Da história oculta
lucianaportinho 12/12/2013 20:54
Compartilho um artigo publicado no extinto jornal campista A Cidade. Escrito pelo advogado e também articulista da Folha da Manhã, Geraldo Machado. Outros tempos, vencidos nas lutas populares das ruas, pressionando os aparatos do poder federal, buscando apoio internacional... Sempre interessante, nesse deserto campista de registros históricos. Eu mesma desconhecia que Geraldo Machado tivesse sido procurador da prefeitura, antes do Golpe de 64. Vale a leitura. lp O QUIXOTE SANJOANENSE A gente se conheceu em 1961. Tempos difíceis. Posse de Jango ameaçada, tropas em movimento, o Sul em postura de luta... Estávamos, em campos opostos: eu, como Procurador da Prefeitura, ele liderando greve de servidores municipais por aumento salarial. Contrariando as ponderações dos que estavam (aspones, chefetes de todos os tipos, capangada, etc.) no gabinete do Prefeito, desci à rua, fui lá – encontrar com o grupo de grevistas. E dialogamos - conversa franca, direta, respeitosa, em que mais procurei ouvir. Dele ouvi, em nome dos grevistas, o agradecimento, de pronto reconhecido como sincero, tanto quanto reiterava o caráter da parede, que era – e foi – mesmo pra valer. Tempos depois, voltamos a nos encontrar. Era agosto de 64. Fui à casa de minha mãe, certa manhã, e dela ouvi um apelo para ir à Cadeia Pública, daqui de Campos, pois estavam precisando de mim. Um certo senhor Jorge, a mãe não guardou o sobrenome. Ainda tentei não ir, sob o argumento de que não era dado à advocacia criminal, ao que d. Ilde opôs o fato de que empenhara, na conversa ao telefone, sua palavra no sentido de que eu ir, sim. Afinal, o moço estava em aflição - e dizia só confiar no filho dela... Chegado ao presídio, lá estava ele, da mesma forma - inquieto. Só que com algumas marcas de porrada... Melhor definindo – cara inchada, olho quase fechado, marca da dor mais que física. Informado de que a prisão se dera, sem mandado, da parte de policiais de Niterói, redigi, ali mesmo, um pedido de habeas corpus, de logo levado a conhecimento do dr. Juiz Criminal, que, após as informações que requisitou no prazo de meia hora, concedeu a ordem e determinou a expedição de alvará de soltura. Levei o Alvará, entreguei a cópia própria ao carcereiro, recebi o preso e saímos pela porta da frente. Fui com ele, no meu carro, até as proximidades da casa de umas primas campistas dele. Ali o deixei, com recomendação expressa de sumir por algum tempo, deixar que os motivos da prisão fossem aclarados, enfim – dar tempo ao tempo ... Ao que soube, depois, os esbirros voltaram de uma farra num dos prostíbulos locais, deram pela falta do preso e, ao saberem do sucedido, comunicaram aos superiores. O Secretário de Segurança do antigo Estado do Rio, notório major do Exército, ao ser cientificado, deu um murro na mesa e mandou : “prendam todo mundo – o juiz, o carcereiro, o advogado, o escrevente – essa gentalha toda.....porra !” O juiz não foi preso (o pai, Desembargador...), o carcereiro tinha padrinho forte num dos líderes locais da “redentora”, e, finalmente, restou um mandado de busca e prisão do advogado ... Meireles morreu, não fiquei sabendo. Não pude render as homenagens a que fazia jus. Meu primeiro cliente por prática de “crime político”, no período que teve início numa manhã cinzenta de 1° abril de 1964. O que me leva a lhe render o tributo simples, mas de significado de quem conheceu o lado sonhador de um homem modesto. Só queria fazer História... [caption id="attachment_7315" align="alignright" width="200" caption="Ft. Facebook"][/caption] Advogado

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