A Tribo do Pau Pequeno
João Noronha 11/03/2012 08:00

*José Cunha Filho

A minha amiga Nathália é apetecível. Divorciada, 40 anos bem distribuídos em um corpo perfeito, rica psicanalista lacaniana com consultório em Botafogo. Passeávamos em Grussai, manhã cedinho. Outras pessoas desfrutavam a brisa amena, a areia dourada. Poucas. A horda só acomete a praia depois do meio-dia para ser vista. Aí passou uma camionete imensa, dirigida por jovem musculoso. Uma lona cobria a carroceria. O cara cumprimentou Nathália com um aceno de cabeça. - Melhor a gente ir embora... Ele vai estacionar lá na frente... - Sim... Mas tem muito espaço... Nathália acenou para a minha mulher que estava à beira-mar e fez sinal para que ela viesse. - Ele é meu paciente no Rio. Integra a Tribo do Pau Pequeno e Trovão. Arrumou um cargo político, mora num quarto-e-sala conjugado alugado na Penha, mas comprou a prestação este carrão enorme, encheu de equipamento de som. Eu cobro 200 contos por consulta, ele não me paga desde outubro... Não deu outra. Em segundos, a praia tornou-se inabitável. O cara desceu, acompanhado de outro microcéfalo e abriu o som. Os espera-marés se esconderam, uma velhinha, que tomava sol mais a frente, viu o guarda-sol fechar-se sobre ela e um guarda-vidas solitário despencou da torrinha. A trepidação fez saltar a dentadura de uma antiga socialite que saiu correndo, banhas moldadas por Pitanguy tremulando.  Terrível... Como não há providências que sejam tomadas, batemos em retirada. Em casa, bem distante, ouvia-se ainda o barulhão. Nathália então me falou da tese que defendera em recente congresso lacaniano em Paris. - Na realidade, Freud dera a pista. A obsessão por coisas grandes, enormes, despropositais, é típica do padecente da síndrome da libido anal, a da retenção, e sentimento de inferioridade sexual. No caso, um candidato a integrar o que chamo de Tribo do Pau Pequeno e Trovão. - Trovão? Peidam alto é? - Não, seu chato... É uma metáfora. Quanto mais alto o barulho que produzem, maior a satisfação que sentem. É como se dissessem: “eu tenho pau pequeno, mas carro grande e faço muito barulho...” Nathália acrescentou: - Já percebeu que eles andam em grupo? Fingem esbanjar saúde, tatuam o corpo, usam bermudões, às vezes amarram pepinos entre as pernas para impressionar as fêmeas e ocultar o pênis minúsculo e raramente você os vê acompanhados, exceto de outros machos. Pois não é que a Nathália tem razão? E, pelo jeito, a tribo resolveu fazer uma convenção nas praias fluminenses, sem o risco dos seus carros apreendidos. Como sabem, é crime, a lei ordena que se recolham os carros com som fora do padrão de fábrica. Porém, se for seguida, o que restará aos pobres coitados? Pintar a bunda de vermelho e enfiar o pepino no rabo?

* é jornalista, escritor e acadêmico

 

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