Contraditório
Marcos Almeida 17/08/2013 12:57

Mais uma matéria daquelas ditas sensacionalistas  que confunde muito mais que esclarece, e após o impacto inicial, retorna para o seu devido lugar. Vivemos na era da informação onde raras são as que geram conhecimento e são relevantes. A citada revista, que é de grande impacto, visto ser consumida por uma parcela considerável de "formadores de opinião", a meu ver, perdeu uma grande chance.

Tive a curiosidade de comprar - sou ex-assinante,  por estas e por outras... - e vi várias definições que não fazem sentido. Como um dos exemplos cito a questão da gordura que é passada como uma fonte de difícil metabolismo (no momento que escrevo, o meu organismo usa e abusa desta fonte de energia); outra, onde tentam mostrar que atividade física não é prazerosa, que tem que ser rápida. Ora, a ciência nos diz que para a liberação de Opiáceos naturais como a beta-endorfina e a serotonina é necessário um tempo maior na duração do exercício, nos proporcionando o tão valorizado prazer e bem estar.

Bem, para corroborar com a minha falácia, compartilho bacana trabalho de compilação do Prof. Msc. Angelo G. Dias (aqui), dando fortes subsídios para a matéria em questão. Lembrando para os mais animados, a clássica frase: nem tudo que reluz é ouro.

Prof. Msc. Marcos Almeida

Não existe treino milagroso. Não existe uma dieta mágica. Não existe a REVOLUÇÃO DOS MÚSCULOS como escreveu a REVISTA VEJA.

A reportagem foi superficial, subestima a inteligência de praticantes experientes e profissionais e engana os iniciantes. É bastante irresponsável dizer para que joguemos fora todo o conhecimento que a ciência do exercício físico desenvo...lveu até hoje. É totalmente descabido o fato de relacionar benefícios fisiológicos de maneira tendenciosa a um tipo de exercícios, quando na verdade o leque é muito maior e se estende a outros mais. A mensagem que passa é - o que se prescreve há tempos por profissionais de Educação Física competentes, não está mais correto. Pode-se afirmar que 7 minutos de exercícios físicos é melhor do que manter-se sedentário. Porém, a chamada da reportagem não ajuda em nada sobre o que profissionais responsáveis do mercado estão tentando construir para a sociedade - uma população mais ativa. Não queremos mexer somente com o corpo das pessoas, mas sim com a cabeça delas. Queremos ajudar as pessoas a gostarem do processo do exercício e não somente do resultado final. Já aprendemos que isso não funciona. Além das confusões técnicas, a mensagem da VEJA reforça que exercício é chato e que precisa ser praticado no tempo mais curto possível. Na verdade ele não é. Acredito que a palavra mais coerente seja DESSERVIÇO. Sim, essa foi minha sensação ao ler a reportagem. Uns constroem e outros destroem. Escrever coisas sensacionalistas de maneira efêmera para vender mais revistas, pode comprometer a responsabilidade. Perderam a oportunidade de colaborar com a sociedade.

(Fábio Saba)

2-

Olá Amigos ! Excelente posicionamento do Prof. Fabio Saba sobre a matéria de capa da Revista Veja - A REVOLUÇÃO DOS MÚSCULOS! Segue algumas considerações sobre a referida matéria, inclusive - "Os exercícios rápidos e intensos que estão mudando (quase tudo nas academias" Oba-oba....DE NOVO!Treinamento Intervalado de Alta Intensidade (HIIT) fantástica recomendação da VEJA como alternativa de treinam...ento para emagrecer, ficar em foram!!!!quantas pessoas que estão se exercitando são capazes de realizar essas propostas "muito adequadas para atletas de alto rendimento". Em momento algum a matéria se dignou a falar sobre a importância de uma avaliação prévia, dos riscos de lesões decorrentes de treinamento da altíssima intensidade. E recentes pesquisas descobrimos que somente 16% dos alunos ingressantes são capazes de realizar corretamente um agachamento com o peso do próprio corpo...caros amigos, estamos brincando com a prescrição de treinamento, a maioria das pessoas tem pouca mobilidade e estabilidade, coordenação motora e consciência corporal, níveis muito abaixo do recomendado - necessitam de exercícios básicos de intensidade e complexidade compatíveis com as capacidades funcionais...por conta da forma física excelente, baixa quantidade de gordura recomenda-se exercícios para poucos. QUE PENA...falar de exercícios numa revista de impacto nacional é muito bom porém deve ser levado em conta vários aspectos... (Mauro Guiseline) 3-

Tá bom pessoal, vamos à Veja!

