Sinais do tempo   Ele chegou faz tempo, confesso. Mas entre tintas e tratamentos, foi ficando esquecido lá atrás. O primeiro fio de cabelo branco a gente nunca esquece, mas pode deixar lá no cantinho para saca-lo quando for inevitável. Inevitável... inevitável esquecê-lo quando ele aparece na frente, dando a impressão que, mais cedo ou mais tarde, uma alma oculta será revelada e você se tornará Odete Roitman ou Cruella De Mon. Aí não tem jeito e não há mais como ignorar os sinais do tempo. Tudo bem que se quiser prolongar o jogo no primeiro tempo pode dizer que é preocupação, estresse, porém pode ficar calmo como for, o cabelo não volta à cor original. Junto com os cabelos brancos, há outro sinal que a vida passa (que pena!). Olhe as crianças, as suas e as dos outros. Um dia você acorda, pode relatar com detalhes tudo que sentiu no parto ou na gravidez. Mas a pessoa com quem fala já abandonou as tranças faz tempo. Não quer mais saber de bonecas ou brincar de casinha. Em pouco tempo, quem sabe, terá sua própria casa onde construirá suas lembranças. As crianças crescem e são o atestado que o tempo não para. Elas vão seguindo suas vidas, trilhando seus caminhos, saindo dos nossos, pisando com seus próprios pés. Sem a gente perceber, as vozes que balbuciavam, agora fazem longos discursos, enfrentam suas batalhas, nos enchem de medo e orgulho. Cabelos brancos, crianças crescidas, novas gerações chegando. Qual seria o segundo tempo desse jogo da vida? Talvez colher o que plantou. Talvez continuar o jogo, sem expectativa de vitória, mas acreditando nela. Vencer na vida é conquistar o que sonhou, o que acredita. Pode ser uma vida estável. Pode ser uma milionária. Pode ser colocar a cabeça no travesseiro e poder dormir tranquilamente sabendo que não tem nada disso, mas está em paz. Pode ser olhar para filhos e netos e saber que seu futuro, bom ou ruim, está ali. E até vê-los felizes e escrevendo suas histórias é um sinal do tempo.