Hoje na Curva: Um adeus à infância
Suzy 14/03/2013 01:20
    Um adeus à infância   Muito do que sou devo a minha infância. Sem dinheiro, com muito sacrifício, nunca senti falta de nada. Sem dúvidas era porque tinha tudo o que realmente precisava: uma família feliz, uma mãe capaz de rir – e nos fazer rir – dos infortúnios, uma vida plena de sentimentos que supriam qualquer falta material. Aquele tempo foi capaz de me sensibilizar e formar uma “almofada” acolchoada de lembranças, onde, até hoje, posso colocar a cabeça quando fico triste, desanimada ou decepcionada com alguém. Tenho sempre o calor de ontem para aquecer eventuais frios do hoje. Tenho um carinho todo especial pela parte de minha infância vivida entre a chácara de vovó Zizi, a estação, onde morava Tio Paulo, logo em frente e os verões em Atafona, entre a casa de vovó, de Titéia e Tia Neusa. Amava me sentir parte de uma grande família, cheia de brincadeiras e risadas, onde muito aprendi. Na chácara, descobri o sabor de quase todas as frutas. Era ali, só estender a mão. Uma profusão de cores e sabores infinitos, cercadas por mistérios do casarão e daquele terreno que, para uma criança, parecia não ter fim. Na estação aprendi a andar de bicicleta. Lembro, como se fosse hoje, o medo, a excitação, as cores... Se fechar os olhos posso ouvir os sons dos pássaros, a risadas das crianças, Soraya brigando e mamãe cheia de receio que eu caísse. “Se cair, levanta”, dizia, para virar o rosto aflita. Acho que o sentimento é igual para todas nós que dividimos aquele tempo. Fomos felizes e isso nos sustenta nesse tempo em que a felicidade parece ser só pose, fotos de uma página de rede social. Essa semana, mais um pouco de minha infância se foi junto com tia Stella, ou Titéia, como a chamávamos. Tia Stella era uma pessoa como poucas, faleceu aos 101 anos, absolutamente lúcida e linda. Sempre foi de um carinho, um acolhimento, uma ternura...  Sua vida valeu a pena por todo amor que semeou. Sua despedida, cercada dos filhos, netos, bisnetos, enfim, da família de sangue e da de coração, num domingo de sol, em que as nuvens insistiam em cobrir às vezes, mostrando que, se o céu estava feliz, nossa terra estava bem mais triste.  

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    Suzy Monteiro

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