Estava aqui em um de meus voluntários e habituais exílios vespertinos, e em um breve passeio internético, resolvi pesquisar sobre o tema: O Poder da Mídia....
Deparei com este presente do companheiro Saulo Pessanha , publicado uns dias atrás...
Nos comentários do post, o objeto materializado de minha busca, disse o Sr. Claudio:
"É uma metáfora perfeita para mostrar o poder que a mídia detém, podendo influenciar para o bem ou para o mal."
Compartliho e agradeço Saulo...
A imprensa de Campos pelo avesso – um causo de Silvio Fontoura
Por Saulo Pessanha, em 26-12-2010 - 8h56
Para quem não conheceu Silvio Fontoura, fundador de A Noticia, vai aqui uma comparação generosa: era tão magro quanto Ceceu, que foi dono do Café Capital.
Belo dia, no Boulevard, um grupo de homens de bem o aborda:
— Doutor Silvio, seu jornal tem que tomar uma providência. Precisa dar uma matéria sobre esse mau-elemento, conhecido por Zé Grande, filho da viúva Cotinha.
O velho jornalista anotou tudo. Zé Grande era tipo truculento, batia até na guarnição de radiopatrulha. Ninguém podia com ele. Desrespeitava as moças de família, xingava e era capaz de gestos obscenos. E nada lhe acontecia. O sujeito era um armário. Dois metros de altura por três de largura, como se dizia.
No dia seguinte, o jornal circulou com uma matéria descendo o pau no bandidão. “O mau-elemento conhecido por Zé Grande, arruaceiro e desocupado, filho da viúva Cotinha, é um salafrário que precisa ser detido pelas autoridades…” e foi por aí. No final, a assinatura: Silvio Fontoura.
Ao passar no Boulevard, eventuais puxa-sacos de Zé Grande apresentaram o jornal a ele, lendo em voz alta. O marginal pegou o jornal e prometeu a todos:
— Esse Silvio Fontoura vai engolir isso aqui.
E partiu para o jornal A Notícia. Subiu as escadarias em dois tempos, meteu o pé na porta da sala do diretor e deu uns empurrões em Silvio. E voltou para se gabar no Boulevard.
No dia seguinte, em manchete, A Noticia publicava.
“Mau-elemento apanha de jornalista”. A matéria dizia assim: “Indignado, como se honra tivesse, o conhecido facínora conhecido por Zé Grande, insatisfeito com a matéria publicada ontem por nosso diretor dr. Silvio Fontoura, entendeu de vir à redação tirar satisfação e foi posto daqui pra fora com pontapé nos fundilhos …”
Quem leu espantou-se: um velhinho de metro e meio bateu naquele brutamontes? No meio policial, nascia um sentimento de que o marginal não era tudo que se pensava.
Ao caminhar no Boulevard, Zé Grande notou que as pessoas riam dele e ficou sabendo do motivo. Leu o jornal, releu e tomou uma decisão:
— Vou quebrar aquele velhinho — disse alto, em frente ao Restaurante 13 de Maio.
Contam que o sujeito, de fato, deu uma surra no jornalista. De volta ao Boulevard, Zé Grande apregoava a façanha. No dia seguinte, estava nas páginas do jornal.
“Cumprimos informar que nosso diretor, dr. Silvio Fontoura, reconhecidamente um homem de bem e que jamais se envolveria em cenas de selvageria, viu-se obrigado a abrir mão dessa condição de cidadão pacato e ordeiro e chegou às vias de fato com o marginal conhecido por Zé Grande. Não restou ao diretor outra alternativa senão aplicar uma merecida sova no meliante”.
No Boulevard, Zé Grande foi conferir a repercussão da surra que aplicara no velho Silvio. E deu de cara com um grupo de policiais, que caíram de cacete no seu lombo.
— Se o velho bateu, nós também podemos — diziam, enquanto desciam o cacetete.
Leia aqui a Coluna Comentários de Hoje do Jornal A Folha da Manhã