Solidariedade não é Ingenuidade
Nino Bellieny 01/08/2016 22:00
Por Gil Jardim* Sou solidária. Estamos vivendo em tempos, há tempos, muito difíceis. Não, não é somente essa crise financeira. É também essa crise financeira. Mas ela veio depois... A crise começou com a falta de caráter. Não começou nos gabinetes das prefeituras, muito menos nas reuniões com terceirizadas, empresas de construção civil, etc. Começou com a “omissão” da família em educar, deixando para a escola e esta perdendo disciplinas com conteúdos fundamentais que abordariam esses assuntos, assuntos como moral e cívica, a ética, as pernas curtas da mentira. Ao mesmo tempo em que é divulgada a lei do “farinha pouca, meu pirão primeiro”, a lei do “jeitinho”. Claro, há os que desenvolvem ao longo da vida  falhas de caráter, mesmo que a família, a instituição religiosa, a escola, as confrarias ensinem o que é ser humano íntegro, honrado. Muitas razões para isso acontecer. O  descaráter vem acompanhando muitos e a cada dia se aprimora. E os “menos mau” caráter ou os de boa índole reforçam, até sem perceber, o posicionamento dos piores. Andamos pelas ruas e damos dinheiro aos pedintes necessitados. Necessitados? Compramos canetas nos ônibus. Damos dinheiro para a gasolina. Para uma desempregada de outra cidade (?), para a compra de remédios. Os desprovidos de caráter vivem assim, pedem aqui e ali, e nós reforçamos esse comportamento. Não nego que haja pessoas de bem que em certo momento pedem ajuda. Diversas pessoas ficam perdidas em algum momento de suas vidas e não acham uma outra saída, até que alguém aparece e mude uma triste realidade. Há muito procuro ensinar a pescar, dou a vara, poucas vezes dou o peixe. Aprendi com minha mãe: em nossa casa apareceu um rapazinho pedindo comida. Ela pediu para ele varrer a frente enquanto esquentava a comida. Dias depois ele voltou e pediu  mais comida, minha mãe disse :“varra a garagem enquanto isso.” Dias depois ele chegou e perguntou se podia lavar o carro. Ao pedirem dinheiro, ofereço emprego. Dou meu telefone. (pode ligar a cobrar), e até hoje, não recebi uma ligação. +012 Tentaram me vender uma caneta, havia um fly divulgando uma entidade, telefonei para os números:”este número não existe ou...” Quando me enviaram um carapina para meu quintal, de pronto vi que era ex- presidiário. Suas tatuagens de presídio não deixavam dúvidas. Dei um voto de confiança. Ficou por aqui alguns meses até que o vício venceu. Senti como se eu tivesse perdido. Até que um segundo senhor veio com a família e ocupou o lugar. Não pediu nada. Ofereceu seus serviços. Não era tão cuidadoso quanto seu antecessor, mas está se aprimorando. Faz dois anos que uma jovem bonita, limpa, bem vestida apareceu em meu local de trabalho e pediu ajuda para comprar um remédio para ela. Prontifiquei-me a dar o remédio, fiquei com 3 caixas em minha residência por mais de 1 ano e ela não veio buscar, passei adiante para não perder a validade. Por esses dias, mais uma jovem bonita, limpa, bem vestida pediu ajuda para comprar um remédio para alguém. Prontifiquei-me a dar o remédio, mas nem me mexi, coloquei meu telefone à disposição. Era a mesma da outra vez. Eu estava em outro bairro e bem diferente de 2 anos passados, ela não me reconheceu, eu a reconheci. Evidente que, nem todos os pedintes são incorrigíveis, nem todos os “marginais” continuam no crime, nem toda carinha bonita é acompanhada de honestidade. Mas, e sempre há um MAS, e se eu continuar facilitando as “esmolas”, se eu não tentar ensinar como se consegue sair dessa situação de rua eles sempre existirão e nunca crescerão muito menos se valorizarão. Sou solidária, mas isso não significa ser ingênua. *Gil é professora.

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