RECORTES.
lucianaportinho 01/09/2011 05:06
RECORTES. luciana portinho Tudo nele a atraiu. Tudo. Ele jamais poderia supor. Durante tanto tempo guardara tão bem seu sentimento. Sim, teria sido tolice assim se expor. E, até se permitira muito, ou quase, menos ficar assim sem disfarce na frente daquele homem. Ao ouvi-lo pela primeira vez emudeceu. Naquele momento do outro lado da linha soube-se rendida. Depois vieram os deliciosos cheiros contidos no desdobrar da pele suada, as repetidas conversas despretensiosas. Era um homem vaidoso de sua imponência. Cheio de múltiplos pequenos comandos que desde o início a divertiram. Gostava da corte, do elogio macio, da atenção continuada. Uma grande criança grande. Alguns cuidados tiveram um com o outro, ao mesmo tempo, uma genuína identidade logo deles brotou. Dois sensíveis seres ressabiados, fincados por suas trajetórias pessoais. Cresceram e se fizeram em realidades tão opostas. Ainda que em tempos simétricos, o meio ambiente foi disparo. Isto era para ela a fonte do maior mistério. Como tinha se deixado fascinar por aquele homem cujo caminho e opções sempre foram tão distantes das suas?! Qual ponto de identidade os unira de fato?! Sexo? Só, não era. Do seu lado, encontrava resposta na sua recente maturidade. Vinha a algum tempo exercitando tantas mudanças internas. Focava na serenidade. Acima de tudo queria uma serenidade libertária. Agora, finalmente e não sem sacrifício, sentia-se preparada. Não mais aceitaria falsas barreiras. Aquela parecia uma manhã como qualquer outra, na aparência. A cidade mesmo sonolenta já registrava costumeiro alvoroço. Entrou no ônibus e mecanicamente se acomodou. Logo o corpo começou a sacolejar. Rolavam imagens na sua mente. Sentimentos a transpassavam. Sucessivos fragmentos de sua história. Tensa, uma certeza a conduzia; para aquela casa não mais voltaria. Nem saberia talvez explicar a razão de tamanha determinação. Talvez fosse como sua amiga, ontem, havia dito: “você está qual fruta de vez no pé, só encostar que vem na mão”. Tinha sido precisa, ela só desejava mais uma vez recomeçar.  

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