---------------------------------------------------------------------------------------------- Todas as vezes em que se tem conhecimento de um  suícidio, inevitávelmente ouvimos perorações as mais variadas sobre o caso. Recheadas de moralismo, pieguice, pseudo-religiosidade, quase todo o mundo tem uma opinião de "especialista" para ser dada. Não importa quem tenha cometido o ato; passa a ser objeto de análise, da mais fria à mais comovente, como se todos fossem psicanalistas, psicólogos e psiquiatras, profissionais mais afeitos a lidarem com o caso. O que ninguém faz e isso, demonstra o alto envolvimento de nós mesmos com os nossos umbigos, mal percebendo o que acontece fora do perímetro corporal, o que ninguém faz, é prestar atenção no outro. Perceber o outro, notar o seu olhar, o grito silencioso que está brotando de dentro da alma, os sinais emitidos em falas ou na ausência delas.   Muitos suicidas em potencial, querem apenas afeto, atenção, carinho, ser ouvido. Outros, podem estar em avançado estado mórbido mental, prestes a executar um plano mil vezes repetido na imaginação, e só mesmo profissionais da área médica especializada saberão lidar com isso. O mais dramático, é a linha de desmontagem: à cada vez que um ocorre, outros se sucedem, servindo de estímulo para aquele que ainda está no terreno das conjecturas. Cabe a nós, prestarmos mais atenção em quem está a nossa volta. Às vezes, tão perto, que mal enxergamos. Não notamos a tristeza profunda, as fugas constantes, as palavras cheias de significados, embora incoerentes.   Não somos culpados, todavia, pela extrema atitude do suicida, mas, quem sabe, possamos fazer algo muito mais grandioso olhando para eles em vida do que, após a morte, julgá-los da maneira implacável como a maioria faz, se achando superior e imune. Os sinais estão em toda a parte. Não só é possível evitar uma morte como dar novo sentido à uma vida. Muito mais generoso e altruísta do que simplemente ser o juiz daquilo que foge ao nosso alcance e entendimento. Menos bobagens seriam ditas. Mais respeito sobraria. E muito mais gente viveria de modo pleno. NinoBellieny