Crimes sob fachada da política
Suzy Monteiro 23/11/2017 00:02 - Atualizado em 24/11/2017 18:32
Rosinha transferida para o Rio
Rosinha transferida para o Rio / Paulo Pinheiro
Uma investigação de cinco meses que resultou em Inquérito da Polícia Federal (PF) e denúncia do Ministério Público Eleitoral (MPE). O que foi relatado nas duas peças serviu de base para a decisão do juiz Glaucenir Oliveira, que, ontem, determinou as prisões do casal Anthony e Rosinha Garotinho, do ex-secretário de Controle e Orçamento Suledil Bernardino, o ex-subsecretário de Governo Thiago Godoy, ex-coordenador de campanha Ney Flores, além do policial civil aposentado Antônio Carlos Ribeiro da Silva, o “Toninho”, que seria o braço armado do grupo. Também tiveram as prisões decretadas o presidente nacional do PR Antônio Carlos Rodrigues e seu genro Fabiano Alonso. Rodrigues deve apresentar-se na manhã de hoje. Na decisão, o magistrado cita uma Organização Criminosa (Orcrim), com braço armado “a intimidar pessoas, demonstrando toda periculosidade e especializada em extorquir empresários com o fito de obter altas quantias em espécie para favorecer e facilitar as campanhas eleitorais”.
A denúncia do MPE tem 150 páginas e foi assinada pela promotora Maristela Naurath. Nela estão relatados os supostos crimes e os prejuízos financeiros que chegariam a R$ 3 milhões somente da parte do empresário André Luiz da Silva Rodrigues, sócio da Ocean Link, proprietário da Working e que delatou o esquema.
Garotinho preso no Rio
Garotinho preso no Rio / Agência O Dia
O MPE relata como teriam acontecido os crimes, mostra extratos bancários que comprovariam os repasses da JBS para a Ocean Link, além de emails de negociações e a delação do empresário. Requer, ainda, a oitiva de oito testemunhas, entre elas o ex-vice-prefeito de Campos Francisco Arthur Oliveira, o Dr. Chicão, que concorreu à sucessão de Rosinha, e o deputado estadual Geraldo Pudim. Este último já teria prestado depoimento à PF.
No Inquérito da PF está relatada uma reunião que o ex-governador Garotinho teria comandado, em 2014, na torre do Rio Sul, em Botafogo, Rio de Janeiro. Na reunião, ainda segundo a PF, Garotinho teria cobrado R$ 5 milhões a vários empresários campistas. O dinheiro seria usado na campanha dele ao Governo do Estado, Ainda de acordo com as investigações, Garotinho temia não ir para o segundo turno das eleições por estar perdendo fôlego financeiro. Durante a reunião teria chegado ao escritório o deputado Geraldo Pudim, que ainda fazia parte do grupo político do ex-governador.
Na decisão, o juiz Glaucenir Oliveira cita trechos da delação de André Rodrigues, como quando ele fala ter sido procurado pelo advogado Thiago Godoy, que teria dito que “para liberar os pagamentos da Working, o reinquirido, deveria pagarcerca de R$ 900.000,00”. Também o teria assediado o ex-secretário Suledil Bernardino “com intuito de sondar o colaborador e pressioná-lo a fim de que os fatos criminosos não viessem à tona”.
Sobre Suledil é falado que: “mesmo sabendo que Anthony Garotinho não ocupava nenhum cargo no governo municipal, era quem cumpria suas determinações, retendo notas fiscais ou retardando o processamento dos procedimentos de pagamento das empresas, para obrigar os empresários a implorarem pelos pagamentos, o que fazia com que os empresários ficassem sempre devendo favores aos integrantes do governo”.
Conclui a decisão: “Com suas atividades contínuas, os réus demonstram e acreditam que seus poderes estão acima da lei e da ordem, restando evidente que os mesmos exercem poder intimidativo sobre pessoas comuns e empresários, especialmente aquelas que estão envolvidas nos fatos ora objeto de cognição”.
Irregularidade negada e defesa de Clarissa
Em nota, os ex-governadores Anthony Garotinho e Rosinha Garotinho atribuíram suas prisões “a mais um capítulo da perseguição que vêm sofrendo desde que o ex-governador denunciou o esquema do governo Cabral e do desembargador Luiz Zveiter.
Não por acaso é Glaucenir de Oliveira quem assina os pedidos de prisão, o mesmo juiz que decretou a primeira prisão de Garotinho no ano passado, após este ter denunciado Zveiter à Procuradoria Geral da República”.
A nota continua com a afirmação de Garotinho que: “nem ele nem nenhum dos acusados cometeu crime algum e, conforme dissera em seu programa de rádio, chegou a ser alertado por um agente penitenciário a respeito de uma reunião entre Sergio Cabral e Jorge Picciani no presídio de Benfica, na qual o presidente da Alerj teria afirmado que iria dar um tiro na cara de Garotinho.
A perseguição é tão evidente que a ordem de prisão de Glaucenir foi no sentido de que Garotinho fosse conduzido para o presídio de Benfica, onde estão políticos cujos crimes só vieram à tona por causa das denúncias do ex-governador”, concluiu a nota.
Além da nota oficial, apenas a filha do casal, Clarissa — deputada federal licenciada e secretária de Desenvolvimento, Emprego e Inovação do município do Rio — manifestou-se sobre as prisões. Ou melhor, sobre a prisão do pai. Ele demonstrou preocupação com a segurança do pai, transferido do quartel dos Bombeiros para o presídio de Benfica.
Clarissa afirmou que um agente penitenciário de dentro do presídio de Benfica teria procurado Garotinho e relatado conversa entre o ex-governador Cabral e o presidente da Alerj Jorge Picciani. Picciani teria sido cobrado por Cabral a respeito de Garotinho e teria respondido: “Pode deixar que agora é comigo”.
Clarissa disse que enviaria petição ao governador Pezão, o secretário de Segurança do Estado, o juiz Marcelo Bretas e o desembargador do TRF Abel Gomes sobre a segurança física de seu pai.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS