Edgar Vianna de Andrade - Winsor Maccay e os primórdios da animação
*Edgar Vianna de Andrade 29/01/2025 11:58 - Atualizado em 30/01/2025 12:30
Com uma câmara fotográfica clássica, não é possível fazer um filme. Por mais veloz que sejam máquina e fotógrafo, as imagens capturadas e colocadas em série não formarão um continuum. A câmara filmográfica aperfeiçoou a câmara fotográfica ao conseguir 24 fotos por segundo. Rodando esse conjunto num projetor, consegue-se passar a sensação de que a realidade foi capturada em movimento. Essa é a inovação do cinema. Mas a dificuldade em mostrar o movimento continuou com objetos parados e desenhos. Quando se coloca um animal de massa cuja posição deve ser mudada e fotografada para que o conjunto dos fotogramas confira a sensação de movimento, a operação se torna mais difícil. Tudo fica ainda mais complicado quando esse animal ou algo parecido deve ser sincronizado com alguém filmado. Parece que a pessoa tem movimentos normais, enquanto o animal parece saltar de um movimento para outro sem os intermediários. Mas essa dificuldade foi contornada pacientemente com a técnica do stop motion. Com o desenho, o problema é o mesmo.
Winsor MacCay (1869-1934) aprimorou a inovação da fotografia em ação ao conseguir desenhar à mão a mesma figura 24 vezes mudando o seu movimento. Se ele não foi o criador da animação, foi o desenhista-cineasta que a sistematizou. Ele já era considerado um dos grandes quadrinistas do seu tempo, sobretudo com a página dominical de “Little Nemo in Slumberland”, que foi publicada entre 1905 e 1914 e de 1924 a 1927. Em poucos quadros, ele mostra o pequeno Nemo comendo muito antes de dormir e tendo pesadelos psicodélicos. O pesadelo terminava com ele caindo da cama. Aventou-se até que MacCay era usuário de alucinógenos. Por mais criativo que fosse, o desenhista expressa bem os quadrinhos do seu tempo. Sua influência sobre Moebius, Ware, Joyce e Sendak é indiscutível.
Em 1911, ele leva “Little Nemo” para a animação. Consolidava-se aquilo que seria conhecido por desenho animado. Criativo, várias de suas animações começam com filmes reunindo amigos que riem de suas ideias e apostam que ele não conseguirá animar um bicho, por exemplo. Então, ele começa a traçar o mesmo desenho em posições diferentes e mostra como, colocadas num projetor (já se conhecia o cinema), as imagens conferirão movimento à figura. Em 1912, ele criou a animação “Como um mosquito opera”. É um exercício pródigo de animação. Em 1914, ele lança “Gertie, o dinossauro”, considerada sua obra-prima. Os filmes sobre dinossauro aparecem em 1917. MacCay é um pioneiro. Como, naquela época, encontrar uma pegada para colocar humanos em contato com dinossauro? “O mundo perdido” (1925) salva da extinção exemplares de dinossauros nos recônditos amazônicos. “O mundo dos monstros pré-históricos” (1957) idem. Só que nos subterrâneos da Antártica. Em “Mil séculos antes de Cristo” (1966) e “Quando os dinossauros dominavam a Terra” (1970), humanos são transportados para um tempo em que a humanidade ainda não existia e em que os dinossauros já estavam extintos. Sem nenhuma explicação para esse inusitado encontro, os dois filmes parecem querer exibir os corpos estonteantes de Rachel Welch e Victoria Vetri.
Em “Planeta dos dinossauros” (1978), os dinossauros ainda vivem mas em outro planeta. “Ameaça pré-histórica” (2023) volta no tempo e promove o encontro de dois humanos com os dinossauros pouco antes de sua extinção. Só em 1993, teremos uma explicação convincente em “Jurassik park”: recorrendo à engenharia genética, dinossauros serão reconstituídos em nosso tempo. Em 1914, foi o que MacCay fez com os dinossauros: tirou o esqueleto de um deles do museu e lhe deu vida.
E sua arte não produzia animações com movimento binário, como os primeiros de Walt Disney. Esses movimentos eram mais complexos. Ele poderia ter se transformado num empresário da animação, mas sempre quis continuar como um artesão.

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