Ninguém gosta de ficar na fila de espera para qualquer atendimento. Permanece na fila porque é obrigado, já que a demanda é maior que a oferta e não por uma questão cultural. Para que as filas não existam é necessário adequar a oferta de acordo com a demanda, isto se chama planejamento.
Planejar não é tão difícil quanto parece. A saúde está um caos, exatamente por ausência de planejamento. Tem gente que diz que esta falta é intencional para que a população esteja sempre à espera de uma alma caridosa que venha resolver o seu problema de atendimento. Com isso, fica devendo favor e refém desta alma que, regra geral, é um político ou um cabo eleitoral dele. Me nego a acreditar nessa tese.
Em Campos, cidade de um orçamento bi-bilionário e vamos para o tri, não cabe a essa altura do campeonato filas, tampouco ameaças de fechamento de maternidades por falta de obstetras e pediatras, ou porque o quê se paga aos hospitais não cobre os custos. A saúde não tem preço, mas tem custos, e estes são mensuráveis. Sabe-se quanto custa uma seringa, um rolo de esparadrapo, e por aí vai. Recursos humanos têm que ser formados e, quando trabalham, dignamente remunerados. Isto também é dimensionável!
A falta de planejamento começa nos ministérios da Educação e da Saúde. É fácil saber a quantidade de generalistas e especialistas de que precisamos. Existem estudos epidemiológicos e estatísticos a respeito desses assuntos, no entanto, não se sabe ou não se divulga de quantos pediatras precisamos no Brasil. As tabelas do SUS, já é mais do que sabido, não cobrem os custos do atendimento, tanto ambulatorial quanto hospitalar, pior, não são corrigidas.
Deixemos de lado os ministérios e vamos nos ater à nossa paróquia. Em outubro de 2002 apresentei proposta para complementação aos hospitais e profissionais que atendem o SUS. Aprovada pela unanimidade dos vereadores, colocada em prática, na ocasião salvou os hospitais da falência. Passados 11 anos, ao invés de ajustá-la de acordo com a inflação e a dolarização – mat-med tem preço em dólar – fez-se o contrário e aí, volta e meia, estamos sujeitos ao fechamento de serviços médicos.
Temos uma faculdade de medicina, enfermagem e fisioterapia. Temos hospital escola, além dos filantrópicos e sem fins lucrativos, conveniados ao SUS. Vamos planejar e, definitivamente, acabar com as filas e ameaças de fechamento de serviços ou o que interessa é manter o trabalho das almas caridosas?
Dr. Makhoul, Médico e Conselheiro dos Conselhos Regional e Federal de Medicina
* Artigo pulicado no dia 31/10, na Folha da Manhã