O ex-governador Anthony Garotinho (PR) voltou a usar o seu blog para tentar “separar o joio do trigo” na delação da Odebrecht, se é que isso é possível, quando se trata de ilegalidade, seja ela qual for. Como sempre atacou ex-aliados de longas datas para se defender, mas sem explicar detalhes da sua relação com a empreiteira, que atuou em Campos, sua terra natal, na gestão da esposa dele, Rosinha Garotinho (PR), em um contrato estimado em R$ 1 bilhão.
No mínimo imoral
O marido da ex-prefeita de Campos diz que as doações de campanhas foram legais, ignorando a parte das declarações dos executivos da Odebrecht em que afirmam que ajudaram a campanha à Prefeitura de Campos de Rosinha, em 2008, com interesses futuros, pois a empresa sabia que poderia contar com apoio daqueles que ela investiu na eleição. O contrato para o Morar Feliz até pode ter sido legal, como o próprio Garotinho garante, mas é no mínimo imoral.
CPI da Lava Jato
A Câmara de Campos fará uma análise mais detalhada desse contrato, na sua própria CPI da Lava Jato, e aí saberemos se realmente foi tudo como deveria ter sido. Talvez no Legislativo de Campos, que vai convocar os delatores Leandro Andrade de Azevedo e Benedicto Barbosa da Silva Júnior, venha a explicação para uma revelação que esta coluna fez ainda em 29 de maio de 2009, que a Odebrecht venceria a primeira licitação do “Morar Feliz”, o que se confirmou em Diário Oficial (DO) em 23 de setembro do mesmo ano.
Cadê o dinheiro?
Muitas respostas que não foram dadas nos últimos oito anos são esperadas agora. Garotinho mesmo já poderia ter dado, por exemplo, a resposta sobre para onde foi o dinheiro doado pela empreiteira às campanhas de Rosinha a prefeita, em 2008 e 2012, as dele a deputado federal, em 2010, e a governador em 2014. Se o repasse foi legal, por que não consta nas prestações de contas feitas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE)? Exige documentos, sem revelar os seus. Caixa 2 também é crime e está previsto no art. 350 do Código Eleitoral, com pena de 5 anos de prisão.
Mais do que constrangedor
O presidente Michel Temer deu no último sábado sua primeira entrevista na TV após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, relator da Lava Jato, ter autorizado a abertura de inquéritos para investigar o suposto envolvimento de políticos no esquema de pagamento de propina Odebrecht: “É uma coisa desagradável para quem está na vida pública há tanto tempo. (...) É muito desagradável ouvir aquele depoimento. É constrangedor”. Ao presidente, diríamos que é mais do que constrangedor e a Justiça dirá o que é crime.
Ministros ficam?
Questionado sobre a possibilidade de afastar algum dos oito ministros de seu governo que passaram a ser alvo de inquérito no STF, após terem sido citados por delatores da empreiteira Odebrecht como envolvidos em esquemas ilícitos, Temer respondeu que “pode acontecer que o próprio ministro se sinta desconfortável e queira sair”. Ele voltou a afirmar que somente afastará ministros por iniciativa própria se a Procuradoria Geral da República (PGR) apresentar denúncia.
Setor de propina
O ex-diretor do setor de operações estruturadas da Odebrecht Hilberto Mascarenhas disse, em delação premiada, que a área criada dentro da empreiteira para fazer o pagamento de propinas movimentou mais de R$ 10,6 bilhões entre os anos de 2006 e 2014. O ex-executivo disse que alertou ao então presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, sobre os valores pagos em propina, que, segundo ele, estavam muito altos aos vários políticos.