Artigo de domingo: A escolha do PT
- Atualizado em 02/09/2018 01:12
Embora fossem poucas as alternativas do Partido dos Trabalhadores (PT), a derrota no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que negou registro ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não abranda o gosto de derrota anunciada. Preso desde 7 de abril, após ser condenado em segunda instância na Operação Lava Jato, Lula foi mantido e insistido como candidato mesmo sabendo que seria quase impossível uma aprovação pela Justiça Eleitoral. Ok que, em algumas vezes, já houve a famosa “interpretação da lei”, mas a regra é clara: Condenado por decisão colegiada tem registro indeferido. Não fosse por isso, se o PT acredita na sua própria tese de perseguição, saberia que dificilmente o TSE, com a faca e o queijo na mão, deixaria de cortar.
Em seu voto, o ministro Luis Roberto Barroso e outros que o seguiram foram explícitos em dizer que não era Lula que estava sendo julgado ali. Tampouco, o mérito do fato que o levou à condenação e a conseqüente inelegibilidade. Deixaram entrever que não estava em discussão se concordavam ou não com a condenação. Mas ela existia. É fato. E contra fatos...
Talvez o que tenha surpreendido seja a rigidez em banir o candidato da campanha, antes mesmo de esgotados os recursos. Apesar de o TSE ser o órgão máximo da Justiça Eleitoral, ainda cabe recurso a ele próprio e até ao Supremo Tribunal Federal (STF). E, até então, havendo recurso, o candidato poderia continuar concorrendo, mesmo sub-judice. Resta saber se o caso de Lula abrirá jurisprudência, traçando o caminho que tomará o Tribunal Superior a partir de agora.
O certo é que o PT corre contra o tempo: Tem 10 dias para substituir o candidato. Mesmo assim, ontem ainda falava em Lula na disputa e em novos recursos. Se esperar o prazo do TSE, vai perdendo tempo em tornar Haddad conhecido e, mais que isso, apontá-lo como o “escolhido” para ser a voz de Lula, tentando garantir, assim, a transferência dos votos. Por outro lado, se substituir Haddad logo, uma ala do PT teme perder o discurso de “Lula livre” e seu direito de ser candidato, reforçado pelos quase 40% dos eleitores brasileiros que dizem que votariam nele.
Em coletiva, ontem, em Garanhuns, terra natal do ex-presidente, Haddad jurou lealdade a Lula. Talvez, com isso, tenha garantido o passaporte para tornar-se candidato de fato e rodar o Brasil, apresentando propostas e ser conhecido e reconhecido. Apesar de, como candidato a vice, Haddad estar fazendo um tour intensivo no Nordeste, base eleitoral de Lula, o caminho é longo e o tempo curto. Para se ter uma idéia, ele é chamado de Andrade e pode passar despercebido pelas ruas. Haddad pretende ir amanhã a Curitiba falar com o ex-presidente para bater o martelo sobre a troca oficial. Mas, como bem sabem os petistas, quem vai decidir é Lula.
Do outro lado da moeda, o nome mais conhecido, para o bem ou para o mal, é o de Jair Bolsonaro, que, incrivelmente, guarda similaridades com Lula. Tem eleitores tão apaixonados quanto, mas, ao contrário da paixão, por vezes cega, de petistas, os de Bolsonaro estão abrindo os olhos e fazendo o trabalho de formiguinha na tentativa de multiplicar os votos. Por duas vezes semana passada, presenciei a ação deles: Uma, em um grupo de médicos, onde um deles citava o economista Paulo Guedes e suas idéias para eventual governo do candidato do PSL. Outra, em uma loja de operadora de celular, em que um dos atendentes fazia o mesmo trabalho com um colega. Duas realidades distintas, em um mesmo discurso, deixando de lado a tradicional pecha de homofobia, racismo e misoginia.
Mesmo com a indicação das pesquisas de que qualquer candidato, até o momento, pode vencer Bolsonaro em um segundo turno, ele tem a vantagem de ser conhecido. Haddad tem a vantagem, se bem trabalhada, de ser o candidato de Lula. Resta saber quem vai aproveitá-la melhor.
 
 

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    Suzy Monteiro

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