro que 90% dessas áreas são areia pura. O que nasceu ali nasceu nativo. Nunca foi plantado nem cultivado nada. Só que...  Se você for a uma reunião de produtor, verá que só tem vinte ou trinta produtores rurais”... Os 4 Cavaleiros “Aqui, a coisa vai muito mais além do que simplesmente a questão política, do que a questão administrativa. Existe, hoje, uma Câmara Municipal... Frankis, Kaká, Camarão e Gersinho. Gersinho, PMDB, Camarão, PPS, Frankis e Kaká, PDT. Os quatro em partidos que tem a situação complicada de sobrevida até para pensar em ser candidato. Agora: ou ficam, para ficarem sujeitos a não serem candidatos, ou saem, na condição de que podem perder o mandato. Eles estão vivendo um momento extremamente delicado... Invasão na Rádio Somos:Parece transparência demais. Eu nunca vi em lugar nenhum alguém falar que vereadores pudessem invadir o estúdio de uma rádio, pegar o microfone. Isso é uma coisa que só ouço falar de São João da Barra. Emilson: A situação é a seguinte. Nós somos uma rádio comunitária. A legislação de rádio comunitária permite à pessoa que quiser o direito de falar. Mas, aqui dentro, nós já fomos ofendidos, como na última vez que aconteceu, e eu preferi me retirar do estúdio... Somos: Por que vocês permitem essa invasão, essa coisa sem programação, sem um ofício ou solicitação do espaço? Emilson: Para que não fique colocado, sob hipótese nenhuma, que a gente cerceia direitos... Somos: Mas isso abriu um precedente... Parece que está ficando normal, aqui, os vereadores virem e ocuparem a rádio na hora que querem. Nós, da mídia, estranhamos isso, mesmo a rádio sendo comunitária, que a coisa seja feita dessa forma ditatorial. Emilson: Mas nós fomos à polícia, fizemos o registro do episódio, levando, inclusive, o maior libelo da nossa defesa, que é a gravação de tudo o que se passou aqui. Somos: Da sua defesa ou da sua queixa? Emilson: Da defesa da rádio a respeito do que eles acusam a gente. Somos: Eles que foram dar queixa? Emilson: Nós fomos, mas eles já têm lá alguma coisa contra nós, também. Inclusive, na justiça daqui, também, que já chegou... Eu ainda não sei o teor. Mas sei que tem tanto na Justiça, quanto na Polícia Civil da nossa cidade... Profissão Radialista - Barbosa Lemos vendia ovos Somos: Desregulamentaram a profissão. Emilson: E eu nunca vi radialista com profissão regulamentada. Se fosse por isso... O ex-prefeito Betinho faz programa de rádio. E o Barbosa Lemos? Eu conheci o Barbosa Lemos quando ele era papiloscopista! Somos: Eu conheço desde que ele era camelô... Emilson: Ele trazia ovos de Carrapato. Ele é de uma comunidade chamada Carrapato, que hoje é a Nova Belém. Somos: Barbosa vendia ovos? Emilson: Vendia ovos. Eu acompanhei a história de Barbosa. O próprio deputado hoje, Garotinho, estudou comigo no colégio Bittencourt, separaram a gente porque os ânimos não davam certo, e ele brigava contra os três mosqueteiros de Alair, na época. E até hoje ele faz rádio, ele sabe disso. Eu sou competente no que eu faço. Eu faço rádio de uma maneira que as pessoas crêem no que eu falo... Gersinho Somos: E Gersinho, do mesmo partido da prefeita fazendo oposição radical a ela...? Emilson: Se eu for falar pra você exatamente aquilo que a gente ouve falar do Gersinho, vão dizer assim: “Ah, porque o Emilson é ‘contra’”. Eu prefiro não comentar. Sabe por quê? Porque o Gersinho... ele participou de uma pesquisa que foi feita com a rádio Ultra, quando a rádio Ultra estava no ar, e ficou evidente a participação de duas pessoas, e era a própria voz dele: uma como Cláudio Alvarenga e uma como Cláudio Cruz. E era o próprio Gersinho votando nele mesmo. Então, eu não gostaria de ter de fazer qualquer comentário... Alexandre Somos: A gente estava falando dos vereadores. O Alexandre... ele era, ele foi, ele voltou. Como você vê essa flexibilidade toda? Emilson: Você sabe por que o Alexandre voltou? O Alexandre sentiu o peso do que aconteceu no verão. Quando chegou na questão orçamentária, que tinha vinte e tantas emendas, vinte e nove emendas, ele começou... E ele fala isso porque ele sustenta isso em qualquer lugar. Ele, reunido com o grupo, disse: “Gente, vamos tirar algumas emendas daqui, vamos deixar passar, porque está bem fundamentado...”. E ele foi voto vencido em todas elas. “Não, deixa pra Justiça...”. Quer dizer, ele assumiu o ônus, sozinho, do desgaste do verão, por ele ser daqui, por ser o vereador mais votado da pedra... Ele acabou tendo que ficar com esse desgaste. Porém, o desgaste maior ele sentiu quando veio o Carnaval. O Alexandre foi carregado nos ombros por diversos anos, ovacionado pelo público, como presidente do Congos, como colaborador de todos os blocos de embalo que saem. Este ano, onde tinha o nome do Alexandre Shop, que é o comércio dele, tiveram pessoas que passaram tinta em cima. Ele olhava pras pessoas, as pessoas olhavam pra ele, e ele ia pra tentar cumprimentar, as pessoas se desviavam dele. Então, quem fez o Alexandre mudar de lado foi o povo. Não foi político nenhum, não. Ele sentiu isso na carne, sozinho. Foi aonde ele fez o quê? Saiu. Ao sair, a prefeita abriu as portas pra ele. Ele disse que ia ficar independente e, ao começar a ser assediado, ele percebeu que ia precisar, também, de um respaldo pra poder não ficar sozinho na situação em que ele estava. E acabou sofrendo a agressão física, e sofre agressões verbais até hoje. Muitas... Não são poucas, não. Somos: Essa decisão do Alexandre, foi uma decisão firme? Emilson: Para tomar a atitude que ele tomou, estava realmente numa situação assim: “Eu vou me acabar politicamente do jeito que eu estou.”. Parece-me que ele é um ser iluminado, politicamente falando, porque ele pulou no momento certo... Ser vereador deve ser bom... Somos: Vereador em São João da Barra ganha muito? Afinal, eles não trabalham tanto assim... Emilson: Nesse aspecto. Pra que pudessem trabalhar mais e, em nada que pudesse denegrir a imagem deles, é como a polícia, que precisa ter um salário digno, pra não ter que fazer bico e, muitas vezes, nesse bico, fazer coisa errada... Somos: Qual o custo de uma campanha para vereador em São João da Barra? Emilson: Tem vereador que gastou o que ele não ganharia de salário nos quatro anos. Somos: E por que querem tanto? Emilson: Essa é a pergunta que não quer calar. Por que o cidadão gasta tanto para ser vereador, se ao longo de quatro anos não vai recuperar o dinheiro? NOTA DO BLOG: A entrevista do radialista Emilson Amaral é longa e exclarecedora, os trechos acima são apenas uma pequena parte e não estão na ordem em que foram feitas as perguntas. A entrevista completa foi publicada na edição da revista Somos Assim desse domingo, nas bancas.
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