Trio Elétrico: Diversão ou Algazarra?
Alexandre Bastos 16/01/2012 17:01

trio

Recebi um e-mail da Carla Giovanna, leitora do blog, que protesta contra a “política dos trios”. Em seu relato ela diz que o “Verão da Família”, na praia do Farol de São Thomé, conta com um espetáculo de desrespeito. É lógico que a prefeita Rosinha Garotinho (PR) não pode acabar do dia para a noite com os trios elétricos e fiscalizar todos os carros de som que circulam  pela praia. Porém, creio que o governo municipal poderia coibir uma série de abusos. Inclusive, no início do ano passado, conforme informei aqui, a Prefeitura de Campos prometeu verificar a altura do som, bem como as músicas com conteúdos impróprios.

Vale lembrar que casos semelhantes também ocorrem em outras praias da região. Em São João da Barra, que contou com dois graves incidentes no último final de semana, também existem os veranistas abusados.  No ano passado, quem desabafou sobre o assunto foi a jornalista Júlia Maria de Assis (aqui).

Abaixo, publico o e-mail enviado pela Carla Giovanna:

"Escolhi seu blog porque acompanho o andamento político da cidade por ele. Percebo idoneidade e responsabilidade nas suas colocações.

A questão que irei suscitar parece, a priori, uma grande bobagem. Mas o interessante dela é o pano de fundo: a política. Não é de hoje que estamos acostumados a passar vergonha com essa política da nossa cidade, o que não foge muito a regra da política como um todo no Brasil. Sou uma cidadã revoltada com o rumo das coisas da nossa cidade por conta da ausência de vontade política. Tudo gira em torno disso.

Eu procuro fazer pesquisas, procuro acompanhar a vida política de nossa cidade e leio seu blog, entre outros, com esse propósito. Sou campista, gosto da minha cidade e como não poderia deixar de ser, sempre veraneei no Farol. Só que de alguns anos para cá ... têm sido uma verdadeira tristeza chegar lá e encontrar aquele cenário de algazarra total. Eu adorava os shows na Aldeia do Sol porque podíamos ir em família, levávamos cadeira de praia e curtíamos os shows com nossos pais. O trio elétrico acabou com isso.

O trio elétrico, há muito tempo, deixou de ser motivo de diversão e se transformou num arrastador de embriagados, cuja motivação não é diversão, é só encher a cara mesmo. A gente tem até medo de chegar perto, dirá seguir. A ideia política por trás disso é fantástica. Agradar o povão fazendo-os acreditar que aquilo é "uma boa obra". E o pior é que essa gente acredita nisso. Prova disso são as passagens a R$ 1,00 e a felicidade deles em poder ter um "lazer".

Não sou separatista, pelo contrário, sempre achei um erro elitizarmos o lazer. Entretanto, não poso concordar com a forma como as coisas estão sendo conduzidas a troco de arrecadação de votos. É revoltante vermos a política sobrepujar a legalidade. Como? Fora a circulação livre de motoristas embriagados, somos submetidos ininterruptamente a SONS ALTÍSSIMOS provenientes de vizinhos (no geral locatários seduzidos pela algazarra) e carros tunados (circulando a qualquer hora do dia, noite e até de madrugada). As músicas nem sempre são de qualidade, aliás, na maioria das vezes são aqueles funks horrorosos com apelo sexual.

É um desrespeito a toda prova e NINGUÉM faz absolutamente nada. Não sou leiga, conheço meus direitos e sei que não sou obrigada a ser submetida a isso. O próprio Código de Postura da Cidade tão anunciado pela alteração de alguns artigos com a Lei 8.243/11, diz no seu artigo 72 "É exprfessamente proibido: II - perturbar o sossego público, com ruídos e sons excessivos, não se permitindo: b) uso de buzinas, clarins, tímpanos, campainhas, ou outros aparelhos de som, além de excessivo, estridente". Pois muito bem, o Código de postura não diz nada que é preciso medir decibéis, basta que o som seja a toda evidência excessivo a qualquer inteligência, ainda que mediana.

Tenho problemas constantes com a vizinhança, porque, infelizmente a proprietária do imóvel ao lado tem o dedo podre para inquilinos. Ano passado só conseguimos ficar no Farol até o dia 15 de janeiro porque era impossível dormir ou tolerar aquela gente. Esse ano cometemos o erro de tentar novamente na esperança de que isso não ocorreria. Entretanto, fomos premiados.

Fui conversar pessoalmente com um sargento da PM e não fiquei surpresa com o relato dele. "Senhora, infelizmente isso é um problema que nós estamos cientes ser necessário coibir, mas ... a questão aqui no Farol é política.". E isso não ouvi só de policiais, ouvi também de Guardas Municipais. Pior do que isso foi ter ligado para o número dos fiscais do código de postura e ter ouvido de um funcionário obviamente despreparado que "no Farol é assim mesmo". Pelos guardas municipais fui informada que existem fiscais específicos para o Código de Postura. Liguei para a Central do Código de Postura e fui informada que todos os fiscais estavam no Farol e eu deveria procurá-los no meio do trio. Só pude dar risada. Pedi o telefone ou e-mail do Major Franciso Balbi e o funcionário disse que não podia me dar, eu teria que ir ao gabinete dele. Até posso fazer isso, mas quero que as pessoas reconheçam o abuso e coloquem o assunto em voga.

Isso é REVOLTANTE. Quer dizer que para os políticos conseguirem seus sonhados votinhos com os politicamente desinformados, os demais cidadãos devem sucumbir à desordem? O senhor não acha isso um absurdo? O senhor acha razoável estar na sua própria casa sem conseguir ouvir sua própria voz, embalado por músicas com xingamentos ou com apelo sexual de vizinhos embriagados ou carros tunados?

Tenho crianças e pessoas de idade em casa. Sou obrigada a ligar para a PM e nem sempre eles aparecem porque falta contingente ou porque falta vontade mesmo. E onde está o tão anunciado “verão da família”? Que família? Só se for de alguma família de espíritos de porcos.

O senhor não tem noção do que é ficar o dia, a noite e até a madrugada sem conseguir dormir por causa de gente desse tipo. São, no geral, pessoas de nível cultural baixíssimo, que não sabem conversar, muito menos entender sobre respeito mútuo. Sei que estou legalmente respaldada para exigir do poder público alguma atitude com relação a isso. Sei que em algumas cidades de veraneio a fiscalização é ostensiva e COIBE esse tipo de prática dos cidadãos desorientados. Mas isso não acontece no Farol.

É um desespero. Como fui diversas vezes informada que não se trata de legalidade, trata-se de vontade política, estou procurando alguma forma de ser ouvida, de colocar isso em pauta, de mostrar à população que não podemos nos calar. As pessoas podem continuar se divertindo com o maldito trio elétrico, o que elas não podem é estender essa “diversão” abusivamente.

Sei que não resolverei esse problema da noite para o dia, mas se o poder público, através de ações ostensivas, começar a mostrar os limites, as coisas seguirão o rumo natural.

Agradeço sua atenção Alexandre.

Obrigada, Carla Giovana".

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