Mastectomia preventiva: atitude que gera dúvida
lucianaportinho 23/05/2013 13:19
[caption id="attachment_6324" align="aligncenter" width="600" caption="divulgação"][/caption]

A decisão da atriz estadunidense Angelina Jolie de tirar os seios aos 37 anos teve enorme impacto na cabeça de outras mulheres. A retirada das mamas — mastectomia preventiva dupla — foi radical. Ela é um ícone mundial da sexualidade feminina e de feliz comunhão, no atual matrimônio. Casada com outro expoente do sexo masculino, o ator Brad Pitt, juntos tem três filhos biológicos e três adotivos. Em 2009 a revista Forbes elegeu Angelina como a celebridade mais poderosa da Terra. A opção pela “mutilação” para evitar correr riscos estatísticos, em poucas horas correu as redes sociais. Anualmente, no Brasil, cerca de 50 mil mulheres recebem a notícia de terem câncer de mama, tipo mais comum na parcela feminina.

Preocupada em esclarecer o assunto com a mulher campista, a Folha Saúde foi conversar com o médico, cirurgião geral e mastologista, o diretor do Hospital Álvaro Alvim, Jair Araújo.

[caption id="attachment_6322" align="alignleft" width="300" caption="Ft. Rodrigo Silveira"][/caption] Sua fala é didática, disseca o assunto ao pontuar a exceção do caso da atriz, “A decisão dela é inatacável, só ela, a família e a equipe médica que a acompanha é que possuem dados para decidir. Cada caso é analisado como um caso que requer profunda pesquisa genética e acompanhamento multidisciplinar. Existem três formas de tratamento, o clínico, o cirúrgico e o radioterápico. O mastologista inicia o diagnóstico, aponta o caminho de tratamento. A pedra de toque é abordagem multidisciplinar, a decisão é compartilhada. Antigamente o médico tinha certa onipotência, não ouvia o paciente. Isso mudou”, afirma Dr. Jair. Segundo o médico, os índices atuais são favoráveis à cura do câncer quando são tomados os cuidados da mulher no diagnóstico precoce. Através dos exames (mamografia) regulares, da consulta médica e do autoexame o controle é mais amiúde, o tratamento mais eficaz e mais curto. “O teste genético ao qual Angelina se submeteu não tem valor preditivo. É um dado estatístico. Estatística é referência importante para análise em coletivos não no individual. Havia a possibilidade de vir a desenvolver a doença, ela optou por cortar a possibilidade, não a doença, já que esta estava no campo das possibilidades”, fala ele. Mesmo na retirada “total” de mama, ficam 5% do tecido mamário e se ali nos 5% a doença se desenvolve? “Há que se ter cuidado em atitudes sem efeito prático e que predisponham as mulheres à fobia social. Cada caso é visto de forma isolada, assim como a decisão. O ser humano é uma integralidade, não uma parte”. Ao se defrontar com a possibilidade real da doença, de um modo geral, as pessoas apresentam cinco reações, sem hierarquização entre elas: 1) negação — quando o paciente não aceita, nega, não admite e perde tempo para o início do tratamento; 2) ira — é o momento da inconformidade por se sentir injustiçado, atrapalha muito; 3) barganha — faz todo o sacrifício para recuperar a saúde; 4) depressão — o paciente fica imobilizado, sem atitude e 5) aceitação — é quando consciente de que tem o câncer, precisa lutar. “Estes estados se alternam, há o conflito, tudo passará rápido. No caso da Angelina, a opção foi ditada por se encontrar na barganha. Decidiu se sacrificar para cortar a possibilidade de um eventual sofrimento aos filhos”, finaliza. Luciana Portinho Folha Saúde de ontem, 22/05.
 

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