Um Iluminismo otimista - Voltaire, Rousseau e Steven Pinker
Iluminismo
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Mesmo para os mais otimistas, o mundo não parece atravessar um de suas melhores fases. Conflitos em diversos países, governos que flertam com o autoritarismo, tensões nucleares, blocos econômicos sendo contestados como no caso do Brexit, que envolve a saída do Reino Unido da União Européia. No Brasil, o governo Bolsonaro pertence ao grupo de governantes de uma “nova direita” que chegaram ao poder na Itália, Hungria, Polônia, Filipinas, Turquia e Estados Unidos. Governos que promovem polarização e ganham visibilidade através do conflito. A democracia testa sua elasticidade e resistência.
No romance de 1759, Cândido, de autoria de um dos filósofos iluministas Voltaire, uma personagem apresenta o mundo como perfeito e todos os fatos e coisas sendo explicáveis pela lógica causal. A personagem, Dr. Pangloss, seria um otimista inveterado. O mundo estaria como deveria estar e o futuro será o melhor possível. Voltaire, porém, através de Pangaloss e apoiado em Rousseau, outro filósofo do Iluminismo, após toda a explicação causal da história dada por Pangloss, responde através de Cândido, personagem que dá nome ao livro: “tudo isto está muito bem dito, mas devemos cultivar nosso jardim”.
O Iluminismo, movimento cultural, intelectual e filosófico europeu, iniciado nos séculos XVII e XVIII, ficou conhecido como uma defesa da razão, da liberdade e contra o absolutismo. Steven Pinker, pesador contemporâneo, psicólogo e professor de Harvard, acredita que um novo Iluminismo estaria por vir. Em seu livro “O novo Iluminismo. Em defesa da razão, da ciência e do humanismo”, Pinker cita que a “expectativa de vida em todo o mundo aumentou de trinta para 71 anos e, nos países mais afortunados, para 81” e que “a ciência nunca será adequada para abordar as grandes questões existenciais da vida, da morte, do amor, da solidão, da perda, da honra, da justiça cósmica e da esperança metafísica”. Mas alerta, 25 páginas após: “a atração das ideias reacionárias é perene, e é preciso fazer sempre a defesa da razão, da ciência, do humanismo e do progresso”.
Pinker declarou que “os populistas estão do lado sombrio da história”. O populismos, seja de direita ou de esquerda, oferece as respostas fáceis e rápidas à problemas complexos. Alicerçado por líderes personalistas e carismáticos, visto nos atuais governos direitistas ou no caudilhismo latino americano ligado à esquerda.
Não precisa ser um otimista incorrigível como Dr. Pangloss ou um confiante psicólogo de Harvard que acredita no novo Iluminismo, para que se tenha esperança. Esperança ativa. Pois para um pessimista, basta que aconteça o pior, que dê errado, que nada funcione para que ele diga “eu avisei”. Embora o mundo não atravesse uma de suas melhores fases, é preciso crer no conhecimento, na razão e na liberdade. Mas nunca se esquecendo de cultivar nossos jardins.

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    Sobre o autor

    Edmundo Siqueira

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