Vota...que eu vou te usar!
mabamestrado 13/09/2012 08:48
Nosso colóquio virtual de hoje traz em seu título uma vertente da frase que tem se tornado célebre em nossa televisão, fruto da magistral interpretação do ator José Wilker, na teledramaturgia “Gabriela” – “deita que eu vou de usar!” Tomando, com as devidas vênias, emprestada a inteligência da expressão, deparamo-nos com a servidão (ou seria escravidão) eleitoral que o Povo, via de regra, se encontra nos dias atuais. É atribuída a Platão a frase: “Política é a arte de conciliar interesses”. Ocorre que nossos políticos, talvez até pela ignorância que os envolve, não tenham atentado que o vocábulo “Política” se referia ao instituto sociológico da política e não a politicagem que é realizada, como a usual postura de tergiversar sobre os assuntos sérios e necessários, criando fatos inexistentes, como forma de ocultar suas reais intenções para com o Erário. Temos ainda que destacar que a “arte” a que se referia Platão não era a arte de espoliar os interesses do Povo ou de rapinar os orçamentos, muito menos a arte de tornarem pessoas corruptas, advogando suas pretensões escusas. Era a “Arte” no sentido de trabalhar com apuro, com zelo, produzindo um resultado benéfico, pois não há arte no malefício ou na exploração da desgraça alheia. Por fim, a “conciliação dos interesses” citada por Platão é claramente relacionada ao manus público, ou seja, ao despojamento do verdadeiro Político (aqui usamos um “P” verdadeiramente maiúsculo”) em prol da Coletividade. Veja que não é pela coletividade de familiares ou coletividade de fraternos abutres, mas sim pelos interesses comuns que norteiam os desígnios de um Povo e que tornam extremamente nobre o desforço realizado no sentido de concretizar ações de maior grandeza moral. A despeito do sentido publicista elencado por Platão, a corja que hoje impregna, de forma fétida, o seio da politicagem, tem em seu norte os interesses escusos, a rapinagem, a corrupção, a facilitação, a improbidade, tornando maculada a figura sociológica do Político, associando-o ao que de pior pode produzir a espécie humana. Ocorre que este fenômeno da “nicotização do político” tem seu húmus, exatamente, na derrocada do caráter da Sociedade, que individualista, não mais se vê como grupo social, mas sim como indivíduo só e pleno, deixando à margem os interesses benéficos ao grupo e passando a vivenciar apenas os anseios imediatistas. Por este terreno que floresce (ou seria melhor) putrifica o ex-cidadão que se deixa usar pelo político meliante, recebendo propinas e doações escusas, usando de favores e, principalmente, entregando seu direito de votar pelo grupo social nas mãos da escória, aceitando ser direcionado em seu senso discricionário, sendo cooptado por interesses mesquinhos e, literalmente, vendendo, como se nada valesse, o seu voto. É neste momento que o político ladino diz: "vota...que eu vou te usar!" (Texto de autoria do Dr. José Eduardo Pessanha da Silva)

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    Sobre o autor

    Marco Barcelos

    [email protected]

    BLOGS - MAIS LIDAS