Mamãe Eu Quero Ser Prefeito
Nino Bellieny 26/03/2015 10:25
Cow-Boy Fora da Lei. A música composta por Raul Seixas e lançada em 1987, no ano seguinte já era sucesso em todo o Brasil. A letra começa assim: Mamãe não quero ser prefeito/Pode ser que eu seja eleito/E alguém pode querer me assassinar. Esse medo só o eterno Raul teve. O que mais se percebe em milhares de cidadãos, é a vontade de realmente ser prefeito. Não importa o tamanho da  cidade e do cofre, o desejo é fremente, quase um impulso erótico. Durante a campanha, verás que o filho teu não foge à luta. Todos possuem mágicas soluções, vão consertar o rombo das contas públicas, gerar empregos, tapar os buracos das ruas, atrair indústrias e deslanchar o progresso. Usam velhos slogans como Muda, Avança, No Caminho Certo, Rumo ao Futuro, Unidos pela Cidade e e em cima dos palanques repetem as mesmas palavras carregadas de emoção e lágrimas. Levam a família, abraçam senhoras, beijam criancinhas, tomam café na casa do pobre, bebem cachaça, falam a linguagem do povo.   Depois de eleitos com despesas que jamais serão recuperadas com o salário de prefeito, desfrutam de uma lua-de-mel popular: do dia do resultado até o da posse, são convidados para casamentos, aniversários, batizados,churrascos e todos os tipos de festa. É o período mais feliz. Da posse em diante, tudo muda. Pedidos de emprego se avolumam, contas erradas aparecem, rombos colossais se destacam e o agora-prefeito, começa a reclamar de tudo e a culpar mais ainda, o antecessor, mesmo que por este tenha sido indicado. O encantamento se desfaz. As promessas são balões de gás perdendo-se no céu. Nada do que foi planejado para começar imediatamente começa, exceto as pressões. prefeito1-1-178x300   Tem-se, então, dois perfis distintos: um, resolveria todos os males da cidade. O outro, choraminga em praça pública. Não desejou tanto vencer? Acordos os mais impossíveis foram feitos, financiamentos altos aceitos, capacidade administrativa tinha de sobra, aplausos ainda ecoam nos tímpanos e agora, só críticas e apupos? O que mudou tão rapidamente? O que fez o antecessor que arrebentou tanto assim as finanças municipais? Em meio às desconfianças, o candidato puro, bem intencionado, é visto com desdém. Não acreditam nele e ao passar pela peneira eleitoral, as apostas em sua honestidade começarão a a rarear, mesmo que seja íntegro. As tentações, os auxiliares, as oportunidades e as provocações irão atordoá-lo. Não é nada fácil ser prefeito. Mesmo assim, o número de gente querendo, faz parecer ser a melhor das funções. Quatro anos irão se passar. Se tiverem direito a reeleição, enfrentarão tudo de novo. Na campanha, novas fórmulas explicarão o que não pode ser feito e um pedido de confiança para outro mandato será renovado. Com a garantia de, que, desta vez , dará tudo certo. Os opositores, do outro lado da rua, apresentarão seus xaropes milagrosos. Todos eles tem a carta certa oculta na manga para o lance capaz de transformar o município no Eldorado do Século XXI. Os eleitores, ávidos por uma palavra macia e sedutora, por bujões de gás e cestas básicas, por carinhos verbais e tapinhas nos ombros, de novo mergulharão no mar das ilusões. Eles sabem que nem tudo é verdade, mas, precisam acreditar. A pílula do dia seguinte virá abortar mais sonhos, mesmo assim, acreditarão. E as cidades vão continuar, em sua maioria, reféns de pessoas que não as amam. Querem delas, apenas nutridas verbas, gordos subsídios, doces mutretas, simpáticos conchavos e sedentas boquinhas divididas em pequenos grupos que se perpetuam. Quem estiver dentro da panela, vai defender com todos os talheres o quinhão merecido. Quem estiver na frigideira, longe do fogo do poder, prosseguirá em sua missão de apontar as falhas e sonhar em um dia ser parte do que já foi ou ainda não teve chance: dormir por 4 ou 8 anos sob os edredons do poder. E a cidade? A cidade que se dane!

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