Navegando em amores
Suzy 12/02/2011 13:36
 Quantos amores o coração é capaz de abrigar? Um único a vida inteira? Com certeza não. Algumas pessoas conseguem acertar logo na primeira tentativa e, encontrando o amor, ficam com ele o resto de suas vidas. Mas isso é cada vez mais raro. O príncipe encantado — aquele que chega montado em um cavalo branco, mais pronto para nos tirar de enrascadas e pobreza do que arrebatar nossa existência — já deixou de existir faz muito tempo.      O príncipe de hoje já não encanta. Tem que conquistar. E todas as mulheres sabem que, de uma maneira ou de outra, ele tem seu lado sapo. Exposto ou oculto. Ou, pelo menos, as mocinhas descobrem desde cedo que ele vem com um passado e, vez por outra,  um presente que não é o sonho de ninguém.      Talvez seja essa percepção da falha e a sabedoria de que o príncipe é  um ser humano e não uma entidade enviada pela fada do amor e felicidade eternos, junto com nossas próprias falhas (quem de nós uma hora já não abandonou o lado princesa-indefesa-sofredora?) que ousamos experimentar cada vez mais. Não nos contentamos mais com o mediado. O meio amor, a meia paixão, o meio viver. Estamos buscando sempre mais. E aí não quer dizer que ele tem que ser o mais poderoso, rico, bonito, dominante. Porque se fosse assim, iríamos querer o rei das selvas. Não o Tarzan, mas o próprio leão, implacável com suas vitimas.      Buscamos não o homem ideal. Mas aquele que saiba nos satisfazer, quando necessário, e nos amar sempre. O homem que abraça no depois, nos cubra de beijos e chamegos, sem que isso signifique: “quero sexo”. Que esteja preocupado com seu prazer de viver, de cantar, de caminhar, mesmo sem destino certo.      Um homem que saiba rir de bobagens e pedir um conselho quando se sentir inseguro. Um homem que, em meio ao burburinho do cotidiano, pare um segundo apenas para nos olhar. Que, numa madrugada errante, te mande um “oi” no celular, só para você saber que é lembrada.      Um homem que fale de suas razões, sem querer impô-las, que ouça nossos argumentos, mesmo após a milésima discussão sobre a relação. Que fale sobre tudo: crianças, política, economia, futebol, culinária e aromas. Mas que também curta o silêncio e saiba reconhecer no nosso os sinais de perigo.      Não  é tão difícil quanto parece aos desavisados. O amor, na verdade, é construído aos poucos. Ultrapassando barreiras, superando obstáculos. Porque nada é perfeito e ninguém vem pronto. Nem para conviver consigo mesmo, quanto mais com o outro. Por isso, vamos buscando. Experimentando. Porque não nos satisfazemos mais com pouca coisa. Lutamos demais para nos contentarmos com pouca coisa. Vamos navegando, mar afora, até encontrar o porto em que iremos atracar. Se não acontecer, nada de lamentar. É só lembrar Fernando Pessoa: “Navegar é preciso. Viver não é preciso”.

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    Suzy Monteiro

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