Chão de promessas
paulavigneron
megaphone-40679_960_720   Anda-se, diariamente, ao lado das promessas de vereadores. Espalhadas pela cidade, gritadas por carros, reafirmadas por fogos e jingles clichês. Combinações pensadas para que as canções criem vida própria na cabeça do cidadão. Caminhar por uma rua, no período eleitoral, é se debater com pessoas, pedras, poeira, papéis – oferecendo desde serviços de pais de santo para sorte no amor a palavras de político sobre a possibilidade de um futuro melhor, caso seja eleito. Propagandas quase nunca lidas e descartadas, indiscriminadamente, no asfalto das principais vias. Os bairros tomados por rostos, números e expressões. Por tentativas de um sorriso simpático ou por olhares sérios para assegurar o compromisso com a população. À frase “porque, no meu mandato...”, segue-se uma enxurrada de ideias, ideologias, críticas ao concorrente, projetos – que, muitas vezes, de antemão, o eleitor compreende a impossibilidade de realização –, mais críticas e novas promessas. A alguns nomes, são acrescentados cômicos bordões e apelidos para explicar melhor a que vem o proponente: “Candidato da Família”, “Educação é a Solução”, “da Bicicleta”, “do Carro”, “Defensora dos Animais”, “do Povão”, “Gadernal (sic)”, “A hora é agora”, “É Ser Humano”, “Uma Nova Esperança”e “Vai (sic) Dá Zebra”. O termo “Pastor” antecede o nome de determinados candidatos. Homens e mulheres de todas as idades se misturam em um painel político-religioso banal e, por vezes, conservador ao qual é necessário recorrer para que 359.323 eleitores escolham seus representantes. Entre eles, “Desodorante” também concorre ao cargo. Surgem, também, pedidos de consciência política ao votar. Cuidado ao selecionar o número que teclará nas urnas. Conhecimento sobre propostas. Mas poucas propostas efetivas são conhecidas. Fala-se em melhorias básicas, como saúde, educação e saneamento. Superficialmente. Vídeos de reuniões veiculam pelas redes sociais, com apoio da sociedade e pedidos de votos. Orações recorrentes a Deus para a conquista da vitória. Fotografias de caminhadas e carreatas. Em certos momentos, fora do âmbito político, a atuação dos cidadãos soa mais relevante. Diversas pessoas planejam e executam ações para melhorias na cidade. Cultura, meio ambiente e projetos sociais – que sobrevivem mais por amor à causa do que por apoio público, como a ONG Orquestrando a Vida – são preocupações de muitos que optam por permanecer definitivamente distantes da competição eleitoral. Diante das exigências de consciência política no momento da votação, contraditórias devido à predominância de tantos discursos líquidos e ações isoladas, resta a dúvida sobre a possibilidade de definir com seriedade.
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Paula Vigneron

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