Desde que comecei a estudar eu confesso que fui obrigado a parar de ler certas revistas e assistir determinados programas, pois já estava desenvolvendo uma úlcera por estresse e corria sério risco de infartar...no meio de algumas matérias. O maior problema de determinados veículos é que as informações chegam com muito atraso e com muitos erros, normalmente impulsionadas por motivos não tão nobres. Mas vamos ao caso específico. O uso de atividades intensas e de curta duração é muito antigo, por exemplo, Zatopek popularizou o treino intervalado nas Olimpíadas de 1952 em Helsinque, e há relatos que esse tipo de treino já era usado há mais de um século. No entanto, é bom ver que a informação, enfim, chega ao grande público, mesmo que com qualidade e atraso preocupantes. Alguns pontos sobre a matéria: - logo de cara já tem um erro comum, pois não existe diferentes tipos de hipertrofia, portanto não se pode falar em aumento desproporcional de sarcoplasma e miofribilas (Gentil, 2011). - a gordura não é uma fonte de difícil metabolismo, muito pelo contrário ela é mobilizada até mesmo quando estamos em repouso. Dizer que poucas atividades queimam gordura seria o mesmo que queimar todos os princípios do metabolismo energético. - a gordura perdida preferencialmente é a da região abdominal (Murphy et al., 2012; Chaston et al., 2008; Mayo et al,. 2003) e a matéria afirma que a gordura abdominal seja a última reserva de energia do seu corpo. A última reserva que seu corpo utilizará são as proteínas!!! - não existe artigo científico sobre o protocolo de 7 minutos de Klika e Jordan e seria bom ficar claro que eles são personal trainers e não cientistas ou pesquisadores - o Human Performance Institute é uma empresa de treinamento em diversas áreas e para diversas pessoas (atletas, militares, empresários...) e não um centro de pesquisa em exercício. - o estudo usado para dizer que o método eleva o metabolismo por 72 horas não pode ser usado para isso. Kilka e Jordan não realizaram estudo algum, eles citam um estudo de Heden et al. (2011) no qual se realizou um circuito com 10 exercícios (leg press, mesa flexora, flexão plantar, supino, puxada, desenvolvimento, rosca direta, extensão de cotovelos, flexão de tronco, extensão de tronco) com 10 repetições máximas de cada um na cadência 4020, o que levou 16 minutos para ser concluído. Ou seja, não tem nada a ver com o protocolo em termos de sobrecarga, velocidade, duração, tipo de exercícios, etc. - o método de 7 minutos é legal para um sedentário, mas terá benefícios limitados e de curta duração, por carecer de boas possibilidades de progressão de intensidade. Não resolverá a vida de ninguém! Um bom professor cria um treino melhor dentro do mesmo tempo - o kettlebell é de origem europeia e foi popularizado na Rússia lá pelo século XVII, essa história de sino de boxeador é novidade pra mim e para qualquer estudioso. Ah, e o popularizador dele foi o russo Pavel Tsatsouline, e não o tal do Ferris, que é um desses gurus da moda. - Por falar em Ferris, dizer que é dele a ideia de reduzir o volume de exercícios chega a ser ofensivo. Se eu fosse falar de alguém falaria de Arthur Jones, o criador do HIT que já falava "less is better" há mais de meio século - o GH não é liberado para recuperar os músculos após o exercício, ele é liberado durante o exercício em uma resposta associada ao estresse metabólico (Gentil, 2011) Esses são alguns pequenos detalhes. Pode parecer ruim... e na verdade é ruim sim, mas já vi coisas piores! No geral, a matéria é válida por falar da "novidade" dos treinos curtos e intensos e gostei especialmente a parte que fala dos perigos dos esporte de longa duração. Para os professores fica o alerta de se manterem informados pois os alunos querem informação, se nós não dermos, ele vão buscar em outro lugar. Para os alunos, procurem buscar informação de qualidade e, na dúvida, consulte seu professor! (Paulo Gentil) Chaston TB, Dixon JB. Factors associated with percent change in visceral versus subcutaneous abdominal fat during weight loss: findings from a systematic review. Int J Obes (Lond). 2008 Apr;32(4):619-28 Gentil, P. Bases Científicas do Treinamento de Hipertrofia. 4 edição. Rio de Janeiro, Sprint, 2011 Heden L, Lox C, Rose P, Reid S, Kirk EP. One set resistance training elevates energy expenditure for 72 hours similar to three sets. Eur J Appl Physiol. 2011; 111 (3): 477–84. Mayo MJ, Grantham JR, Balasekaran G. Exercise-induced weight loss preferentially reduces abdominal fat. Med Sci Sports Exerc. 2003 Feb;35(2):207-13. Murphy JC, McDaniel JL, Mora K, Villareal DT, Fontana L, Weiss EP. Preferential reductions in intermuscular and visceral adipose tissue with exercise-induced weight loss compared with calorie restriction. J Appl Physiol. 2012 Jan;112(1):79-85

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    Sobre o autor

    Marcos Almeida

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    Marcos Almeida é assessor esportivo, especialista em Ciência da Musculação e mestre em Ciência da Motricidade Humana.

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