De todas as idéias mais descabidas que já passaram por Campos nos últimos tempos, sem dúvida a mais sem propósito seja a da reativação da carceragem da 134ª DP. Afinal, em apenas uma década (ou um pouco menos) não é possível que as autoridades tenham esquecido do inferno que se vivia ali. Ao lado da carceragem estava o IML. Atrás, o Colégio Eucarístico. De algumas salas de aula era possível ver os corpos e sentir a tensão frequente dos presos amontoados naquele espaço. Uma menina conhecida minha foi transferida pela mãe para outra escola no meio do ano e precisou fazer tratamento psicológico depois de algumas situações vistas ali. Repórter quase de primeira viagem, cheguei a acompanhar duas rebeliões no local. Ruas interditadas, presos dominando a área, colégio fechado. Moradores vizinhos apavorados. E antes que alguém venha dizer que se trata de uma visão elitista, por ser uma área central, aviso: não é. Acompanhei muitas visitas da Comissão de Diretos Humanos da OAB e da Defensoria Pública, que constatavam as péssimas condições - na época - do local, a situação sub-humana dos detentos, a superlotação. Dizer que lá funcionará para "presos de menor potencial ofensivo" é balela. Quem duvida que, em pouco tempo, não estará lotado novamente, quando houver uma briga na Casa de Custódia, um não será removido "por pouco tempo", presos de outros municípios não acabarão "esquecidos" pelo sistema no local. Além do mais, quem preso, seja de maior ou menor potencial, não pensa em fugir? Separar presos considerados mais perigosos dos demais é uma ótima iniciativa. Com certeza, nas áreas próximas à Casa de Custódia há espaço suficiente para construir uma carceragem de semi-aberto. Aliás, carceragem em qualquer delegacia é sinônimo de retrocesso e convite a problemas. E se algum grupo resolver resgatar um detento? O IML e a carceragem da 134 não saíram dali por bondade governamental, mas sim por pressão da comunidade que, com certeza, não esqueceu daquele horror.