Ao baixar de um domingo, ele
lucianaportinho 22/07/2012 19:17
Do tanto poeta A proposta de homenagear o poeta Carlos Drummond de Andrade, nos seus 110 anos de nascimento, deu certo na décima edição da Festa Literária Internacional de Paraty. Drummond esteve em versos pincelados na abertura de cada uma das cinco mesas temáticas diárias, da programação oficial. Ele esteve em a exposição interativa ‘Faces de Drummond’ na Casa de Cultura, uma realização da Casa Azul e da Fundação Roberto Marinho. O Instituto Moreira Salles imprimiu camisa branca especialmente para a Flip com os versos dele: Que pode uma criatura senão,/entre criaturas, amar?/amar e esquecer,/amar e malamar,/amar, desamar, amar?//Sempre, e até de olhos vidrados, amar?// A programação infantil Flipinha e a juvenil Flipzona trouxeram o Carlos para a aldeia em forma de teatro, jogral e mesmo de musical. Imagens do poeta pontuaram o espaço físico da pequena como intensa Paraty. [caption id="attachment_4353" align="aligncenter" width="500" caption="Ft.Luciana Portinho"][/caption]

 

Drummond 110 Quem no dia 4 de julho chegou a Paraty, ainda que soubesse pela programação divulgada, que encontraria com o poeta maior, ao começar a festa literária percebeu a inteira dimensão da homenagem que se prolongaria naqueles cinco dias. Pela voz do escritor - poeta, filósofo e letrista – Antonio Cícero, um dos drummonds se manifestou na leitura do poema “A Flor e a Náusea”, do livro “A rosa do Povo”, de 1945. Cícero deteve-se em cada uma das nove estrofes do poema, na tentativa de investigar alguns versos de significado menos evidente para o público em geral. E fomos para os tempos que eram. Eram tempos de guerra. Tempos de feiura. “... O tempo é ainda de fezes, maus poemas,/alucinações e espera”...// A plateia dá sinais do incomodo de a densidade das palavras, Cícero então esclarece que “a função da poesia é desautomatizar a linguagem e o pensamento”. Feito o alerta ao recém-chegado público, continua nos versos. “... As coisas. Que tristes são as coisas,/consideradas sem ênfase.// E Cícero segue ao falar do tédio em Drummond “... Nenhuma carta escrita nem recebida./Todos os homens voltam para casa./ Estão menos livres mas levam jornais/e soletram o mundo, sabendo que o perdem.//” Eram tempos de solidão, pessoal e literária, tempos de reflexão ante a incomunicabilidade humana da guerra, ou seja, da náusea. E da flor surge a poesia. “... Uma flor nasceu na rua!//... Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde/e lentamente passo a mão nessa forma insegura.// É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.//”.   [caption id="attachment_4354" align="aligncenter" width="500" caption="Ft.Luciana Portinho"][/caption]   De outra faceta

Os materiais da vida Carlos Drummond de Andrade

Drls? Faço o meu amor em vidrotil nossos coitos são de modernfold até que a lança de interflex vipax nos separe em clavilux camabel camabel o vale ecoa sobre o vazio de ondalit à noite asfáltica plks

[caption id="attachment_4355" align="aligncenter" width="500" caption="Ft.Luciana Portinho"][/caption]

Do encerramento

Já no domingo, últimas horas da Flip, naquela penúltima mesa de 2012 “Drummond: o poeta brasileiro” o também consagrado poeta Armando Freitas Filho, em vídeo – mas, como se ali estivesse, discorreu sobre sua relação pessoal e literária com Drummond. “Se uma máquina de escrever falasse, teria a voz de Drummond: seca e surda”, disse Armando. Rememorou o presente dado por seu pai ao fazer 15 anos – um disco, com Manuel Bandeira no lado A e Carlos Drummond de Andrade no lado B. Não por acaso era o lado B, esclarecendo que Drummond vai mais fundo, está adiante, do lado de lá: “Escrevia com o próprio fígado, pegava o ser humano por dentro, como se fosse uma cunha. Você pode até esquecer as palavras do verso, mas não esquece o sentimento que o verso trouxe”. Em 1960, Armando entregou o manuscrito de seu primeiro livro a Bandeira e foi por ele aconselhado a encaminhar seus poemas a Drummond. Daí surgiu uma rica relação pessoal, de mestre e pupilo – “ele não foi uma influência, foi uma possessão” – só terminada com a morte de Drummond. “Fui o primeiro a chegar ao velório e até corrigi um erro ortográfico que o funcionário cometera na placa que afixam à porta da sala onde está o morto – faltava um M no Drummond”, lembrou. “Hélio Pellegrino e eu entramos juntos na sala, abraçados, Hélio tremendo muito (ou era eu?), quando fomos abordados pelo jovem repórter Arthur Dapieve, perguntando qual era o significado daquela morte. Hélio respondeu: ‘Eu não me entenderia como pessoa sem a poesia dele’.” E assim caminhou a Flip, no que tange ao poeta da poesia Drummond. Ou como nas palavras do poeta, ensaísta e crítico literário Antonio Carlos Secchin, “O primeiro Drummond a gente nunca esquece”.
Luciana Portinho
Matéria publicada em 15/07, no caderno especial, Folha na Flip 2012.

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