“Naquela mesa ele sentava sempre E me dizia sempre o que é viver melhor Naquela mesa ele contava histórias Que hoje na memória eu guardo e sei de cor Naquela mesa ele juntava gente E contava contente o que fez de manhã E nos seus olhos era tanto brilho... Naquela mesa tá faltando ele” (Nelson Gonçalves) Eu tinha 10 anos quando meu pai morreu. E apesar de ser um daqueles períodos da vida em que não se vê luz no fim do túnel, enfrentamos bem todas as perdas antecedentes e consequentes porque tínhamos, minha irmã e eu, nossa mãe. E ela era o tipo de pessoa que sempre sorria, até nas adversidades. Via um lado bom em tudo. Na verdade, só me senti órfã mesmo quando mamãe morreu, sete anos atrás. Apesar de ser uma mulher adulta, e também mãe, não tinha mais meu esteio, meu freio e meu incentivo. Hoje, com licença dos filhos, me sinto meio órfã com a morte de seu Aluysio e acho que esse sentimento é da redação da Folha. Entrar e não o ver ali, digitando seu artigo ou o Ponto Final é, no mínimo, estranho e muito doloroso. Nos meus 13 anos de Folha, ele sempre foi referencial, como realizador, repórter e um pouco pai. Como realizador, dispensa comentários. Querer e fazer é para poucos e ele quis e fez. Com luta, com dedicação e com a companhia de dona Diva fez e aconteceu não só na imprensa campista, mas na história da cidade e da região. Como repórter, Seu Aluysio tinha uma das imprescindíveis qualidades: o dom de ouvir o outro, mas ouvir mesmo, com interesse pelo que dizia. E não se acomodava, nunca. E não estou falando lá do começo da carreira, de quando ouvimos relatos. Falo do que eu vivi e vi. Na ocasião do acidente ambiental em Cataguases, estava conversando com Joseli Matias, então chefe de Redação, sobre ir ou não aos municípios vizinhos saber como estava a situação. Se Aluysio perguntou do que se tratava, falou que tinha que ir, perguntou pelos motoristas – não tinha nenhum naquele momento. Nem hesitou: “Pega suas coisas, minha filha e chama o fotografo. Vou levar vocês”. E não adiantou tentar demovê-lo da ideia para esperar um motorista: “Notícia não espera”. Fomos. Na primeira cidade, o prefeito não queria falar, pois estava correndo para encontrar a governadora em Santo Antônio de Pádua. Nunca vou esquecer a expressão dele quando viu Seu Aluysio no corredor. Parou tudo e foi atendê-lo. Seguimos para Pádua. Bom, com muito orgulho, na edição do dia seguinte, a matéria saiu assinada por nós dois. Ah, Cataguases já tem muitos anos? Há uns três ou quatro anos, ele e seu companheiro de estrada, Leonardo, saíram pela região fazendo matérias – ele escrevendo e Seu Leo fotografando. Ah, faz tempo? Seu último artigo foi escrito há menos de dois meses, quando já travava a batalha contra o câncer. Como “pai”, são incontáveis passagens, muitos puxões de orelha, muitas histórias contadas no nos corredores do jornal, muitos conselhos. Muito carinho. Uma passagem ficou guardada pra sempre. Quando minha própria mãe, Maria Helena, estava doente, pouco antes de falecer, Seu Aluysio foi a minha casa visitá-la. E, quem já passou por isso sabe que um abraço, em certas horas, é o melhor remédio. Também nunca vou esquecer suas longas conversas com minha outra Ellena, o carinho com ela. Quando saí do jornal, em 2010, ele me chamou para uma conversa. Ao final, deu um tapinha na minha mão e disse: “Vá, mas volte”. Voltei. Nesse meio tempo, sempre que ia visitar a Folha, o primeiro beijo na Redação era dele, sentado à mesa, escrevendo ou lendo. Invariavelmente íamos conversar, ele dizia que onde eu estava não era para mim: “Esse trabalho não aparece”. Ao voltar, nos encontramos na rua e ele me disse um “bem vinda” tão caloroso que quase chorei.Por muito tempo, ou sempre, será difícil olhar para aquela mesa e não vê-lo. Mas, a Redação é o coração do jornal e aquela mesa o coração da Redação, que continuará pulsando, com risadas e histórias, através das próximas gerações, até mesmo quando nós não estivermos mais aqui.