Garotinho e Rosinha são presos
Aldir Sales, Paula Vigneron, Joseli Matias e Julia Beraldi 23/11/2017 09:08 - Atualizado em 24/11/2017 18:32
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Os ex-governadores Anthony Garotinho (PR) e Rosinha Garotinho (PR) foram presos preventivamente, nesta quarta-feira (22), no âmbito da operação Caixa d’Água, acusados de corrupção, concussão, participação em organização criminosa e falsidade na prestação das contas eleitorais e até uso de armas de fogo para intimidação. Segundo a denúncia apresentada pelo Ministério Público Eleitoral (MPE) com base nas delações premiadas do ex-executivo da JBS, Ricardo Saud, e de empresários locais, a multinacional dos alimentos firmou contrato fictício com a empresa de serviços de informática Ocean Link para repassar R$ 3 milhões para a campanha de Garotinho ao Governo do Estado em 2014. Além disso, o político da Lapa é apontado como o comandante de um esquema para cobranças de propinas na Prefeitura de Campos durante a gestão de Rosinha. A ligação entre o casal, a delação da JBS e possíveis envolvimentos com o esquema denunciado foi mostrado pelo jornalista Ricardo André Vasconcelos e pelo blogueiro da Folha1 Christiano Abreu Barbosa no dia 20 de maio.
Ao todo, oito mandados foram expedidos desde a última sexta-feira pelo juiz Glaucenir Oliveira, o mesmo que determinou a primeira prisão do ex-prefeito de Campos no âmbito da operação Chequinho no dia 16 de novembro de 2016, e que assumiu o caso por causa da suspeição alegadas pelas magistradas Elisabete Franco Longobardi, titular da 98ª Zona Eleitoral de Campos e Maria Daniella Binato de Castro. Além do casal Garotinho, também foram presos o ex-secretário de Governo de Campos, Suledil Bernardino, o advogado e ex-subsecretário de Governo, Thiago Godoy, além do empresário Ney Flores Braga e do policial civil aposentado Antônio Carlos Ribeiro Da Silva, conhecido como Toninho. Também foram expedidos mandados contra o presidente nacional do PR, Antônio Carlos Rodrigues, e seu genro, Fabiano Rosas Alonso. A defesa de Rodrigues alegou que ele está fora do país e vai se entregar nesta quinta (23).
Garotinho foi preso por agentes da Polícia Federal (PF) logo pela manhã em seu apartamento no Flamengo, Zona Sul do Rio de Janeiro, enquanto Rosinha estava em Campos para a apresentação da conclusão de curso superior de uma das filhas. Sob protestos, xingamentos e revolta de populares, Anthony saiu da Superintendência da PF na capital para a Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, a mesma onde estão o ex-governador Sérgio Cabral e os deputados estaduais Jorge Picciani, Paulo Melo e Edson Albertassi, todos do PMDB. No entanto, um delegado decidiu levar Garotinho para o quartel do Corpo de Bombeiros em Humaitá, também na Zona Sul. Enquanto isso, em Campos, a ex-prefeita foi levada para o Presídio Feminino Nilza da Silva Santos, onde foi recebida a gritos por outras presidiárias.
No final da tarde, o juiz Ralph Manhães, que assumiu tabelarmente a 98ª ZE nesta semana, o mesmo que condenou Anthony Garotinho a 9 anos, 11 meses e 10 dias de prisão por “comandar o esquema criminoso” de troca de votos por Cheque Cidadão na última eleição municipal, determinou que o ex-secretário de Governo de Campos fosse transferido para Benfica em um local isolado dos demais detentos. O magistrado também mandou Rosinha para o Rio de Janeiro depois de receber informações de que a ex-governadora estava no setor administrativo do presídio e não em uma cela.
Já Suledil e Toninho estão na Cadeia Pública Dalton Crespo, em Campos, enquanto Godoy foi preso no Rio de Janeiro.
Caso é acompanhado em Campos desde maio
O Brasil foi acordado ontem com a notícia de mais dois ex-governadores do Rio de Janeiro presos, suspeitos de envolvimento em esquemas de corrupção. No entanto, o caso que deu origem a operação Caixa d’Água vem sendo acompanhando de perto pelo jornalista Ricardo André Vasconcelos e pelo blogueiro da Folha1 Christiano Abreu Barbosa desde maio.
Após a divulgação das bombásticas delações de ex-executivos da JBS, Ricardo André e Christiano repercutiram nos blogs “Eu Penso que...” e “Ponto de Vista”, respectivamente, que o nome de Garotinho aparecia em um dos documentos apresentados por Ricardo Saud, uma nota fiscal emitida em Campos em nome da Ocean Link, no valor de R$ 3.004.160,00, usada, segundo a delação, para pagamento de propina ao presidente nacional do partido do casal campista, Antonio Carlos Rodrigues.
Na ocasião, Christiano destrinchou as relações da empresa Ocean Link, que tem como proprietária o empresário André Luiz da Silva Rodrigues, também dono da Working, grande prestadora de serviços durante o governo Rosinha, e que fechou acordo de delação com a Justiça Eleitoral para entregar como funcionava o esquema.
Nos dias seguintes, a Folha da Manhã mostrou que endereço apresentado pela empresa em Campos, no Parque Aurora, não existia. A promotoria criminal do Ministério Público Estadual (MPRJ) chegou a abrir uma investigação sobre o caso, que acabou sendo transferida para a esfera eleitoral.
Posteriormente, a secretaria municipal de Fazenda esclareceu que o serviço descrito no documento não tem qualquer relação com a Prefeitura de Campos e que a nota apenas foi gerada no município.
Marcão repercute na Câmara de Vereadores
Palco de discussões calorosas entre situação e oposição, a Câmara de Vereadores de Campos teve um dia tranquilo ontem. Mesmo com todos os acontecimentos envolvendo as prisões dos ex-governadores e ex-prefeitos de Campos, poucos foram os vereadores que utilizaram a tribuna livre para falar sobre o assunto.
O presidente da Casa, Marcão Gomes (Rede), foi um dos que falou sobre as denuncias que levaram o casal para a cadeia. Segundo ele a cidade e a população estão pagando por terem sido “assaltados durante muitos anos”.
— Todos nós sabemos dos problemas que Campos está passando hoje é porque os cofres públicos foram assaltados. A população está pagando pela falta desses recursos que foram desviados para ser utilizado em campanhas eleitorais, dinheiro esse que poderiam ter impedidos que os programas sociais fossem suspensos. A Justiça está de parabéns — declarou.
Amaerj publica apoio a juiz
Após as declarações do ex-governador, a Associação dos Magistrados do Estado do Rio de Janeiro (Amaerj) divulgou nota de apoio ao juiz eleitoral de Campos.
“Ao longo de processo judicial por crime eleitoral, inúmeras vezes o ex-governador fez acusações sem provas contra membros do Judiciário fluminense.
Nesta quarta-feira, o ex-governador volta a atacar magistrados do Rio. Mistura fatos e personagens sem nenhuma relação, com o objetivo de confundir o público, vitimizar-se e desviar o foco do processo judicial, que resultou em sua nova prisão.
A custódia de presos é de responsabilidade da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), do Governo do Estado, não do Judiciário.
Os juízes atuam com independência funcional em cumprimento da lei. A magistratura continuará dedicada ao trabalho sério e de alta qualidade, que fortalece o Poder Judiciário, pilar do Estado Democrático de Direito”, defendeu a Amaerj.

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