Primeira prisão completa um ano
Aldir Sales 15/11/2017 14:56 - Atualizado em 17/11/2017 17:14
Há exatamente um ano o ex-governador Anthony Garotinho (PR) era preso pela primeira vez no âmbito da operação Chequinho, acusado de associação criminosa e coação no curso do processo, em mandado expedido pelo juiz Glaucenir Oliveira, então responsável pela 100ª Zona Eleitoral de Campos. Então secretário de Governo da esposa e prefeita Rosinha Garotinho (PR), o político da Lapa chegou a passar uma noite no Complexo Penitenciário de Bangu. Entre idas e vindas de pelo menos três hospitais diferentes, o momento ficou marcado pela cena de Garotinho se rebatendo em uma maca, resistindo a transferência para Bangu, que aconteceu no dia 17 de novembro de 2016. Pouco tempo depois, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) converteu a reclusão em medidas restritivas.
Dez meses depois, o marido de Rosinha foi sentenciado em primeira instância a 9 anos, 11 meses e 10 dias de prisão como “comandante do esquema criminoso” de troca de Cheque Cidadão por votos na última eleição municipal em Campos e passou uma semana em prisão domiciliar, antes de ser novamente beneficiado por um habeas corpus do TSE.
Garotinho foi preso na manhã do dia 16 de novembro de 2016 em seu apartamento no Flamengo, no Rio de Janeiro. De lá, ele seguiu para a Superintendência da Polícia Federal e deveria ser transferido para Campos. No entanto, alegou um súbito mal-estar e foi internado no hospital Souza Aguiar, onde passou a primeira noite preso.
No dia 17, Garotinho foi levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Complexo Penitenciário de Bangu, após decisão de Glaucenir para transferência. O magistrado disse ter tomado conhecimento de regalias ao ex-governador no Souza Aguiar. Garotinho se recusou a sair do hospital, mas foi levado à força, com direito a gritos de Rosinha e da filha Clarissa. As cenas da transferência logo se espalharam pelas redes sociais e se tornaram um símbolo da primeira prisão do ex-governador.
No dia 18, um laudo da UPA de Bangu atestou que a unidade tinha condições de atender ao ex-prefeito de Campos. Mas a ministra do TSE Luciana Lóssio o liberou para tratamento em hospital particular, pago por seu próprio bolso, e, posteriormente, prisão domiciliar. Já nos primeiros minutos do dia 19, ele deu entrada no Quinta D’Or.
No dia 20, Garotinho foi submetido a um cateterismo e a implantação de um stent. No mesmo dia, ele se recusou a ser examinado por uma equipe de peritos do Ministério Público, por ordem do juiz da 100ª. Glaucenir alegou suspeitar da idoneidade do médico Marcial Raul Uribe, que cuidou do ex-governador. No blog Ponto de Vista, hospedado na Folha1, Christiano Abreu Barbosa mostrou que o médico foi demitido pelo ministério da Saúde por acumulação ilícita de cargos públicos e teve uma aposentadoria cassada pelo mesmo motivo. Marcial teve cargo por indicação política quando Garotinho era governador. Para Uribe, o posicionamento do juiz se deve a “questões políticas”.
Quatro dias depois, o plenário do TSE decidiu seguir o voto de Lóssio e liberou Garotinho da prisão domiciliar, mas o proibiu de pisar em Campos sem autorização do juízo e manter contato com demais réus e testemunhas do processo durante a fase de instrução do processo, o que perdurou até a condenação em primeira instância. 
Juiz alega denuncia tentativa de suborno
Entre as muitas polêmicas envolvendo a operação Chequinho está a suposta tentativa de suborno a pessoas próximas de Glaucenir Oliveira para tentar, segundo denúncia apresentada pela Polícia Federal, de impedir a prisão de Anthony Garotinho e do filho Wladimir. O caso foi denunciado pelo próprio juiz e no último dia 21 de setembro, o delegado da PF em Campos, Paulo Cassiano, revelou detalhes do inquérito, que foi transformado em denúncia pelo Ministério Público Eleitoral (MPE) e acatado pela Justiça Eleitoral. De acordo com o oficial, o advogado e ex-procurador da Câmara de Campos, Felippe Klem, seria o intermediário.
Segundo Cassiano, Klem teria procurado dois empresários e amigos pessoais do juiz, em ocasiões distintas. Em uma delas, a quantia oferecida era de R$ 5 milhões, a quem também foi esclarecido que “o céu é o limite”, dando a entender que a proposta poderia ser aumentada. De acordo com a denúncia, a proposta foi feita ao empresário Abdu Neme, filho do vereador Abdu Neme. A outra seria de R$ 1,5 milhão, através do também empresário Thiago Pereira.
Condenado e preso quase 10 meses depois
Dez meses depois da primeira prisão, Anthony Garotinho foi condenado a 9 anos, 11 meses e 10 dias de reclusão em regime fechado e foi encaminhado à prisão domiciliar na “casinha da Lapa” pelo juiz Ralph Manhães, no dia 13 de setembro. Na sentença, o juiz destaca que o ex-governador cometeu os crimes de corrupção eleitoral, repetida 17.515 vezes, associação criminosa, supressão de documento e coação no curso do processo e que Garotinho utilizou o Cheque Cidadão para compra de votos, gerando prejuízo aos cofres públicos de R$ 11 milhões. Na decisão, o juiz fala, também, que ele praticou uma série de atos para impedir o avanço da ação penal e que o “grupo criminoso comandado pelo réu” coagiu e intimidou testemunhas.
O ex-secretário de Governo de Campos ficou preso por duas semanas e ganhou o direito de responder em liberdade após nova decisão do TSE. Recentemente, Garotinho lançou sua pré-candidatura ao Governo do Estado, mas uma decisão desfavorável em plenário pela segunda instância pode leva-lo novamente a outro capítulo desta história conturbada.
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