André Ceciliano: "Não tenho que consultá-la"
Aldir Sales 21/01/2020 20:47 - Atualizado em 19/02/2020 16:41
Odisséia Carvalho, André Ceciliano e RobertoDutra
Odisséia Carvalho, André Ceciliano e RobertoDutra / Folha da Manhã
A declaração do presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) André Ceciliano (PT) de caminhar com Rodrigo Bacellar (SD) e quem o deputado campista apoiar para a eleição municipal continua repercutindo dentro e fora do diretório do Partido dos Trabalhadores na planície goitacá. A presidente municipal da legenda e pré-candidata a prefeita Odisséia Carvalho disse que não foi informada sobre a decisão de Ceciliano e que levaria a questão para a reunião da Executiva estadual do partido, que aconteceria ontem à noite no Rio de Janeiro. Por outro lado, o presidente da Alerj afirmou que Odisséia não precisa consultá-lo sobre uma eventual candidatura: “Eu não tenho que consultá-la e nem ela tem que me consultar, temos o livre arbítrio. O PT é o PT e o André é o André. Tenho relação de confiança com Rodrigo e o PT tem o direito de ter seu candidato”. O sociólogo e professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), Roberto Dutra, também entrou na discussão e postou nas redes sociais que o PT “é um PP com grife”.
Depois dos tradicionais festejos de Santo Amaro, na Baixada Campista, na última quarta-feira, Ceciliano foi para o almoço promovido por Bacellar e que reuniu diversas autoridades locais e estaduais. Durante a confraternização, o presidente da Alerj reafirmou seu apoio a Rodrigo. No entanto, a declaração não caiu bem no diretório municipal do partido que tem dois pré-candidatos ao Executivo campista. Um deles, o petroleiro José Maria Rangel, afirmou na edição de ontem da Folha da Manhã que não foi procurado por Ceciliano e classificou a declaração como “infeliz”.
Já Odisséia disse que o diretório campista do PT terá candidatura própria e contará com o apoio da Executiva Estadual. “Não fui informada sobre isto (declaração de Ceciliano). Amanhã (ontem), teremos uma reunião da Executiva Estadual do PT a qual faço parte. Levarei este assunto para o conhecimento de todos e todas. Estatutariamente o PT apoia as candidaturas do partido. Somente no caso de alianças podemos apoiar candidaturas de outros partidos, conforme decisão partidária, o que não é o caso em Campos”.
Por outro lado, André Ceciliano falou que não precisa se reportar a Odisséia, mas que o diretório tem direito de ter candidatura própria.
— Quando falo do meu apoio ao Rodrigo é pela relação que construímos dentro do Parlamento. Tenho respeito pelo partido, que tem todo o direito de tomar suas decisões, e minha posição não influi na decisão do partido. Minha relação no plenário com Rodrigo é muito boa. O PT vai seguir sua vida própria, vai decidir se vai ter candidatura própria ou não. Eu não tenho que consultá-la e nem ela tem que me consultar, temos o livre arbítrio. O PT é o PT e o André é o André. Tenho relação de confiança com Rodrigo e o PT tem o direito de ter seu candidato. Não tem problema em levar à Executiva, não tenho que perguntar a ela e ela não tem que me perguntar — finalizou Ceciliano. 
Declaração causou reações na esquerda
Militante de esquerda, embora crítico ao lulopetismo e à pauta identitária, Roberto Dutra não poupou André Ceciliano e a organização interna do Partido dos Trabalhadores no Rio de Janeiro em postagem nas redes sociais.
— O PT do Estado do Rio de Janeiro é ridículo. É um PP de grife, como diz Gustavo Castañon. Qualquer deputado estadual se acha no direto de desancar diretórios municipais, como fazem com o diretório de Campos, historicamente reduzido a apêndice de Garotinho e Arnaldo Vianna. O napoleão da Lapa definiu muito bem a agremiação como “partido da boquinha”. Prova maior é o desprezo de Lula que usa as prefeituras que o PT governa, como Maricá, para empregar seus parentes. Depois de Brizola, o Rio de Janeiro nunca mais teve esquerda popular e decente. O elitismo colorido do Psol obviamente não é nem esquerda e nem popular. Precisamos de uma alternativa progressista!
Também professora e socióloga da Uenf, Luciane Soares é vice-presidente do diretório municipal do PT em Campos e foi outra a criticar as declarações do presidente da Alerj: “Acredito que neste momento de definições, é central para candidatura do PT em Campos a discussão das formas de participação. E a escolha do/da candidato (a) deve refletir um processo interno de democratização. Não há espaço para outra forma e, como publicado na matéria da Folha, é no mínimo curiosa a declaração de André Ceciliano. Mas é compreensível em um momento no qual muitos diálogos acontecem que estas declarações ocorram. A decisão sobre a candidatura do PT em Campos se dará em bases democráticas, respeitando as deliberações internas do partido”.
Além de José Maria Rangel, como mostrado na coluna Ponto Final de ontem, o secretário de Comunicação do diretório, Gilberto Gomes, disse que recebeu “com estranheza” o apoio de Ceciliano a Bacellar, enquanto Luciano D’Ângelo – ex-secretário nos governos Arnaldo Vianna e Carlos Alberto Campista e primeiro diretor da antiga Escola Técnica Federal de Campos – minimizou a polêmica: “Quem tem o poder de indicação de candidatos é o diretório municipal. É só uma manifestação pessoal do Ceciliano”.
 
 

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