Humanizar entre dor e alegria
18/08/2017 16:36 - Atualizado em 21/08/2017 16:33
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Quem já assistiu ao filme “Patch Adams – O Amor é Contagioso”, quando o ator Robin Williams (morto em 2014) interpretou um estudante de medicina com umas “ideias” diferentes da academia vai entender a relação médico-paciente, que poderia ser a ideal, mas também cheia de dor. A questão da humanização da saúde não é uma polêmica de agora.
Universidades, médicos, enfermeiros e estudantes de medicina estão atentos a esse clamor. Empatia de futuros doutores e políticas públicas deficitárias são colocadas em xeque também, na abordagem da questão. Nos últimos anos, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) vem, através dos seus mestres, desenvolvendo trabalhos e pesquisas nesse campo. Muito já foi colocado em prática e descoberto. Mas a discussão é ampla; ultrapassa os muros das universidades.
Cada médico à sua maneira tem visão própria sobre o chamado atendimento “humanizado”. A campista, especialista em Infecções e Doenças Pré-Neoplásicas Genitais do Casal, doutora na Unicamp, mestre em Ginecologia pela UFRJ e autora de vários livros na sua área, Cláudia Jacynto, é uma delas e abriu um espaço na agenda concorrida para falar sobre o assunto.
Um dos trabalhos da Unicamp focou no resgate da empatia perdida ao longo de tantos plantões e jornadas intermináveis dos alunos de medicina que, segundo a pesquisa, “ocorre no sexto ano, quando os alunos são induzidos a atender pacientes fictícios, representados por uma companhia de atores da própria universidade”.
A experiência, que começou em 2010, vem ensinando ”novos olhares” a centenas de alunos. Na ocasião, a pesquisa constatou também que 94% dos alunos envolvidos na pesquisa consideraram que sua capacidade de ouvir o paciente havia evoluído; 91% acreditavam que a capacidade de ouvir outra pessoa também melhorara. A experiência pedagógica foi publicada na revista “Academic Medicine” e tem sido apresentada em vários congressos médicos internacionais de lá para cá.
Inicialmente, a proposta de atendimento humanizado passa pela atenção ao paciente, como um todo, desde a psique à fragilização em decorrência dos casos, além do tratamento orgânico. Também anda em voga a questão do parto “humanizado”, o que para alguns especialistas há um exagero a ponto de ser confundido com parto domiciliar. “Quase uma ditadura do parto normal e em alguns casos com a marginalização aos pacientes que escolheram a cesariana, o que não deve acontecer”, diz Cláudia Jacynto.
Artigo
A sangria da humanização
Humanização em saúde é algo amplo, mas a comunicação é fundamental para o estabelecimento da dita humanização, assim como as condições técnicas e materiais! Não temos estrutura para trabalhar adequadamente! Quanto material levei para trabalhar no SUS (Sistema Único de Saúde)!
Mas humanizar é, sobretudo, permitir a palavra aos usuários, que no SUS vemos até a dificuldade dos mesmos em se expressar, pelo baixo nível de educação e escolaridade, o que muito nos entristece, mas temos que deixá-los livres e destemidos para falarem, pois parece que eles têm medo de falar o que sentem e o que os aflige, pois estão acostumados a serem destratados e oprimidos desde pelo guarda da porta, pelo atendente, pelo enfermeiro... até chegar ao médico, que muitas vezes o vê, mas não o enxerga.
Os usuários do SUS são muitas vezes invisíveis como indivíduos, por isso agradecem tanto que emocionam quando não fazemos mais que nossa obrigação em atendê-los em sua totalidade, como ser humano!
Temos, portanto, que manter a boa comunicação, que é a base da dita humanização da saúde. Cabe a nós percebermos em que linguagem conseguiremos isto, dependendo da criatura como um todo diante de nós!
É uma arte saber atender bem, mesmo que tenhamos que ser rápidos no SUS, mas nos comunicando, ouvindo, trocando e aliviando a dor paciente. Todos os profissionais de saúde, construindo uma rede de diálogo com o paciente e lembrando de ser gentil.
Para que esse processo ocorra é necessário o envolvimento do conjunto que compõe um serviço de saúde, que compreende profissionais de todos os departamentos, gestores, formuladores de políticas públicas, além dos conselhos profissionais e instituições formadoras. Portanto, a dita humanização é uma política ampla de atendimento em saúde, onde envolve boa qualidade técnica e profissional, estrutura decente para se trabalhar e todo pessoal capacitado!
Estamos longe de atingir este sonho num país tão podre e individualista como o nosso, onde os políticos roubam aos borbotões o dinheiro que daria estrutura aos ambulatórios e hospitais, assim como para os profissionais de saúde se formarem bem e atenderem de forma “humanizada” (me parece pleonasmo, pois penso que este sempre foi o objetivo de um médico, já que não somos veterinários) no SUS deste imenso Brasil, enquanto nosso povo sofrido padece nas imensas filas à espera de um atendimento básico, mínimo, enquanto ele merece pelo menos que o enxerguemos e o ouçamos com suas queixas, mazelas, doenças e sofrimento à procura de um pequeno alívio para tamanha dor!
Nosso povo é guerreiro! Com migalhas se contenta e agradece com um grande sorriso, uma reza, uma banana ou um bombom uma pequena consulta ou uma grande cirurgia, quando não fazemos mais que nossa obrigação enquanto profissionais de saúde com eles.
Mas agradecem também porque percebem o sofrimento desses mesmos profissionais trabalhando com improvisações sem a menor estrutura, pelo caos na saúde que vivemos nesse momento.
Não só na saúde... É nosso país que está doente pela desumanização maciça da corja de seus governantes!
Por Cláudia Jacynto, doutora na Unicamp, especialista em Infecções e Doenças Pré-Neoplásicas Genitais do Casal e mestre em Ginecologia-UFRJ

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