Paraíba reencontra o mar em São João da Barra
Camila Silva 07/03/2020 21:17 - Atualizado em 24/03/2020 19:45
Folha da Manhã
Foram meses de agonia até que um rio fraco cedesse a sua foz para uma extensa faixa de areia na divisa dos municípios de São João da Barra e São Francisco de Itabapoana. Com a vazão e o nível baixos durante o período de estiagem, lamentos e denúncias relacionados ao rio Paraíba marcaram o ano de 2019. Mas a situação mudou. Após um verão com alto volume de chuvas e cheias que causaram danos em diversas cidades da bacia que o compõe, o mês de março reservou um alento para pesquisadores e observadores do Pontal de Atafona: o reencontro da água do rio com o mar. Segundo dados do Comitê do Baixo Paraíba, que monitora o rio na sua passagem pelo Norte e Noroeste do estado do Rio de Janeiro, em 11 de agosto de 2019, o rio teve a menor vazão do ano, com 191 m³/s (metros cúbicos por segundo). Na última sexta, 6 de março de 2020, a vazão chegou a 3.330 m/s².
— A pressão d’água chegou ao limite crítico para romper a barra arenosa. As areias sempre estão se movendo e isso foi determinante para o fechamento da Barra em setembro. Naquele momento as ondas e as correntes promoveram o crescimento do pontal em direção ao norte, se conectando à ilha da Convivência. Na época eu disse que provavelmente a Barra abriria com as cheias do verão, pois a pressão gerada por uma vazão mais forte acabaria promovendo esse rompimento. Que bom que isso aconteceu — explicou o pesquisador e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Eduardo Bulhões.
Para o ambientalista Aristides Soffiati, ainda não é possível a passagem de barcos no local, porque, no momento, apesar do fluxo intenso, o local ainda está raso. “A tendência é que com esse fluxo, o rio diminua, pois a vazão agora acontece na foz e não só em Gargaú, mas ainda é cedo para falar. Foi uma abertura da natureza, não foi uma ação do homem, foi algo natural”, comentou.
— Quando a maré baixou, o rio estava muito alto então pegou uma correnteza muito forte para mar. Com a força, o rio abriu a barra de Atafona. Foi uma ação da natureza: o volume de água do rio fazendo pressão sobre volume na água do mar — explicou o presidente do Comitê do Baixo Paraíba, João Siqueira.
O superintendente Portuário e Industrial de São João da Barra, Victor Aquino, postou um vídeo em seu perfil no Facebook comemorando a volta da foz.
— Com a força da natureza e uma pequena ajuda do homem, voltamos a ter uma foz. Bom dia meu paraíso de Atafona — frisou Victor.
Sem previsão de intervenções em Atafona
A área do Pontal de Atafona é objeto de admiração, mas também de preocupação. Para tentar evitar a erosão que sofre o rio em época de estiagem, além da invasão da água do mar e a intrusão salina, alguns projetos são discutidos para o local. Uma ação de desobstrução e desassoreamento em dois trechos do rio Paraíba do Sul deve ser realizada a partir de um convênio de cooperação entre a Universidade Estadual de Rio de Janeiro (Uerj) e a Prumo Logistica no final de 2018.
A Prumo informou que a fase de estudos e monitoramento ambiental foi concluída pela UERJ e atualmente o escopo de execução das obras está em fase de análise e contratação.
Segundo o município de São João da Barra, ainda não há previsão de início das ações pois a “Porto do Açu recebeu as propostas técnicas e comerciais, porém o cenário atual é de cheia no rio Paraíba do Sul, não cabendo tais intervenções para o momento”.
Também são discutidos dois projetos para contenção do mar em Atafona. Em 2014, o primeiro foi apresentado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Hidroviárias (INPH) ao então prefeito de São João da Barra, José Amaro Martins de Souza, Neco. Ele prevê a construção de um quebra-mar e tem valor estimado em R$ 180 milhões. Em abril de 2019, um novo projeto, que prevê a transposição de areia para a praia como solução, foi discutido em audiência pública. A obra não criaria estrutura fixa e custaria cerca de R$ 20 milhões. A prefeita Carla Machado falou na ocasião, que o município poderia pagar sem precisar de recursos dos governos federal e estadual. O município informou, em nota, que as alternativas de projetos permanecem em análise no Ministério Público Federal (MPF).

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