Delegado Executivo do Estado de Santa Catarina Dr. Paulo Cassiano Abrindo a Boca Para Marco Barcelos
mabamestrado 25/11/2014 16:31
  • Dr. Paulo Cassiano, como o Sr. analisa o atual cenário político-criminal do Brasil, com tantas denúncias e apurações de corrupção? Seria um recrudescimento da corrupção ou uma maior engenharia de investigação?
  Vejo com tristeza o cenário político do nosso país. Há suspeitas e denúncias de corrupção por todos os lados. Isso ajuda a criar um sentimento social de que a corrupção é um mal impossível de ser controlado, o que não é verdade. Penso que a corrupção aumentou no Brasil. A Bíblia diz que no final dos tempos a impiedade cresceria, e que muitos homens se sujariam cada vez mais. Essa profecia está sendo cumprida, e os valores morais estão sendo desmanchados. Paralelamente a isto, na última década a atuação da Polícia Federal tornou-se mais agressiva e eficiente, o que fez com que muitos esquemas de corrupção tenham sido desbaratados. Não podemos esquecer também que vivemos num tempo de liberdade de imprensa, o que permite que todos esses fatos sejam divulgados, a todo momento, em diversas mídias. Isso contribui também para o aumento da percepção social da criminalidade.    
  • Dr. Paulo Cassiano, tendo em vista sua mudança de Estado da Federação, quais são as nuanças que diferenciam, criminalmente, o Estado do Rio de Janeiro do Estado de Santa Catarina?
  O estado de Santa Catarina tem uma população mais escolarizada e não foi submetido a um modelo de colonização tão predatório. De maneira geral, isso reflete diretamente numa maior consciência de cidadania, numa melhor ocupação do espaço público e num maior respeito à legalidade. Não se vê por aqui tanta incidência de crimes eleitorais de compra e venda de votos como no Rio de Janeiro, por exemplo. Mas ainda assim há muitos desafios a serem enfrentados na criminalidade local, sobretudo nos delitos ambientais, de corrupção e de tráfico de drogas.    
  • Dr. Paulo Cassiano, como o Sr. analisa a escalada de fatos que vem à tona nos esquemas de corrupção da Petrobras, notadamente beneficiados, em tese, pelo instituto da delação premiada?
  Ao lado do mensalão, a Lava Jato é a mais importante operação da história da Polícia Federal. Não tenho conhecimento do inquérito policial, mas, pelo que sei, a investigação pode render ainda novos fatos. Considero lamentável esse esquema de corrupção na Petrobrás, que sempre foi uma das empresas mais respeitadas pela população brasileira, um verdadeiro patrimônio da nação. Mas a Polícia Federal está prestando um serviço de extraordinária importância para o Brasil, pois não é possível tolerar a corrupção em qualquer nível.    
  • Dr. Paulo Cassiano, falando neste instituto, o Sr. é a favor ou contra a delação premiada?
Sei que a delação premiada desperta alguma polêmica, pois o Estado estimula comportamentos antiéticos por parte das pessoas. O disque-denúncia, amplamente adotado pelas polícias estaduais em todo o país, parte também do mesmo princípio quando oferece alguma recompensa em dinheiro em troca de informações que levem à captura de criminosos. Por outro lado, se não fosse pela obtenção de benefícios processuais, muito provavelmente os delatores não entregariam o esquema de corrupção na Petrobrás. As informações prestadas pelos delatores têm sido fundamentais e valiosíssimas para o êxito das investigações.
  • Paulo Cassiano, poderia listar para nossos leitores as medidas que tem sido implementadas no sentido de fortalecermos nossas fronteiras, a fim de tentar coibir a entrada de armas ilegais em nosso território?
    A Polícia Federal é o órgão de segurança pública responsável pela fiscalização das nossas fronteiras. Apesar do investimento em inteligência policial feito nos últimos anos, os recursos humanos da instituição são muito limitados para o patrulhamento e o controle de uma faixa de fronteira tão extensa como a nossa. O efetivo da Polícia Federal em 2014 é o mesmo de trinta anos atrás! Precisamos de mais investimentos do governo para tornar a Polícia Federal ainda mais forte

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