Pedro Simon se aposenta e avisa: "Não esperem nada do Congresso"
Alexandre Bastos 15/06/2014 17:05

Prestes a completar 85 anos, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) esperneou, relutou, tergiversou, mas acabou cedendo e anunciou sua aposentadoria após 65 anos de política e quatro mandatos consecutivos no Senado. Em Porto Alegre, ele recebeu a equipe de reportagem do jornal "O Globo" e fez uma análise crítica da política brasileira, com ênfase na fragilidade dos partidos e na prevalência dos interesses pessoais no Congresso, por onde transitou com desenvoltura nos últimos 32 anos.

Sobre a presidente Dilma Rousseff, Simon foi taxativo: "se entregou ao 'toma lá dá cá' quando começou a perder popularidade e viu o projeto da reeleição ficar ameaçado". Depois de quatro mandatos consecutivos no Senado, o que o senhor pensa do Congresso?

Eu tenho dito ao povo, da tribuna do Senado, que não espere nada do Congresso. As iniciativas têm que vir do povo. Veja bem: a maior vitória em termos de reforma política desde a democratização de 1985, ao meu ver, foi a Lei da Ficha Limpa (em 2010), que se deveu a uma iniciativa popular. O Congresso não queria aprovar; isso era evidente. Um dia antes da votação no Senado, mais de 20 parlamentares foram à tribuna falar contra a proposta. Diziam que era um absurdo, que não tinha cabimento, essas coisas. No outro dia, um mar de gente foi para a frente do Congresso e colocou cruzes no gramado dizendo que iriam encher o Brasil de cartazes com os nomes de quem votasse contra a proposta. A lei foi aprovada por unanimidade no dia seguinte. A maior conquista em quase 30 anos de democracia não foi do Congresso, mas uma proposta de emenda popular.

O foco do governo na reforma política é o financiamento de campanha. Não é mais importante?

As campanhas brasileiras são, de fato, um escândalo; o dinheiro rola das maneiras mais criativas. O PT sempre foi contra o exagero de dinheiro nas campanhas, mas hoje se mostra a favor. O que não é de estranhar, porque os números mostram que quem dá dinheiro para campanha é empreiteira e banco, setores tradicionalmente mais ligados ao governo. E, nas últimas eleições, 70%, 80% deste dinheiro de doações foram para o PT. Eu defendo o financiamento público, mas com cuidado. Hoje, por exemplo, um candidato que não tem mandato enfrenta os atuais parlamentares, deputado ou senador, em enorme desvantagem. O poderio da máquina é muito grande, tem as emendas parlamentares, tem os funcionários do gabinete, verba disso, verba daquilo. Então, quem decide as eleições já é esse dinheiro público, que vem de tudo que é jeito. Quando falo em limitação de partidos não quero dizer que tenha que ter uma lei proibindo de criar, mas determinando exigências para que funcione. A principal delas é voto, claro. E depois a fidelidade partidária.

A entrevista completa pode ser lida aqui 

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    Sobre o autor

    Alexandre Bastos

    [email protected]

    BLOGS - MAIS LIDAS