Lágrimas em Quito
Christiano 20/07/2016 19:20
A empresária Silvana Siqueira, tricolor fanática, esteve presente nos dois jogos da única final da Libertadores disputada pelo Fluminense, em 2008. Apesar de ter melhor time e melhor campanha, o tricolor foi batido pela LDU de Quito, do Equador, e sua altitude, sendo derrotado na decisão nos pênaltis no Maracanã. Após a derrota em Quito, Silvana escreveu um ótimo conto sobre o episódio, que deixou guardado por quase uma década. Agora, passados 8 anos, com as cicatrizes curadas, decidiu torná-lo público, podendo ser conferido abaixo. Da tristeza profunda à alegria, nos anos seguintes, o Fluminense conquistaria dois dos seus quatro títulos brasileiros, sendo campeão do Brasil em 2010 e 2012. Confira: Lágrimas em Quito Em vinte e quatro de junho de 2008 cheguei ao Aeroporto Internacional Tom Jobim para embarcar em uma aventura solitária, que me permitiria escrever mais uma página no meu diário sobre a experiência de viajar sozinha: eu, minha mochila e uma pitada de ansiedade entre meus poucos pertences. Antes de embarcar fui entrevistada pela equipe do Sport TV e apareci em rede Nacional. Tive meus quinze segundos de fama! O destino era Quito, capital do Equador, a segunda cidade capital mais elevada do mundo, situada a aproximadamente 35 km ao sul da linha do Equador, onde um monumento batizado de La mitad Del Mundo marca o local. O propósito dessa viagem não era nem de longe fazer turismo, conhecer outro país, outra cultura. O meu objetivo era assistir ao primeiro jogo da final da Copa Libertadores da América entre os times da LDU(Quito) e o Fluminense, meu time do coração! Paixão pelo meu time. Uma paixão que teve início, certamente, no ventre materno, visto que minha mãe sempre foi torcedora do Fluminense e o fato de morarmos em frente a um estádio de futebol, o Goytacaz, fortaleceu no meio familiar o gosto por este esporte. Eu e dois dos meus três irmãos seguimos a tradição materna. O irmão mais velho fez outra escolha. Tornou-se torcedor do Flamengo, bem como minha irmã caçula. Começava em casa o mais clássico dos clássicos na história do futebol carioca! Sou uma torcedora típica - visto a camisa, vou aos estádios, guardo faixas, autógrafos e tenho até o escudo do time tatuado na pele - ver o meu time chegar à final da Copa Libertadores da América era uma grande conquista e eu não poderia ficar de fora desse acontecimento histórico. E assim eu fui parar em Quito. Pouco conhecida por nós, Quito, no Equador, é um destino cheio de surpresas, que você começa a descobrir logo no aeroporto, quando se depara com uma enorme e moderna cidade com mais de 35Km de extensão espremida em um curto vale. A capital tem um centro histórico dos mais respeitáveis da América Latina e é rodeada por vulcões, inclusive ativos, que podem ser visitados durante todo o ano. Tudo isso sem contar que os equatorianos são um dos povos mais receptivos que já conheci. No hotel havia uma pequena multidão de torcedores tricolores brasileiros: eu e mais 14 pessoas. Um número razoável para a ocasião, representávamos com louvor nossa torcida. Logo me adotaram quando souberam que eu embarcara sozinha nessa aventura. Combinamos, então, um transporte que nos levou ao estádio da Liga Deportiva Universitária, também conhecido com Casa Blanca. Ao longo do caminho percorrido até o estádio via-se uma mar de equatorianos pelas ruas, vibrando, cantando, colorindo a Avenida Diego de Vazquez com suas bandeiras ao vento. Uma euforia suada e contagiante que me causou inveja. Por um momento tive a sensação de que seríamos massacrados por aquela gente fanática, dona da casa, em posição obviamente favorável a nossa. Fizemos silêncio. Diante das arquibancadas do estádio reservadas para a nossa torcida, uma guarda local fazia a segurança. Pensei - Que ameaça nós poderíamos representar para os mais de 30 mil torcedores adversários? Foi quando compreendi que nós não éramos a ameaça, mas sim, os ameaçados. Tive cautela. Começa o jogo, tensão no estádio. A partida foi um verdadeiro pesadelo para nós, tricolores. Com apenas dois minutos, Bieler abriu o placar. Dez minutos depois, Conca empatou. Vibramos. Porém, Guerrón, Campos e Urrutia fizeram 4 a 1 para a LDU apenas no primeiro tempo. Eu chorava.. Era inexplicável.. No segundo tempo, Thiago Neves descontou e manteve viva a esperança do título. Mesmo assim, a tarefa seria ingrata: vencer por dois gols de diferença para levar o jogo para a prorrogação ou por três para faturar o título ainda no tempo normal. Embora a missão fosse bem difícil, o clima de “eu acredito!” tomou conta dos torcedores que esgotaram todos os ingressos para a decisão quase que instantaneamente. O duelo do Maracanã prometia. E muito. Em 02 de julho de 2008 eu estava entre as 78 mil pessoas que protagonizaram a maior e mais bela festa em verde vermelho e branco que o Maracanã já viu. Mas essa é uma outra história. Sil Siqueira

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    Christiano Abreu Barbosa

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