Desrespeito aos Mortos
Nino Bellieny 22/04/2015 11:49
a1 Nino Bellieny Um dos sintomas de que a vida não tem sido respeitada como deveria, é a maneira como os mortos passaram a ser tratados. Esqueça das grandes capitais, onde a banalização da morte já se tornou regra e localize-se em uma cidade pequena ou de médio porte: até há pouco tempo, a morte de um dos membros da comunidade era sentida como a de um familiar. Festas, canceladas e as portas do comércio, cerradas na hora em que o féretro passava. Até o tempo parecia ficar triste, nublando-se ou chovendo, a comunidade desacelerava, o luto durava dias e para a família, anos.   A vida mudou. A morte também. Pelo menos a percepção do que ela representa. O morto, seja ele quem for, passou a ser alvo de piadas, difamações e calúnias. Nada mais fácil e óbvio de ser atacado. Não tem como defender-se. Não há censura moral que contenha o detrator. O absurdo soa normal na vingança: se era alguém famoso, uma mulher bonita, um homem muito rico, o ressentimento aflora nos julgamentos. Tachados de ladrões, corruptos, safados, marginais, os mortos são condenados ao inferno por gente que nunca teve um contato sequer com eles. Geralmente, de idoneidade bem abaixo. É a força da raiva por não ter o que ele ou ela teve, respingando no corpo inerte.   Esquece-se o julgador, de que será o próximo, mais tarde ou mais cedo. Não se lembra dos filhos, pais, irmãos e tios, por enquanto ainda vivos...  inescapáveis futuras vítimas das línguas afiadas em pedra de amolar e macular.   Esqueça-se das grandes capitais, a banalização da morte já faz parte das pequenas e médias cidades, das pequenas e médias mentes. Ocupadas em sobreviver ferozmente, perderam o senso do que é realmente viver com dignidade. Isso inclui respeitar a quem morreu. E morrer, não é exclusividade. Nem excludência.  

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