Diagnóstico da Saúde local
Dora Paula Paes 18/08/2017 16:44 - Atualizado em 21/08/2017 16:34
José Roberto Crespo
José Roberto Crespo / Paulo Pinheiro
O diagnóstico da rede de Saúde de Campos mostra duas realidades diferentes, uma rede privada completa e pronta para atender e uma rede pública que não suporta demanda crescente. A rede hospitalar particular e conveniada é referência no interior do Estado, com um quadro de mais de 1.300 médicos de todas as especialidades. Na outra ponta, 90% da população do município, que não para de crescer, dependente da rede pública estagnada no decorrer dos últimos anos. Para o presidente do Sindicato dos Médicos de Campos, José Roberto Crespo, é preciso transformar este cenário. “É preciso vontade política com investimentos nos Programas de Atenção Básica, na tentativa de minimizar a sobrecarga do atendimento da Urgência/Emergência”, ressalta.
Folha da Manhã — Como presidente do Sindicado dos Médicos de Campos, ninguém mais do que o senhor seria capaz de fazer um diagnóstico da saúde no município. Qual o quadro?
José Roberto Crespo — Campos possui uma rede de Saúde Pública composta de dois (2) hospitais públicos (Hospital Ferreira Machado e Hospital Geral de Guarus) e quatro (4) hospitais conveniados ao Sistema Único de Sáude-SUS (Santa Casa de Misericórdia, Beneficência Portuguesa, Hospital Escola Álvaro Alvim e Hospital dos Plantadores de Cana), que atendem tanto pacientes do SUS quanto pacientes particulares e de convênios. A rede privada é composta de três (3) hospitais gerais (Hospital Dr. Beda, Hospital da Unimed e Prontocardio), além de várias clínicas especializadas. O que vemos hoje é que estamos com deficiência de leitos hospitalares, pois todas essas unidades se encontram com sua capacidade instalada no limite de sua lotação, gerando muitas vezes insatisfação da população.
Folha — Campos é referência na área médica no interior do Estado. É possível dimensionar esse universo e o benefício para a população?
José Roberto — Isso é uma verdade! Temos um quadro de profissionais (em torno de 1.300 médicos), nas suas mais diversas áreas com formação técnica de qualidade, trazendo segurança a todos que procuram atendimento.
Folha — Quanto à rede pública (municipal e estadual) que, atende a maior parte da população de Campos e da região e o Hospital Ferreira Machado é referência, qual a sua avaliação? O que falta para atender melhor aos que não têm como buscar a rede particular?
José Roberto — A rede pública vem sofrendo, ao longo da última década, um descaso por parte dos governos, com uma política de investimento em saúde aquém de suas necessidades. No caso de Campos, como polo regional, muitos pacientes procuram os nossos serviços nas suas mais diversas especialidades. Como cerca de 90% da população depende do atendimento público e com o crescimento populacional da região, essas unidades ficaram insuficientes na sua estrutura física, necessitando então de investimentos urgentes na abertura de novos leitos. O Hospital Ferreira Machado é a referência em urgência e emergência para o nosso município e região, com estrutura física e instalações de cerca de 60 anos, que já não comportam as demandas de seus serviços, gerando uma superlotação com pacientes sendo atendidos inadequadamente. Para transformar este cenário, é preciso vontade política com investimentos nos Programas de Atenção Básica, na tentativa de minimizar a sobrecarga do atendimento da Urgência/Emergência.
Folha — E os profissionais atuantes nas duas redes (municipal e estadual) estão atendidos, assim como, a população?
José Roberto — Há um sucateamento na rede, que vem de muitos anos, com unidades em péssimo estado de conservação. Sabemos que Saúde custa caro, mas é importante dizer que as novas tecnologias têm salvado muitas vidas e esse é o objetivo maior do médico: Salvar, Curar... É claro que poderíamos estar com unidades em melhor estado, com isso oferecendo melhor atendimento, mas hoje existe uma insatisfação tanto dos profissionais (com as condições de trabalho) quanto dos usuários (com a qualidade do atendimento).
Folha — Existe uma corrente e um anseio envolvendo a questão da humanização do atendimento médico. Os que defendem dizem que é extremamente benéfica aos envolvidos e pode ser parte de uma estratégia maior para alcançar mais eficiência nas unidades de saúde. O senhor concorda? Que tipo de corrente o senhor defende?
José Roberto — Acho que a humanização deve fazer parte do nosso trabalho. Na formação profissional a relação médico-paciente é primordial. O Ministério da Saúde tem um Programa Nacional de Humanização de Assistência a Saúde (PHAS), que tem como diretrizes principais o respeito a especificidade de cada instituição, cooperação entre as mesmas e troca de experiências visando melhoria de qualidade na assistência. Humanizar a assistência à Saúde é dar lugar não só a palavra do usuário, mas ao profissional, de forma que tanto um quanto o outro possam fazer parte de uma rede de diálogo. Assim, a ética, o respeito, o reconhecimento mútuo, a solidariedade e a responsabilidade são os pilares que sustentam boa relação médico-paciente-instituição.

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