Feijoada com muito ritmo
Celso Cordeiro Filho 24/05/2019 19:49 - Atualizado em 27/05/2019 10:42
As atenções hoje (26), a partir das 13h, estão voltadas para a tradicional Feijoada da Folha, no Espaço Versailles, na Pecuária, que este ano homenageia os 100 anos de Jackson do Padeiro. No Brasil cuja principal festa popular é o percussivo Carnaval, onde uma caixinha de fósforo é sinônimo de samba e um prato de cozinha instrumento de batuque, ser considerado o Rei do Ritmo, convenhamos, não é pra qualquer um.
Ainda assim, o franzino paraibano, de nome José Gomes Filho, natural de Lagoa Grande, pobre, negro e analfabeto até os 35 anos de idade, contrariando o futuro que lhe estendia as mãos, transformou as batucadas do seu destino. Tomou de assalto a cena musical brasileira e, deixando para trás o swing de nomes como Wilson Simonal e Jorge Ben e tantos outros mestres do balanço, recebeu, com méritos, a concorrida alcunha de Rei do Ritmo.
Quando o cantor, compositor e ritmista paraibano convidou a comadre Sebastiana para dançar e xaxar na Paraíba, em 1953, ano em que o artista lançou a gravação original do coco “Sebastiana”, o nordeste do Brasil ganhou um novo rei. Conquistou o título pela habilidade rara de brincar com os tempos musicais, pela manemolência no toque do instrumento incorporado ao nome artístico desse cantor-músico e pela divisão singular com que repartia cocos, xaxados, rojões, emboladas, baiões, frevos e sambas.
Jackson do Pandeiro, como mais tarde ficaria conhecido José Gomes Filho, alcançou tal prestígio não apenas por dominar como poucos o instrumento que lhe empresta o sobrenome artístico, mas, também, e principalmente, por sua singularidade ao interpretar canções que viriam a definir a essência rítmica do cancioneiro nordestino.
“Esse artista tinha uma característica de divisão métrica dentro da música que é inato. Nem ele conseguia explicar. Pegava uma frase melódica, com tempo e marcação definidos e saia quebrando isso o tempo todo. Às vezes adiantando, às vezes atrasando, mas sempre ao final coincidindo com os acordes da música. Essa brincadeira que o Jackson fazia com a voz e com as músicas é algo realmente impressionante. O grau de sofisticação, a técnica que ele usava e ao mesmo tempo a intuição, que é aquela coisa natural que vinha espontaneamente e nunca se repetiu e provavelmente nunca se repetirá porque dificilmente surgirá outro como ele”. A afirmação é do jornalista Fernando Moura, que ao lado do também jornalista Antônio Vicente, lançou em 2001, pela Editora 34, a biografia do músico, intitulada “Jackson do Pandeiro, o Rei do Ritmo”, que apresenta a vida e a obra do músico desde o seu nascimento em 1919, até a sua morte, quase no ostracismo, em julho de 1982.
Moura, que demorou oito anos até concluir o livro, realmente tem razão, Jackson transitava do forró ao samba, passando por todos os seus subgêneros, como o baião, xote, xaxado, coco, arrasta-pé, frevo, em fim, tudo que tivesse batuque, com extrema autenticidade, imprimindo uma nova cadência aos ritmos que, já no início do século XX, se apresentavam como a base sonora por qual seguiria a música popular brasileira nos anos seguintes. Sua discografia compreende mais de 30 álbuns lançados no formato LP em 29 anos de carreira artística.
A 28ª Feijoada da Folha da Manhã tem como patrocinadores Águas do Paraíba, Grupo MPE, Empresa Brasil, Porto do Açu e Nova Canabrava e apoio da Imbeg, Rogil Tour, RadMed, Cerveja 1500 e SupeBom. Ainda a participação de AndaCampos, Cultura Inglesa, Vodka Kovak, Cachaça 7 Engenhos, ProntoCardio, Abertura Promoções e Performa Ambiental.

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