Passinho: das favelas para o asfalto! Em Campos-RJ, mais de 500 jovens colocam a cidade em beats!
Tostes 28/12/2015 13:57
  Passinho no Clube Rio Branco- aniversário do projeto - foto Thaís Tostes (1) - Cópia Mais que um estilo de dança, mais que uma nova forma de dançar o funk carioca, o passinho surge como uma expressão periférica, uma linguagem da juventude (em sua maioria, negra e de classe baixa), uma forma de adolescentes e jovens mostrarem que nem toda cultura é uma cultura de consumo (ainda bem!). O cineasta brasileiro Emílio Domingos captou esse fenômeno no documentário “A Batalha do Passinho”, de 2013, que mostra como o passinho ultrapassou todas as fronteiras e se expandiu para além dos bailes e das favelas. Em Campos, são 500 adolescentes e jovens (que possuem de 12 a 24 anos) que mandam muito na arte do passinho. Eles são de locais como Ponta da Lama, Cambaíba, Conselheiro Josino, Ururaí, Tapera, Pecuária, Eldorado, Parque Prazeres, Parque Califórnia e Goitacazes (dentre outras áreas geográficas) e se reúnem sempre às sextas-feiras, na Praça da Lapa, para colorir a cidade cinza com muito ritmo, beats, alegria e estilo. Os meninos — e meninas — que dançam passinho em Campos já se reuniam antes de integrarem esse projeto que engloba os 500: o projeto “Um passinho para mudança”, coordenado por Rodrigo do Passinho. [caption id="attachment_191" align="alignnone" width="640"]DSCN8861 - Cópia - Cópia Festa de aniversário do projeto "Um passinho para mudança", neste mês de dezembro, no Clube de Regatas Rio Branco, em Campos-RJ. (Foto: Thaís Tostes)[/caption] — Fiz algumas reuniões com eles, ouvi suas histórias, suas indignações. Eles contavam que a polícia não gostava quando eles dançavam na Praça São Salvador; achava que a dança tinha relação com o crime. De todos os lados, eles eram bombardeados e sofriam muito preconceito. Então, eu disse pra eles que faria o que pudesse pra mostrar que o passinho é um movimento cultural muito positivo. Quando eu falava com as pessoas que estava com um projeto de jovens, ouvi muitos ‘nãos’. Mas não desanimei. E hoje, o projeto é um sucesso! O passinho subiu no Teatro Municipal, no Rio (um teatro onde a pessoa não pode entrar com bermuda e camiseta), com os meninos sem camisa, de bermuda e descalços. Uma vitória da periferia! — contou Rodrigo. Ficou combinado que o passinho só subiria no palco do Teatro Municipal do Rio caso 50% dos ingressos fossem vendidos. Não apenas a venda dos 50% foi alcançada, senão que os ingressos esgotaram. Em Campos, depois de muitas barreiras, o passinho passou a lotar a Praça São Salvador, a mesma praça de onde os adolescentes e jovens foram expulsos em um momento anterior, por preconceito. “A sociedade critica muito, e ajuda pouco. O jovem está acostumado a ser criticado o tempo inteiro — ele sempre é tratado de forma agressiva. E todos os movimentos de periferia (como o graffiti, o rap, o break) foram mal recebidos pela elite, mas depois a elite abraça essas culturas e se acaba nelas. É a favela ocupando o asfalto!”, disparou Rodrigo, explicando como surgiu o nome do projeto: “’Um passinho para mudança’ porque é um passo que esses adolescentes e jovens — negros, pobres, moradores de favelas — dão para a mudança de suas realidades, para outras oportunidades”. Passinho no Clube Rio Branco- aniversário do projeto - foto Thaís Tostes (2) - Cópia “Um passinho para mudança” surgiu de 2013 para 2014 e completou, nesse mês de dezembro, dois anos. No início do mês, o projeto comemorou seu aniversário, com uma mega festa que rolou no Clube de Regatas Rio Branco, no centro de Campos, onde os meninos do projeto arrasaram, dividindo o palco com os gatos do grupo “Os Fantásticos do Passinho”, da capital fluminense. “É muito mágico esse mundo! Os meninos do projeto estão com a autoestima lá em cima!”, afirmou o coordenador de “Um passinho para mudança”. No Brasil, além d’Os Fantásticos do Passinho, é um grupo de grande referência nessa arte o Dream Team do Passinho. Esses adolescentes e jovens não precisam de muito para mostrarem a força dessa expressão cultural periférica. Eles ocupam as comunidades e praças com o simples som que um aparelho de telefone celular consegue emitir. Também fazem apresentações — em vários locais, incluindo eventos de socialites — e dão aulas de passinho. O adolescente Jozinhox Fantástico, de 18 anos, morador da Comunidade da Linha, de Campos, por exemplo, integra o grupo “Love Manha do Passinho”, de Campos, e já ensina essa arte para crianças e adolescentes de 50 Cras (Centros de Referência de Assistência Social) do município. É a cidade toda em beats! — Eu comecei no passinho vendo vídeos de Internet, no Youtube; vídeos de garotos dos morros cariocas dançando. Eu já dançava hip hop. Fui interagindo com colegas que dançavam passinho e aí rolou tudo. A minha maior referência, de dançarinos, é o Gambá. Eu colocava o som no celular e dançava na praça. Aprendi a base do passinho e passei a criar o meu próprio passo. Dou aula em muitos Cras e ainda faço shows! — contou.   [caption id="attachment_196" align="alignnone" width="800"]O grupo Dream Team do Passinho, após show no Festival Amanhecer Contra a Redução, contra a redução da maioridade penal, que rolou neste ano de 2015, na Ptraça XV, no Rio. Foto: Festival Amanhecer Contra a Redução O grupo Dream Team do Passinho, após show no Festival Amanhecer Contra a Redução, contra a redução da maioridade penal, que rolou neste ano de 2015, na Praça XV, no Rio. Foto: Amanhecer Contra a Redução[/caption]   [caption id="attachment_195" align="alignnone" width="960"]12341077_534236666743742_9210692520852914270_n Meninos d'Os Fantásticos do Passinho (RJ), na festa de aniversário do projeto "Um passinho para mudança" - Foto: Thaís Tostes[/caption] [caption id="attachment_195" align="alignnone" width="960"]1935864_539288146238594_7612988805805505631_n Os Fantásticos do Passinho (RJ), na festa de aniversário do projeto "Um passinho para mudança" - Foto: Thaís Tostes[/caption]  

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