Crise fecha Vila Maria
Jhonattan Reis 19/04/2017 18:00 - Atualizado em 22/04/2017 13:31
Paulo Pinheiro
Vila Maria /Paulo Pinheiro
A administração da Casa de Cultura Villa Maria — símbolo da universidade do Norte Fluminense muito antes da implantação da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf), em 1991 — programava uma festa de samba nos jardins do prédio para o próximo dia 29, com a intenção de arrecadar fundos para a manutenção do espaço. Porém, não deu tempo. A Villa Maria foi fechada nessa terça-feira (18). O solar da rua Baronesa da Lagoa Dourada está sem luz e sem internet e não tem previsão de reabertura, como foi apontado na coluna Ponto Final da edição dessa quarta-feira (19) da Folha da Manhã. O motivo: uma dívida de mais de R$ 50 milhões que a Uenf enfrenta desde o ano passado por conta da falta de repasse do Governo do Estado.
O professor e escritor Aristides Soffiati descreveu o ocorrido com a Villa Maria como algo lamentável.
— É uma coisa espantosa o que está acontecendo. A Villa Maria, de fato, era um alicerce muito forte da Uenf. Nenhuma universidade em Campos tem uma casa de cultura. Espero tudo volte à normalidade. A cidade perde muito — disse Soffiati, acrescentando:
— Acredito que o poder público deveria normalizar a situação, restabelecer o funcionamento normal da instituição. Porém, seria necessário que a universidade toda voltasse a funcionar, sendo que vivemos este momento de crise muito intenso, e, claro, que parte disso foi provocada por esses escândalos todos que a gente vê.
Aristides Soffiati comparou, ainda, os tempos de início da Uenf com a situação atual.
— Eu assisti a construção da Uenf e agora estou vendo a demolição dela, sendo não uma demolição física, mas da instituição. Nos resta esperar que a situação normalize, porque é algo muito triste.
O pesquisador Marcelo Sampaio também lamentou. Ele acredita que os agentes culturais da cidade precisam se movimentar em busca de mudar a situação.
— Para Campos, que é uma cidade tão necessitada de espaços culturais, essa situação é algo muito triste. É quase que uma crônica de uma morte anunciada. Estive lá (Villa Maria), inclusive, para assistir a defesa de uma dissertação de mestrado e a casa de cultura já estava com mato alto, já não tinha mais vigilantes, sendo que os próprios professores estavam abrindo e fechando os cadeados. Essa situação precisa ser a gota d’água para tomarmos uma posição e todos, principalmente, as pessoas ligadas à cultura, fazermos um movimento para não permitir que a Villa Maria seja mais um espaço cultural da cidade fechado.
A Folha tentou, por várias vezes, contato com a diretora da Villa Maria, a professora Simone Teixeira, sem êxito até o fechamento desta edição.
Símbolo campista
A história da Villa Maria se confunde com a de Campos, como também lembrou o Ponto Final. O solar foi construído em 1919, pelo arquiteto italiano José Benevento, como um presente do usineiro e engenheiro Atilano Chrysóstomo de Oliveira à sua esposa, D. Maria Queiroz de Oliveira.
Conhecida como Dona Finazinha, por ter nascido no Dia de Finados, e por seu interesse na promoção de atividades culturais, Maria morreu em 1970. Ela deixou o prédio em testamento para que viesse a funcionar como sede da futura universidade no Norte Fluminense.
Porém, a Villa Maria ficou abandonada com a morte de Finazinha, e só seria reformada em 1979, no governo municipal do arquiteto Raul Linhares, passando a ser a sede da Prefeitura de Campos também nas gestões seguintes de Wilson Paes, Zezé Barbosa e Anthony Garotinho.
Após a instalação da Uenf, num projeto pessoal do antropólogo Darcy Ribeiro — concebido no governo estadual Leonel Brizola —, a Villa Maria passou a abrigar a Casa de Cultura da universidade, em 1993.

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