UM APORTE À REFLEXÃO.
lucianaportinho 29/08/2011 07:05
Segue um texto que nos foi enviado pelo Moacyr Arthur. ______________________________________________________________________ VOCÊ TEM MEDO DE CRÍTICA?* Antônio Carrilho Farias, 10/2002. O texto a seguir, que escrevi e foi publicado pela última vez no jornal A TARDE de Salvador, em 2002, traz a reflexão de uma grande barreira que existe em nós: o medo da crítica. Como até hoje, pessoas próximas a mim fazem menção a este trabalho, também publicado no periódico DSD em Revista (1999), voltado, na época, para o desenvolvimento dos supervisores da PETROBRAS, e no INFORME da FIEB (1999), bem como sua publicação neste espaço na internet possibilita maior oportunidade de acesso à leitura, resolvi republicá-lo, como oportunidade também de suporte a outras reflexões no campo do comportamento gerencial e desenvolvimento interpessoal. == O medo tem sido uma das emoções mais presentes e discutidas em nossas vidas, principalmente, com o agravamento da violência urbana; com as aceleradas mudanças nos valores e formas de trabalho; e com as crescentes ameaças de desemprego. Medo de ser assaltado na esquina ou dentro de um veículo; medo de não corresponder às expectativas de seu ambiente social; medo de um vírus no computador e por aí afora… Existe, no entanto, um tipo de medo que será objeto de reflexão neste texto: o medo da crítica. Segundo Hill (1993), um dos seis medos do ser humano. Um ator e um escritor, por exemplo, estão expostos à crítica, muitas vezes, de pessoas que não estão habilitadas para tal. Um trabalhador está sujeito à tendenciosidade, na avaliação de seu supervisor. E o professor está à mercê de avaliações subjetivas dos alunos que, no geral, ainda não conhecem o assunto. Isso parece nos levar também a refletir sobre duas categorias de críticos a que estamos submetidos: o “crítico de obras prontas”, ou seja, daquilo em que não há muito o que mudar, porque já foi exposto, e o “crítico de obras em construção”, isto é, daquilo que é mais fácil modificar. Mas o que está por trás de tanto medo de ser criticado? Por que reagimos tanto a uma crítica, se ela contribui, de alguma maneira, independentemente da forma, para o nosso crescimento pessoal? Pelo menos, parece um dos caminhos para esse crescimento. Podemos encontrar, dentre outras, as seguintes razões para que as pessoas resistam a uma crítica: a) Desconfiança em relação às intenções da pessoa que critica: “O que ela pretende? Será que sua intenção é a de me ajudar ou me desgastar?” b) Receio de tornar-se vulnerável ou de ver sua imagem e status ameaçados. A pergunta que poderia vir é a seguinte: “O que será que isso representa para a minha condição atual?” c) Geralmente, as críticas são avaliativas e genéricas e não dirigidas para situações específicas. Por exemplo, alguém pode dizer: “Você tem mania de desqualificar as pessoas”, quando poderia dizer: “Todas as vezes que você me diz isso, como agora, eu me sinto desqualificado”. A ideia central é que mania de desqualificar é algo avaliativo, genérico e sem direção clara, o que provoca reação defensiva, enquanto que o sentimento do ofendido não pode ser negado ou questionado pelo outro. Mas é preciso cuidado com uma armadilha muito comum: uma pessoa ao criticar (também usado como dar feedback) pode usar expressões como “eu sinto que você está fazendo tudo errado”, para dizer que falou de sentimento. Nesse caso, o que houve foi manipulação do sentido da palavra! A expressão “sinto que você está errado (a)” é mera avaliação ou jogo de palavras. d) Muitas críticas são dirigidas para a personalidade do indivíduo, quando deveriam ser dirigidas para o comportamento a ser modificado ou para o resultado de um trabalho realizado fora do padrão. Alguém poderia dizer: “Sua atitude irresponsável é que provocou essa situação!”. A reação poderia ser: “Irresponsável é você!”. E por aí afora… Seria melhor ter dito: “Isso que você fez ontem (ou hoje) trouxe as conseqüências tais, implicando nisso ou naquilo”. E como poderíamos superar essas dificuldades? Vejamos algumas recomendações adaptadas de Moscovici (1980). Para o comunicador (quem faz a crítica): 1. Estabeleça uma relação de confiança recíproca para diminuir as barreiras entre comunicador e receptor. Fazer uma auto-avaliação, por exemplo, tende a estimular a confiança. Demonstre a intenção de ajudar a pessoa a crescer e que não está no papel de juiz. 2. Procure reconhecer e demonstrar que a crítica é um processo de exame conjunto. 3. Seja descritivo em vez de avaliativo. Não havendo julgamento (apenas o relato do fato), reduz-se a necessidade de defesas. 4. Seja específico, em vez de geral. Vá direto ao ponto. 5. Torne a crítica compatível com as necessidades de ambos, comunicador e receptor. A crítica pode ser altamente destrutiva, quando satisfaz apenas às necessidades do comunicador, sem levar em conta as do receptor. 6. Seja oportuno. Aproveite o momento e o local adequados. A crítica será mais útil quando mais próxima da ocorrência do fato e nunca quando houver passado muito tempo ou quando o clima estiver carregado de emoção. 7. Esclareça, para assegurar a comunicação precisa. Procure fazer com que o receptor repita o que ele ouviu para ver se corresponde ao que você quis dizer. Para o receptor (quem recebe a crítica): 1. Aprenda a ouvir, a receber a crítica, sem reações emocionais defensivas intensas. Não é fácil, pois o ouvido ativo é uma de nossas principais deficiências. 2. Mesmo que a crítica seja malfeita, tire proveito dela. Aproveite para crescer. Procure ver, se tiver dúvidas, que sinais geraram a percepção do comunicador. 3. Encoraje o interlocutor a falar, mostrando-se receptivo (a) ao que ele ou ela diz. Peça-lhe que seja específico, que cite exemplos. A esta altura já podemos inferir que a base de tudo é a confiança que, de algum modo, nos influencia a “ler” tudo, segundo a imagem que formamos da outra pessoa. Outro fator a ser considerado é que, na condição de receptor de crítica, costumamos fazer “leituras”, segundo nossa percepção que, também, é influenciada pelas nossas experiências de vida, nossas crenças, nossos valores. E essa “leitura” nem sempre corresponde ao que o comunicador quis dizer. Assim, tomemos a iniciativa, como receptor, de perguntar ao comunicador: “O que você quis dizer com isso? Foi isso que você quis dizer?”. Nesse momento, procure dar-lhe a chance de es-cla-re-cer. Nunca é demais lembrar que atitudes de transparência e de compreensão empática, como diz Rogers (1983), contribuem muito para criar o clima de confiança mútua.  

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