A SÓS
lucianaportinho 10/12/2012 14:58
[caption id="attachment_5381" align="aligncenter" width="512" caption="Olympia, René Magritte - 1948"] [/caption]
luciana portinho

Nascer é susto. Viver é vida. Morrer é solidão. E não pensem que ao falar isso sou infeliz ou triste até. Não, nada disso. Sou imensamente feliz com o milagre de minha existência. Demais ter nascido no meu tempo e espaço e ainda do jeitinho que vim. Aprecio o nome que me deram. Prosa de minha trajetória. Alegre das minhas amizades, ao meio dos incontáveis sentimentos de bem que me cercam. Um simples sorriso na face do outro toma forma de um buquê em minhas mãos. A cada dia me deparo com vozes doces, dizeres agradáveis de boca que até pouco não conhecia. Curto de montão meus colegas de batente; os de hoje, os de ontem e tenho convicção de que os de amanhã. Os sonhos me habitam, neles dou-me pausa. Meus descendentes, tão belos. Todos saudáveis donos de uma amada vitalidade peculiar. Meus ascendentes, quanto orgulho deles em mim guardo. Da minha pátria, só verde exaltação. Nasci de uns portinhos confortáveis na grana e vastos no conhecimento. Uma gente movimentada, de paladar apurado, esbelto na arte e porreta na luta política. Um clã tão sentimental quanto discretíssimo. Tenho uma irmã única, de correta vale por ela, vale por mim. Sei em mim a pulsação do mundo. Choro pelo espectro da perda que ronda o meu amigo. E o vejo mal em sua dor. E a sua dor então é minha e, por isso, daqui choro. Nessa merda de solidão que nos cabe, contida entre o nascer, viver e morrer.

   

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