DITADURAS E JABUTICABAS...
bethlandim 09/09/2011 21:47

Muito se fala em democracia e, por vivermos em uma, isso se torna algo muito comum e natural. Mas essa palavra é simplesmente ignorada. Hoje, há pelo menos 40 ditadores no mundo e quase 2 bilhões de pessoas vivendo sob esse regime. O historiador Guilherme Almeida ressalta que praticamente todas as ditaduras têm aspectos em comum como falta de liberdade de expressão, controle das mídias e das fronteiras, personalização do poder político, militarização do país, polícia para controle social, entre outros.

O mundo vem acompanhando a ditadura na Líbia. As recentes conquistas dos rebeldes contra Mamar Kadafi, mostram que o regime do ditador está em seus últimos momentos, após 42 anos no poder. Em 23 de agosto, grupos rebeldes invadiram o complexo onde fica a residência de Kadafi, dois dias depois de terem tomado a capital do país, Trípoli.

O custo de tanto despotismo é muito alto: milhões de vidas roubadas, desemprego, pobreza e ações de tirania que chocam a todos. A Freedom House e Human Rights Watch fez uma edição especial, publicando os piores tiranos do mundo, intitulada “O pior do pior”. Confira alguns dos piores tiranos do mundo: Kim Jong II na Coréia do Norte, Robert Mugabe em Zimbábue, Than Shwe em Burma, Omar Hassan Al-Bashir no Sudão, Gurbanguly Berdimuhamedov em Turcomenistão, Islam Karimov no Uzbequistão,  Mahmoud Ahmadinejad no Irã, Meles Zenawi na Etiópia, Hu Jintao na China, Bashar al-Assad  na Síria, Raúl Castro em Cuba e Kim Jong II na Coréia do Norte, entre outros.

Mas não são apenas estas ditaduras que atormentam o mundo. Vivemos sob o bombardeio da ditadura da beleza, da magreza, do sucesso profissional, do poder do dinheiro, da mídia, etc... Todas estas, sem exceção, política ou não, tiram o valor mais precioso do ser humano: a liberdade. A liberdade de ir e vir, a liberdade de pensar diferente e ser diferente, a liberdade de discordar... Sentimos-nos muitas vezes, como se estivéssemos com um esparadrapo na boca e nas mãos: Impotentes... Ser diferente, pensar diferente, não valorizar estes tipos de beleza, focar sua vida em outros valores, discutir idéias e ideais e não pessoas, nos faz pagar um preço muito alto. Muitas vezes, por vivermos em uma democracia, não damos valor a tudo que ela nos proporciona, e esquecemos até de lutar, de discordar, de sermos nós mesmos, por sermos displicentes com a nossa liberdade.

Lembro-me então das sábias palavras de Rubem Alves que fala do tempo e das jabuticabas.

“Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço. Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio. Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões, de 'confrontação', onde 'tiramos fatos a limpo'. Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral. Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: 'as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa... Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos lizados, e deseja tão somente andar ao lado do que é justo. Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.' O essencial faz a vida valer a pena.”

Que este 7 de setembro que passou, seja motivo de reflexão para todos nós. Que possamos nos perguntar em qual destas ditaduras cada um de nós vive... Que busquemos incessantemente a liberdade não nos esquecendo da essência, da consistência de valores em nossas vidas... tanto mais felizes seremos se tivermos muitas rugas no rosto, como marcas de trabalho, dedicação, de amor à família, tão em falta hoje em dia... do que rostos belíssimos onde não percebemos nenhuma expressão...  tanto mais felizes seremos, se pudermos ser nós mesmos, sem perder o amor à nossa bandeira, a nossa pátria, à nossa liberdade.

E como diz a música: "Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós..."

E você... o que fez com a sua bacia de jabuticabas? Aprendeu a saboreá-las até o caroço?

Pense nisso...

Com afeto,

Beth Landim

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