Amar é...
bethlandim 29/04/2016 22:03

                             

A definição romântica do amor está fora de moda. O amor verdadeiro em sua definição romântica foi rebaixado a diversos conjuntos de experiências vividas pelas pessoas, nas quais referem-se utilizando a palavra amor. Hoje é muito fácil de se dizer “eu te amo”, pois não existe mais a responsabilidade de estar mesmo amando, a palavra amor foi rotulada de uma forma, em que as pessoas nem sabem direito o que sentem, não conseguem definir uma diferença entre amor e paixão, por exemplo, e mesmo assim utilizam incorretamente esta palavra, que perdeu sua importância.

A sociedade atual está criando uma nova ética do relacionamento, os relacionamentos estão cada vez mais fragilizados e desumanos. A confiança no próximo está cada vez mais próxima de terminar definitivamente. Os seres humanos estão sendo usados por eles mesmos. As relações terminam tão rápido quanto começam, as pessoas pensam terminar com um problema cortando seus vínculos, mas o que fazem mesmo é criar problemas em cima de problemas.

Amar é querer “gerar e procriar”, nos diz o sociólogo polaco Zygmunt Bauman e assim o amante “busca e se ocupa em encontrar a coisa bela na qual possa gerar” ... não é ansiando por coisas prontas, completas e concluídas que o amor encontra o seu significado, mas no estímulo a participar da gênese dessas coisas. O amor é afim à transcendência... Os seres humanos têm medo de sofrer e pensam que não mantendo uma relação estável e duradoura, irão parar de sofrer ou diminuir a dor, trocando de parceiros, amigos, namorados, noivos, etc. O sofrimento e a solidão são os principais problemas para as pessoas. Os seres humanos estão sendo ensinados a não se apegarem a nada, para não se sentirem sozinhos.

A nossa sociedade moderna, não pensa mais na qualidade, mas sim na quantidade, quanto mais relacionamentos eu tiver, melhor, quanto mais dinheiro tiver, melhor. O consumismo é muito grande e as pessoas compram não por desejo ou necessidade, mas por impulso e isso ocorre também nas relações humanas. Outro problema que está na sociedade atual é a insegurança. Para sentirem-se seguras, as pessoas preferem se “encontrar” pela internet do que pessoalmente, assim, quando quiserem, podem apagar o que haviam escrito, ou simplesmente deletar um contato e facilmente dizer adeus. Para as pessoas de hoje sentirem-se seguras, precisam ter sempre uma mão amiga, o socorro na aflição, o consolo na derrota e o aplauso na vitória e isso nem sempre iria ocorrer caso tivessem as mesmas pessoas ao seu lado. No momento em que o outro não lhe dá a segurança que tanto precisa, logo o mesmo é esquecido e substituído.

O parentesco é o laço irredutível e inquebrável. É aquilo que não nos dá escolha. A afinidade é ao contrário do parentesco. Voluntária, esta é escolhida. Porém o objetivo da afinidade é ser como o parentesco. Entretanto, vivendo numa sociedade de total descartabilidade, até as afinidades estão se tornando raras. As pessoas precisam sentir que são amadas, ouvidas e amparadas, ou precisam saber que fazem falta. Ser digno de amor é algo que só o outro pode nos classificar. O que fazemos é aceitar essa classificação. Mas, com tantas incertezas, relações sem forma - líquidas - nas quais o amor nos é negado, como teremos amor próprio? Os amores e as relações humanas de hoje são todos instáveis, e assim não temos certeza do que esperar.

Relacionar-se nos dias atuais é caminhar na neblina sem a certeza de nada. O romantismo do amor parece estar fora de moda, o amor verdadeiro foi banalizado, diminuído a vários tipos de experiências vividas pelas pessoas as quais se referem a estas utilizando a palavra amor. Noites descompromissadas de sexo são chamadas “fazer amor”. Não existem mais responsabilidades de se amar, a palavra amor é usada mesmo quando as pessoas não sabem direito o seu real significado.

Finalizo este artigo com as palavras de Bauman...

"Para ser feliz há dois valores essenciais que são absolutamente indispensáveis... um é segurança e o outro é liberdade. Você não consegue ser feliz e ter uma vida digna na ausência de um deles. Segurança sem liberdade é escravidão. Liberdade sem segurança é um completo caos. Você precisa dos dois... Cada vez que você tem mais segurança, você entrega um pouco da sua liberdade. Cada vez que você tem mais liberdade, você entrega parte da segurança. Então, você ganha algo e você perde algo..."

Com afeto,

Beth Landim

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