Fera ferida
18/04/2017 09:35
Folha da Manhã, Campos dos Goytacazes, 18 de abril de 2017
(QUATRO MATEUSINHOS)
A bela e a fera
Fera ferida
Edgar Vianna de Andrade
 
Não faz muito tempo, pesquisas concluíram que a história da bela e da fera é uma das mais antigas do mundo. Ela teria sido criada pelas tradições populares. Faz sentido. Uma moça bela que se apaixona por uma fera sem saber que, outrora, ela foi um lindo e rico príncipe. O componente da história tem alta voltagem erótica, como outras histórias populares. Mas todas elas foram domesticadas por razões morais pouco antes e durante o movimento romântico.
Gabrielle-Suzanne Barbot e Jeanne-Marie le Prince de Beaumnot incumbiram-se de domesticá-la e deixá-la para o estúdio da Disney/Buena Vista, que colocou à disposição de Bill Condon, seu diretor, todos seus recursos técnicos e financeiros para realizar uma superprodução que superasse a animação de mesmo título e mesmo estúdio lançada em 1991.
Creio que Emma Watson não foi a melhor escolha para representar a Bela. Ela não tem perfil para tanto. É baixa, magra e tem rostinho de buldogue. É bem verdade que a Bela não é uma princesa de sangue. Começou como filha de mercador e se transformou em filha de nobre no século XVIII. Na animação e no filme, volta a ser uma moça pobre, bela, intelectual, sonhadora e filha de um inventor considerado maluco. Gaston (Luke Evans), um homem rude, é apaixonado por ela e se considera irresistível por ser forte e másculo. Bela o recusa. Tanto o pai quanto a filha acabam no estranho palácio habitado por um animal amaldiçoado, desempenhado por Dan Stevens.
A fera da animação em estilo tradicional é mais coerente. Todo seu corpo caracteriza um carnívoro. No filme, ela é um carnívoro com chifres de herbívoro. Mas na fantasia cabe tudo. No desenho, Lumière é um candelabro francês galante e conquistador que não poupa nem mulher casada. No filme, o roteiro foi mantido, mas o conquistador foi substituído por um homossexual bajulador de Gaston. Trata-se de LeFou (Jash Gad), também bajulador no desenho, mas não gay.
O filme escala ainda Kevin Kline, Ewan McGregor, Emma Thompson e Audra McDonald. O roteiro de Evan Spiliotopoulos e Stepehn Chbosky é prudente. Quase não destoa do desenho. Idem para a trilha sonora. Em time que está vencendo, não se mexe. A produção rivaliza com a animação. Muita riqueza, muito luxo e muita alegria. A Bela do conto está entre as princesas da primeira geração e as da terceira. As da primeira representam a mulher que era criada para o casamento, que vivia em função de um homem, sempre desejado como príncipe. As da terceira, não procuram por homens que possam amar. A geração intermediária não está atrás de casamento, mas não está fechada para o amor.

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    Aristides Soffiati

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