Curvas Perfumadas...
bethlandim 17/12/2012 11:23

Quando cortas uma flor para ti, começas a perdê-la...

Porque murchará em tuas mãos e não se fará semente para outras primaveras. Quando aprisionas um passarinho para ti, começas a perdê-lo... Porque não mais cantará no bosque para ti nem criará outros passarinhos em seu ninho! Quando guardas teu dinheiro começas a perdê-lo... porque o dinheiro não vale por si mas pelo o que com ele se pode fazer. Quando não arriscas tua liberdade para tê-la começas a perdê-la... Porque a liberdade que tens se comprova quando te atiras optando e decidindo! Quando não deixas partir o teu filho para a vida, começas a perdê-lo... Porque nunca o verás voltar para ti livre e maduro. Aprende no caminho da vida a paradoxal lição da experiência: sempre ganhas o que deixas e perdes o que reténs. Grandes artistas obtiveram o melhor das suas obras nos grandes momentos de aflição e dor. Faça o mesmo! Construa-se e reconstrua-se sempre, perfumando a sua alma e as almas que trilham as mesmas trilhas que você, como nos diz Drummond com tanta propriedade:

“Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta. De sol quando acorda. De flor quando ri. Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede que dança gostoso numa tarde grande, sem relógio e sem agenda. Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça. Lambuzando o queixo de sorvete. Melando os dedos com algodão doce da cor mais doce que tem pra escolher. O tempo é outro. E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende de ver. Tem gente que tem cheiro de colo de Deus. De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul. Ao lado delas, a gente sabe que os anjos existem e que alguns são invisíveis. Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo. Sonhando a maior tolice do mundo com o gozo de quem não liga pra isso. Ao lado delas, pode ser abril, mas parece manhã de Natal do tempo em que a gente acordava e encontrava o presente do Papai Noel. Tem gente que tem cheiro das estrelas que Deus acendeu no céu e daquelas que conseguimos acender na Terra. Ao lado delas, a gente não acha que o amor é possível, a gente tem certeza. Ao lado delas, a gente se sente visitando um lugar feito de alegria. Recebendo um buquê de carinhos. Abraçando um filhote de urso panda. Tocando com os olhos os olhos da paz.Ao lado delas, saboreamos a delícia do toque suave que sua presença sopra no nosso coração. Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa. Do brinquedo que a gente não largava. Do acalanto que o silêncio canta. De passeio no jardim. Ao lado delas, a gente percebe que a sensualidade é um perfume que vem de dentro e que a atração que realmente nos move não passa só pelo corpo. Corre em outras veias. Pulsa em outro lugar. Ao lado delas, a gente lembra que no instante em que rimos Deus está conosco, juntinho ao nosso lado. E a gente ri grande que nem menino arteiro. Tem gente como você que nem percebe como tem a alma Perfumada! E que esse perfume é dom de Deus.”

E assim, perfumando vidas e caminhos, seguimos sempre, pois todo caminho da gente é resvaloso. Mas também, cair não prejudica demais - a gente levanta, a gente sobe, a gente volta!... O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem, nos diz Guimarães Rosa.

Coragem que vimos de formas exuberantes e inovadoras, através das sábias curvas do tempo que o grande arquiteto Oscar Niemeyer nos deixou como legado. Com ele aprendemos a ser modernos sem deixarmos de ser antigos, enfim, aprenderemos a ser eternos. Niemeyer acentuou as formas femininas do planeta Terra. Seu coração é o círculo, sua linguagem é a curva.

O homem atravessa o tempo e é por ele atravessado, vive seus conflitos e contradições. Niemeyer nos faz pensar no Brasil e perguntar o que temos para o mundo. A renovação do sonho humano, um paraíso na Terra, a genialidade mestiça, a igualdade nas diferenças, um novo convívio com a natureza, novas conjugações do verbo amar? Já demos à luz uma arquitetura universal, que expressa esses ideais. O mundo é outro depois das curvas de Niemeyer. Se o século 20 pôs a obra humana na tela e a natureza como moldura, porque não dirigimos as curvas persistentes de Niemeyer para além da rigidez do aço e do cimento, na volta ao caminho natural do cuidado com a vida? Que em nós, num novo mundo possível, Niemeyer seja ainda mais vivo.

Há apenas dez dias da comemoração do Natal, temos tempo ainda para interagir com o perfumar das nossas almas, com as nossas construções e reconstruções para 2013 que se achega, com as curvas do caminho que podemos e devemos traçar e retraçar, enfeitando e alegrando almas que conosco percorrem as trilhas do caminhar.

E você? Como vai o seu repensar. Tire seu tempo enquanto é tempo. Reflita, se reposicione diante de vida que espera de você o melhor. Faça a sua parte na construção de um mundo mais humano e acolhedor e será capaz de sentir, com muita propriedade, que os ventos que levam as energias positivas são os mesmos ventos que trazem o perfume e a esperança para as nossas almas...

Com afeto e perfume,

Beth Landim

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