"Ler é mais importante do que estudar"
lucianaportinho 25/11/2012 21:59
No segundo dia da 7ª Bienal do Livro de Campos, a manhã foi marcada pela presença da criançada das escolas do município. Desde cedo, alunos e professoras formaram fila para assistir ao bate papo com o cartunista Ziraldo. Muitos, por sinal, carregando algum livro dele.  Pacientemente, esperaram por cerca de uma hora, pois mais uma vez o evento sofreu atraso. Em um auditório cheio e inicialmente ruidoso, Ziraldo, com um bebê no colo, entrou ovacionado de pé pela plateia. “Chegar aqui e ver esta mobilização tão grande, ver que as pessoas guardaram cartazes e livros com autografo meu feito 15 ou 12 anos atrás, me esperando, me emociona. Nunca me acostumo com isso”, disse. [caption id="attachment_5299" align="aligncenter" width="450" caption="Ft.Phillipe Moacyr"][/caption]

 

Aos 80 anos, na plenitude de um vigor crítico, o cartunista permanece o irreverente de antes. Gentil ao se referir à cidade de Campos, que conheceu há algumas décadas. Compara a cidade  a outros famosos lugares do planeta cortadas por rios. “Esta cidade é muito linda, cortada por um rio lindo. É uma cidade que nos deixa todos orgulhosos. Depois da Capital, é mesmo muito especial. E percebo o crescimento, antes era o canavial e agora, como cresceu”, exclamou. Como de costume em suas palestras e andanças pelo Brasil, Ziraldo leva o nome de sua cidade natal, Caratinga, Minas Gerais. “Por onde passo tem sempre um maluco de Caratinga na plateia. Quando fiz 80 anos, Caratinga fez uma festa para mim. Na ocasião, cinco mil crianças desfilaram divididos em batalhões, cada um fantasiado com um de meus personagens infantis. Foi fantástico, assisti do palanque chorando. Na minha infância, era uma cidade cheia de pomares, nossa distração maior era pegar fruta no quintal dos outros”, lembrou. Ele esclarece que seu nome é fruto da originalidade paterna, que fundiu a Zizinha da mãe com o Geraldo do pai. E surgiu então o Ziraldo. Indagado por um menino sobre como surgem os personagens que pelos seus desenhos ganham vida, Ziraldo explica que a inspiração vem do olho de quem cria. É um olhar diferente, está sempre enxergando significado para as coisas. “É porque a gente está ligado o tempo todo”, desmistifica ele. Do seu maior sucesso, “O Menino Maluquinho”, que já vendeu 3,5 milhões de exemplares, ele cita como surgiu o personagem. “Quando era criança, nas brincadeiras de soldado, eu era o capitão, fui à cozinha de minha mãe, peguei uma panela e enfiei na cabeça. Filho tem que ser feliz para no futuro dar um cara bom”, frisou. Ziraldo é o missionário de uma visão bem clara sobre a importância da educação somada à liberdade e ao carinho na formação da personalidade do futuro adulto. “Gostar de ler é a melhor coisa que pode acontecer com uma criança. Tenho dado esse recado país afora. Deem um diário para os filhos e eles irão escrever sobre si mesmo. O resultado é sensacional, com um ano, ele vira poeta. Escrever é como respirar. Bota um livro na mão deles, não como obrigação. Menino obediente é falso, não é bom. A natureza da criança é transgressora, deixem-na imaginar e sonhar. Esse negócio de obrigar o menino a ser primeiro lugar, faz dele um chato, um milico ou veado”,  contou, sob risadaria dos presentes. Citando o ditado popular de que ‘tudo que me faz feliz ou engorda ou é pecado’ ele alerta: “Deixem a criança brincar muito, não tem que exigir nada dela que não pediu para vir ao mundo. Não peça respeito, respeite a criança”, encerrou o mesmo Ziraldo ‘maluquinho’. Como vem acontecendo nas últimas bienais em Campos, a prefeitura distribui um vale livro (Notinha Legal) aos alunos das escolas municipais, como também uma ajuda (bônus) aos professores. Neste ano, são 10 mil Notinhas Legais no valor de R$ 6, e 4,3 mil bônus para os professores que estão em sala de aula. Cada um no valor de R$ 60. Luciana Portinho * capa da Folha Dois de hoje, domingo, 25/11/12.

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