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(Crônica de domingo)
NinoBellieny
Morremos um pouco à cada frase mal pronunciada ou mal interpretada. Morremos quando uma pessoa escolhe um outro lado das coisas onde não quer ser vista nem ouvida. Quando fazemos a mesma escolha evitando a luz.
Há morte quando, até podemos ver e ouvir, mas, não somos nós os percebidos, jogados no limbo de nossas incoerências e da voraz sede de reconhecimento a qualquer preço.Vamos morrendo por indiferença e por excesso, como planta esquecida ou aguada demais. Já estamos quase mortos ao cerrarmos os portões por dentro, escondendo a chave e não deixando entrar o acaso.
Estamos morrendo ao matar o sonho do outro e o nosso, ao mergulhar no lento suicídio da falta de esperança, do excesso de mesmice em copos de desespero. De assassinatos verbais estamos cheios. De julgamentos sumários juízes e réus somos. Esclarecidas vítimas, educados carrascos, matadores de aluguel e alvos permanentes.
Morremos avacalhando nossas vidas em conversas sem conteúdo, em ataques de inveja e perfídia. Um veneno nada doce escorrendo do canto de bocas desenhadas em charmosos sorrisos. Frases mortais disparadas pelas costas, solenes projéteis disfarçados em pensamentos altruístas e elegantes. Matamos e morremos, ocultamos corpos, escondemos provas e só às vezes, raras vezes, nos lembramos, fazendo questão de não acreditar que, acima de nossas pálidas cabeças, um Supremo Juiz a tudo assiste.