O segredo dos atletas jamaicanos
Marcos Almeida 11/09/2012 19:24

Banana, inhame, genética, tipo de treinamento ou até o terreno. Na Jamaica, não faltam explicações para tentar justificar o sucesso de seus representantes no atletismo, especialmente nas provas de velocidade. Na Olimpíada de Londres, as 12 medalhas conquistadas pelo país vieram em provas de até 400 m. Na etapa de Lausanne da Liga Diamante, disputada sexta (24/8), os jamaicanos brilharam novamente. Yohan Blake venceu os 100 m, e Usain Bolt, os 200 m.

Este domínio, porém, não é de agora. Desde 1984, quando o americano Carl Lewis venceu os 100 m nos Jogos de Los Angeles, cinco dos sete atletas que ganharam o ouro nasceram na Jamaica: Ben Johnson e Donovan Bailey (que competiam pelo Canadá), Lindford Christie (Grã-Bretanha) e Usain Bolt (em 2008 e 2012). Para tentar descobrir as razões da hegemonia jamaicana, a professora de ciências médicas Rachel Irving, da Universidade West Indies, em Kingston, passou os últimos cinco anos pesquisando o DNA de atletas caribenhos, americanos, australianos e britânicos.

"Colhemos amostras de quem participou da Olimpíada de 1994 até gente como Bolt e Tyson Gay", explica Rachel à Folha. "O que descobrimos é que 98% da população da Jamaica possui o que chamamos de gene da velocidade. Ele é responsável pela estimulação dos músculos e é aquele que permite que se corra rápido." No estudo, que resultou no livro "DNA Olímpico, o Nascimento dos Humanos mais Velozes", a pesquisadora também concluiu que o rigor das viagens de navio às quais os escravos africanos eram submetidos no século 18 provocou mutações genéticas e no metabolismo daqueles que sobrevive- ram e chegaram ao Caribe.

"Isso fez com que os que resistiram funcionassem melhor quando a quantidade de oxigênio é reduzida, pois no transporte as condições eram precárias. E, em eventos que pedem grande explosão, como provas de velocidade, os atletas precisam ter eficiente utilização de oxigênio limitado." Mas Rachel insiste que não é apenas a herança genética a responsável pelo sucesso jamaicano, já que outros países do Caribe possuem população com características bem semelhantes.

"O atletismo é uma instituição na Jamaica, assim como o futebol é no Brasil. É parte da cultura do povo", afirma a pesquisadora. "Existem outros fatores ainda, como o ambiente, a alimentação, focada em carboidratos como inhame, que liberam energia mais lentamente, além do desejo de se mover socialmente. Muitas crianças crescem sabendo que a única maneira de mudar de vida é através do esporte e isso as motiva a tentar ser como Bolt."

Matéria na íntegra: Folha de São Paulo.

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    Marcos Almeida

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    Marcos Almeida é assessor esportivo, especialista em Ciência da Musculação e mestre em Ciência da Motricidade Humana.

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