A beleza efêmera das cerejeiras em flor...
bethlandim 31/08/2012 22:35

Para saudar a chegada da primavera, nem mesmo a nudez dos galhos secos do inverno intimidam a flor de cerejeira.  Pelo contrário. Em poucos dias, é neles que surge uma volumosa cabeleira de flores brancas e rosadas... e as cerejeiras se transformam em um buquê de pétalas de nuances delicadas, anunciam o fim do inverno e a chegada da primavera.  O espetáculo, no entanto, não dura mais que uma semana. Logo que as primeiras brisas sopram, chuvas de pétalas cobrem o chão, formando um tapete colorido, outra beleza passageira. Contemplando há séculos pelos japoneses, esse presente da natureza também brinda países como o nosso Brasil e os Estados Unidos.

A flor de cerejeira, conhecida no Japão com sakurá, integra crenças religiosas a tradições familiares. Em casamentos ou ocasiões festivas, muitas famílias usam suas pétalas para fazer chás e atrair boa sorte. Usam também se deliciar com o sakuramochi que é um doce típico de feijão feito com a folha de cerejeira temperada com sal. A flor de cerejeira serve ainda de inspiração para as artes, moda, músicas e pinturas. Esta flor também tem na cultura japonesa o simbolismo do trágico que é retratado pelo teatro japonês. Quando surge um cenário com pétalas de sakura é sinal de que um vilão está em vias de agir ou que uma tragédia se anuncia. Esta associação se explica pela natureza transitória que tem a flor de cerejeira, desde o século 8, ligada aos samurais, os guerreiros japoneses, que também têm vida efêmera. Os samurais eram grandes apreciadores desta flor que se associou com o tempo com o seu lema: viver o presente sem medo.

Para amenizar a saudade da terra natal, os imigrantes japoneses que chegaram ao Brasil no início do século passado trouxeram centenas de mudas de cerejeiras. No Japão existem mais de 200 espécies de cerejeiras diferenciadas pelo tom das flores que vai do vermelho ao branco, passando pelo pêssego e pelo rosa. No Brasil o número é bem menor. As primeiras mudas que chegaram, apesar de diversas tentativas de cultivo em solos variados, devido ao calor comum em nossas terras, não vingaram. Por volta da década de 70 finalmente uma variedade híbrida se aclimatou e espalhou árvores por várias cidades brasileiras.

No Japão, o “Hanami”, que é o ato de contemplação das cerejeiras em flor, deixando a paisagem deslumbrante, é aguardado com ansiedade pelos japoneses, que organizam em todo o país diversas festividades em torno deste tempo. O auge deste festejo se inicia ao sul, na ilha Ikonawa, passando pela província indo até o norte, na província de Hokaido. Durante este período, japoneses deixam suas atividades diárias e se aglomeram em parques, fazem piqueniques sob o céu de flores de cerejeiras, passeios de barco nos rios que cortam os bosques ou simplesmente permanecem num ócio contemplativo.

Conta-nos uma fábula que, quando jovem, George Washington, o primeiro presidente dos Estados Unidos, ganhou um machado e saiu cortando galhos e tirando lascas das árvores da fazenda em que vivia. Uma delas, uma bela cerejeira plantada por seu pai, na parte mais alta do pomar, cruzou o caminho do rapaz. como o tronco era macio e fácil de quebrar, já aos primeiros golpes ele derrubou a majestosa árvore. Ele assumiu o erro e foi perdoado pelo pai. A história ilustra a fragilidade da planta, que continua presente na capital americana e hoje brota nos jardins da casa Branca e nas margens do lago Tidal Basin, no West Potomac Park, em Washington. Nesse local é possível apreciar o show das cerejeiras graças a um generoso gesto de amizade do Japão: em 1912, o país doou aos americanos 3 mil mudas, que foram plantadas no famoso parque da capital. Em 1965, outras 4 mil chegaram a esse jardim. Desde 1935, o parque abriga o National Cherry Blossom Festival, evento que dura quatro semanas e conta com muita música, exposições, feiras e outras atividades que estimulam os laços de amizade entre a comunidade local e os japoneses.

A flor de cerejeira significa a beleza feminina e simboliza o amor, a felicidade, a renovação e a esperança.

A cerejeira fica pouco tempo florida, por isso suas flores representam a fragilidade da vida, cuja maior lição é aproveitar intensamente cada momento, pois o tempo passa rápido e a vida é curta. Nos desenhos de tatuagens, a flor de cerejeira também simboliza a brevidade da vida, que deve ser vivida da melhor maneira possível todos os dias.

Que possamos, então, apreciar a simbologia das flores de cerejeira, que nos oportunizam refletir sobre a beleza e a efemeridade da nossa vida... O florir e reflorir constante a que devemos nos submeter a cada nova etapa do caminho... Que sejamos felizes, pois somos seres em busca constante da felicidade, nos renovando constantemente, deixando cair ao chão tudo o que é “pequeno” em nossa vida, recebendo então uma nova floração permeada pelos nobres valores que tanto estimamos vivenciar em nossa caminhada: o equilíbrio, a paciência, a fé, a paz, o amor, a amizade sincera, a união da família, o renovar da esperança... nos permitindo desta forma, como tão bem nos exemplificam as cerejeiras em flor, um novo recomeçar!

Com afeto,

Beth Landim

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