Ele continua o mesmo Aristides
lucianaportinho 06/05/2013 16:22
Ele é Patrimônio da Humanidade. Um dos, certamente, mas, não é para qualquer um. Um carioca que, aos 23 anos aqui aportou, fincou raiz, amadureceu, espalhou sementes.  Trata-se de Aristides Arthur Soffiati, professor universitário, ambientalista, acadêmico e um dos mais antigos colaboradores da Folha da Manhã.  Soffiati lança o livro “As Lagoas do Norte Fluminense” (Essentia Editora), na próxima quinta-feira, em noite de autógrafos  no Campus/Centro do  IFF , às 18 horas. Na ocasião, ele relança o livro “Mínima Poética”, anteriormente lançado na Academia Campista de Letras. [caption id="attachment_6178" align="aligncenter" width="550" caption="Charge Marco Antonio Rodrigues (Capa da Folha Dois, domingo, 5/05)"][/caption]

 

“As Lagoas do Norte Fluminense” é uma coletânea de artigos jornalísticos, entrevistas, cartas públicas e documentos, alguns raros. Não é um livro científico.  Foi escrito com uma linguagem agradável e acessível, bem ao estilo Soffiati. “Demorei muito, desde 1978, escrevendo e reunindo o material sobre órgãos que foram extintos como o DNOS – Departamento Nacional de Obras de Saneamento. A sede geral do DNOS era ao lado da Favela da Maré, no Rio de Janeiro. Informaram-me, então que com a extinção das funções do departamento, o prédio estava largado, os papéis, mapas e fotografias estavam sendo vendidos a peso pela população. As fotografias, em torno de 17 mil, usadas como varal de roupa. Na época eram filmes de celulóide. Fui ao Ministério Público, fiz a denúncia. Tive acesso a cópias que me foram doadas e entreguei o material do Norte fluminense ao IFF, está lá preservado e digitalizado”, diz o professor. Soffiati esclarece que a maioria dos textos foi publicada na Folha, entre 1978 e 2012. A sua trajetória de luta em defesa das lagoas do Norte fluminense está esmiuçada. “É a parte mais opulenta do livro de um indivíduo que foi aprendendo, apanhando e adquirindo conhecimento como um instrumento necessário ao embasamento das lutas. Dele constam propostas, não só denúncias e reclamações. Deixo minha contribuição a quem quiser trabalhar. Se destina ao leigo, mas, à pesquisa também”, relata. A capa é bonita, uma panorâmica do nosso litoral com a terra sinuosamente alinhavada pelas águas da Lagoa do Açu e do Banhado da Boa Vista. Na contracapa, em preto e banco, a imagem inesperada de Soffiati em pé em um barco sendo literalmente protegido por um soldado armado, um fuzileiro naval. No fundo do barco muitos canos de PVC, artefato que foi utilizado para dinamitar os diques irregulares que reduziam o espelho d’água da Lagoa Feia. “Esperava nunca ver isso”, relembra risonho. Este ano de 2008, foi o momento áureo da sua luta em prol da preservação do patrimônio ambiental. Foi um verão com enchente,  que o Ministério Público o procurou para que apresentasse alguma solução. “Era preciso ampliar a área original da Lagoa Feia, reduzir o impacto das enchentes. Uma lagoa é também uma esponja”. O professor informa que no início do século XX, em 1900, a Lagoa Feia, tinha 370 km². Em 1970 só estava com 170 km², ou seja, em apenas 70 anos perdera 200 km², mais da metade. “Propus, detonar cinco diques. Foi inacreditável, ter os militares me defendendo, rompemos quatro deles. Hoje, segundo estudo do IFF a Lagoa Feia recuperou 40km². Está com 210km²”, fala satisfeito com a vitória. Olhando para trás, Soffiati, nitidamente observa a falta de noção do perigo e a sua ousadia em desafiar pessoas do Exército, Polícia Federal, deputados estaduais, vereadores. Foi sete vezes processado, ganhou todas. Entre os que o processaram estão o radialista Barbosa Lemos, a Cedae e o deputado federal Garotinho. Também foi processado por uma juíza de São João da Barra, “Reconheço que eu tinha uma atitude temerária, fazia parte, não retiro nada, não me arrependo, conta uma história”, frisa ele. O professor que fez da defesa da natureza o seu campo de lutas nunca quis se ligar diretamente a política, apesar de sempre ter feito política. Não pertenceu a algum partido político. Fez do Centro Norte Fluminense de Conservação da Natureza – CNFCN – a sua ferramenta, o seu partido. “Fui percebendo o quanto é fácil ser revolucionário em sala de aula. Ao longo dos anos, me calibrei no processo, sem perder o perfil crítico”. No presente, Soffiati, está aposentado do magistério, não da vida pública. Afirma carregar um ônus: “Me pedem tudo, que eu resolva tudo. Bajulam-me, pesa uma responsabilidade. Mas não sou órgão público”! Luciana Portinho Capa da Folha Dois, domingo, 5/05.
 

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