A Cidade Indiferente
Por Flávia Pires
Estava passando pela Beira-Rio e vi uma mulher de biquíni, tomando banho e lavando roupas ao lado da pista de skate. Parei e fotografei, pois achei inusitado e atípico. Em outras cidades pode até ser normal, alguém tomando banho em um rio, mas, em Itaperuna, intrigou-me. Depois, ao retornar pelo mesmo caminho, ela ainda estava lá, desta vez, escovando os dentes. E senti pena: como pode um ser humano nessas condições e ninguém fazer nada!?!
Contei para uma amiga e ela me disse que a moça do banho é conhecida como Paçoquita, por vender este doce de amendoim nos sinais de trânsito de nossa cidade e que tem problemas mentais. Fiquei mais preocupada e enviei uma mensagem de texto contando o fato ao ainda prefeito de Itaperuna, Alfredão, e também fiz contato com a Secretaria de Segurança do Estado do Rio. Todos me disseram que não havia um lugar para abrigar a Paçoquita.
Eu poderia ligar para o Governo do Estado, Forças Armadas, Presidência da República, MercoSul, Organização das Nações Unidas, mas, eles também diriam a mesma coisa.
Eu não tenho espaço disponível em minha casa, como muita gente que a vê, também não tem e não sabe como ajudar. Ela vai continuar ali, banhando-se como se estivesse em uma praia qualquer, vendendo suas paçocas, sobrevivendo duramente.
A Secretaria de Ação Social não teria como fazer alguma coisa? Os Clubes de Serviço como o Lions e o Rotary, as Lojas Maçônicas, as Igrejas Católicas e Evangélicas, os Centros Espíritas, nenhum desses grupos de fraternidade e religiosidade pode ajudar de alguma forma?
Voltei para casa me sentindo pequena, do tamanho de um grão de arroz, olhando para o céu azul de uma Itaperuna que me pareceu tão distante, tão fria, tão diferente daquela que eu pensava ser uma das mais amorosas cidades de todas que conheço. E para não chorar, resolvi escrever. E mesmo assim estou chorando.
Ft-FP